Servidores da UEL paralisam e gritam por visibilidade: ‘Defasagem está corroendo e destruindo famílias‘
Professores e funcionários estariam sete anos sem pagamento da data-base com uma perda estimada de 42% em suas rendas
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 15 de março de 2023
Professores e funcionários estariam sete anos sem pagamento da data-base com uma perda estimada de 42% em suas rendas
Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA
Professores e funcionários da UEL (Universidade Estadual de Londrina) cruzaram os braços nesta quarta-feira (15) e aderiram à paralisação que pede a reposição inflacionária acumulada nos últimos sete anos. As lideranças sindicais estimam que as perdas salariais são da ordem de 42%.
Em Londrina, as aulas foram suspensas, mas o HC (Hospital das Clínicas), o HU (Hospital Universitário) e o HV (Hospital Veterinário) estão com atividades normais nesta quarta. O COU (Clínica Odontológica Universitária) atende apenas casos emergenciais.
A mobilização está ocorrendo em todas as universidades estaduais do Paraná. Há confirmação de paralisações na UEM (Universidade Estadual de Maringá) e na Unicentro (Unicentro Estadual do Centro-Oeste), por exemplo.
O servidor Daniel Hipólito Moreira Jr., técnico em informática, participou do movimento e avalia que a greve é resultado da não abertura para negociação da data-base nos últimos anos.
“A defasagem está corroendo e destruindo famílias aqui na universidade”, opinando que a falta de investimentos e a LGU (Lei Geral das Universidades) estão “destruindo o sistema universitário estadual”.
A professora Andréa Pires Rocha, do departamento de Serviço Social, destaca que a UEL parou nesta quarta-feira, o que reflete na boa adesão dos servidores públicos. “Nós docentes da base, a gente tem essa necessidade de somar nessa luta, entendendo que 42% de defasagem salarial é algo insustentável”, afirma. “A base, os servidores da UEL, é quem forma a universidade. Então, desmonte no nosso salário, é desmonte na universidade.”
Para a docente, a categoria não quer uma greve e entende que esse é um instrumento “de última instância” da classe trabalhadora. “A gente está negociando, está sentando [para negociar], mas se mesmo assim não tem resposta, a greve vai ser o nosso instrumento, que não é tranquilo, é complexo, mas a gente vai fazer”.
O presidente da Assuel (Sindicato dos Servidores Públicos Técnico-Administrativos da UEL), Marcelo Seabra, ressalta que essa recomposição salarial é o principal motivo da paralisação, e que foi entregue ao Governo do Estado um ofício solicitando a abertura de negociações. O documento apresentou, além do pagamento da data-base, a alteração do piso de contribuição dos aposentados com o Paraná Previdência, a valorização do SAS (Serviço de Assistência à Saúde) e a abertura de concursos públicos como demandas do movimento.
“A gente entende que é um primeiro momento, uma primeira sinalização no sentido de chamar o governo à responsabilidade, para que ele negocie com os servidores e apresente uma proposta. Caso ele se mantenha intransigente, aí sim outros protestos deverão ocorrer e, se até maio não ocorrer nenhuma proposta, provavelmente entraremos em greve”, diz.
Segundo Carlos Eduardo Caldarelli, diretor do Sindiprol/Aduel (Sindicato dos Professores do Ensino Superior Público Estadual de Londrina e Região), nos últimos anos houve um aumento no custo de vida, mas os salários não acompanharam essa elevação.
“O que a gente pede não é aumento de salário, é o direito assegurado na lei que é a data-base, que é a recomposição anual dos vencimentos pela inflação”, afirma Carlos Eduardo. “O Estado não está disposto a negociar e, de forma geral, não lançou nenhuma proposição, então hoje estamos paralisados.”
A docente Gisele Masson, do departamento de Educação, ressalta que, hoje, o funcionamento público recebe 42% a menos do que recebia há sete anos. Essa diminuição ocorre justamente porque não houve a recomposição da inflação anual.
“É um contexto de arrocho salarial, que não é possível mais esperar que o governo deixe mais um ano sem reposição da inflação. É um momento de paralisação para que a gente abra um espaço de diálogo e negociação, para que possamos repor essas perdas”, diz a professora, avaliando que a adesão foi “muito boa” no campus da UEL, chegando à casa dos 90%. “De fato, não há mais como esperar. O processo de empobrecimento da nossa categoria é muito grande, então a gente vê que a mobilização está muito forte.”
MANIFESTAÇÃO
A mobilização dos professores e funcionários da UEL começou cedo, às 7h. Foi feita panfletagem nos pontos de acesso ao campus - como na avenida Castelo Branco e na Reitoria/COU - e no HU. A entrega de panfletos continua à tarde.
Além disso, a manhã contou com um ato em defesa da data-base, que será repetido à tarde, às 14h30, no Anfiteatro do Cesa (Centro de Estudos Sociais Aplicados), e à noite, às 19h30. A última atividade da programação é a live “Reposição salarial e defesa das universidades públicas do Paraná”, com dirigentes dos sindicatos de docentes e técnicos da UEL.
SETI
Procurada pela FOLHA, a Seti (Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) afirmou que o “diálogo segue aberto”. “A Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior debateu nesta semana, com as lideranças, as pautas que envolvem as categorias dos sindicatos unificados que representam professores e funcionários e dos sindicatos de representação dos docentes. A questão da reposição salarial está sendo estudada entre as demais áreas do Estado, porque demanda avaliação orçamentária. O diálogo segue aberto.”