Brasília, DF - Servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio) anunciaram neste sábado (18) que entrarão em greve na próxima quinta-feira (23), a partir das 10h, em todas as unidades dos estados e no Distrito Federal. O objetivo, segundo a associação de servidores da fundação INA (Indigenistas Associados), será manifestar "profunda tristeza e indignação pelo assassinato bárbaro" do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, além de exigir a identificação e responsabilização de todos os culpados.

Os servidores também exigirão a saída imediata do presidente do órgão, Marcelo Augusto Xavier da Silva, segundo nota divulgada pela INA, em suas redes sociais. Para a associação, Xavier "vem promovendo uma gestão anti-indígena e anti-indigenista na instituição". "Por uma Funai indigenista e para os povos indígenas! Pela proteção das/os indigenistas, dos Povos Indígenas e de suas lideranças, organizações e territórios! Convidamos as/os parceiras/os indígenas, indigenistas e da sociedade em geral para o Ato Nacional de Greve da Funai!", diz o comunicado.

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Procurada na noite de sábado, por meio de sua assessoria de imprensa, a Funai ainda não se manifestou sobre o ato e seu conteúdo. A mesma associação divulgou um dossiê, nesta segunda feira (13), em parceria com o Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), acusando a Funai de implementar uma política anti-indigenista, marcada pela não demarcação de territórios, sob o governo de Jair Bolsonaro (PL). Também afirmou que a fundação promove perseguição a servidores e lideranças indígenas, somada a uma militarização de cargos estratégicos e a esvaziamento de quadros da entidade.

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Além disso, apontou esvaziamento orçamentário, assédio institucional, alinhamento com a agenda ruralista e omissões na esfera judicial. Procurada na ocasião para falar sobre o relatório, a Funai afirmou que não comenta dados extraoficiais. "As informações sobre a atuação da fundação estão disponíveis nos canais oficiais do órgão", argumentou a fundação.

A nomeação de Xavier como presidente do órgão, em julho de 2019, é apontada no documento como uma forma de alinhar a Funai a interesses ruralistas. O servidor, que é delegado da Polícia Federal, já provocou a abertura de um inquérito pela PF para investigar um procurador federal que atua na própria Funai e que elaborou um parecer jurídico a favor dos indígenas. O presidente da Funai acusou o procurador Ciro de Lopes e Barbuda de apologia do crime, e essa iniciativa resultou na abertura de inquérito pela PF no Distrito Federal. O MPF (Ministério Público Federal), porém, discordou da existência do procedimento e apontou crime de constrangimento ilegal na iniciativa.

A Folha de S. Paulo também mostrou neste sábado que a Funai chegou neste ano ao seu menor quadro de funcionários permanentes desde 2008, ao mesmo temo em que vê pedidos para abertura de concursos públicos negados. Documentos mostram que apenas 4 em cada 10 cargos do órgão estão atualmente ocupados.

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