Luiz Carlos Lopes/Agência EstadoSangue vivoA sem-terra Mírian Farias de Oliveira, atingida no peito, já está fora de perigo num hospital de Presidente PrudenteSem encontrar qualquer resistência, cerca de 300 trabalhadores liderados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), voltaram a ocupar ontem a Fazenda São Domingos, em Sandovalina, no Pontal do Paranapanema, menos de 20 horas após o confronto que resultou em ferimentos em oito pessoas. A ação, realizada do lado oposto à área onde está a sede da propriedade, objetivou dar início a colheita dos 280 alqueires de milho que os sem-terra plantaram, após sucessivas ocupações da fazenda.
O clima continuou tenso durante todo o dia no Pontal. O senador Eduardo Suplicy e o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh, ambos do PT/SP, passaram a noite na região, onde visitaram os sem-terra feridos e acompanharam os depoimentos dos empregados da Fazenda São Domingos, presos depois do tiroteio.
Pela manhã, os parlamentares estiveram no acampamento Taquaruçu, pouco depois de iniciada a nova ocupação da Fazenda São Domingos, localizada ao lado dos barracos. Suplicy e Greenhalgh entraram no milharal para conversar com o líder dos sem-terra, José Rainha Júnior, que comandava a colheita do milho.
Eles saíram pouco depois para acalmar um grupo de acampados que havia cercado uma viatura da Polícia Militar, ameaçando tombá-la caso o sem-terra Valdevino de Oliveira, detido pouco antes portando uma garrucha calibre 38, de fabricação caseira, não fosse libertado. Eles também exigiam a liberação do automóvel Santana, 86, do militante do MST, Tedde Jesus da Silva Leão, que estava sem documentos.
Os ânimos só se acalmaram quando a PM concordou em libertar Valdevino, depois que os políticos comprometeram-se a apresentá-lo às autoridades policiais. Suplicy e Greenhalgh também conseguiram fazer com que os policiais liberassem o automóvel apreendido, mediante promessa de que o veículo ficaria estacionado no acampamento.
O senador e o deputado comprometeram-se com os líderes do MST a viajar ontem mesmo para Brasília onde pretendiam manter contatos políticos para relatar a situação existente no Pontal e insistir na solução dos problemas fundiários da região.
FeridosDos oito feridos no conflito na Fazenda São Domingos, em Sandovalina, apenas o sem-terra Antônio Levino Neves, de 33 anos, continuava ontem internado em estado grave, na Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente. Segundo o médico que o atendeu, João Benedito da Silva, a bala que atingiu o sem-terra transpassou o fígado, estômago, colo transverso e intestino delgado, terminando por se alojar na fossa ilíaca esquerda. O projétil não foi retirado.
A sem-terra Mírian Farias de Oliveira, atingida no peito, está fora de perigo e foi transferida ontem para um leito comum daquele hospital. Os demais feridos, entre eles Eraldo de Souza, que foram atendidos na Santa Casa de Teodoro Sampaio, estavam ontem recebendo alta médica e retornando às suas casas.
PresosAs cinco pessoas presas em flagrante por tentativa de homicídio na sede da Fazenda São Domingos, acusaram, nos depoimentos que prestaram às autoridades policiais, os sem-terra que invadiram a propriedade, de iniciar os disparos, com a clara intenção de retirá-los da fazenda. Manoel Domingues Paes Neto, de 19 anos, filho do proprietário, Osvaldo Fernandes Paes, disse que os disparos em direção aos invasores só começaram quando estes já estavam a menos de 50 metros da propriedade, atirando contra a sede.
O delegado Seccional de Polícia, José Odircio Canhetti, que preside o inquérito policial instaurado, disse que a perícia técnica, que esteve ontem pela manhã vistoriando o local do confronto, constatou a existência de perfurações de bala em um estábulo e um banheiro da sede da fazenda. De acordo com o policial, o Instituto de Ciminalística deveria realizar perícia do local devendo divulgar os resultados em dez dias.
O juiz Darcy Lopes Beraldo, da Vara Distrital de Pirapozinho, deverá manifestar-se somente hoje sobre o pedido de liberdade provisória para os cinco seguranças da São Domingos que foram presos. Logo que recebeu a petição, encaminhada pelos advogados Stanley Zaina e Coraldino Vendramini, o juiz encaminhou o processo para manifestação da Promotoria Pública.
No final da tarde, o juiz informou que ainda não havia recebido o despacho do Ministério Público e anunciou que hoje à tarde, antes de vencido o prazo legal de 48 horas que tem para se manifestar, anunciaria sua decisão.