Salvador, 21 (AE) - - A primeira tentativa de retirar os sem-terra da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Salvador, na manhã de hoje, foi muito tensa e por pouco não provocou um conflito entre cem trabalhadores rurais e trinta policiais federais. Houve discussão entre os líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e o oficial de Justiça José Aílton Patrício, que levou a notificação de desocupação do prédio, determinada pelo juiz federal Avio Mozart Ferraz. Os sem-terra afirmam que vão resistir.
O clima estava tenso desde a noite de ontem, quando em uma audiência de concilição, o juiz Ferraz não conseguiu convencer os representantes do MST a desocupar o Incra. Eles só estão dispostos a sair se o ministro Raul Jungmann receber uma comissão de sem-terra baianos. Diante do impasse, o juiz ordenou a reintegração de posse do prédio. A partir de então, os militantes se concentraram no portão do órgão, com facões, foices e barras de ferro.
Pela manhã, eles falavam em "Semana Santa sangrenta", caso a polícia invadisse o local para retirá-los. "O que acontecer aqui vai se refletir nas ações do MST em todo o Estado", avisava Jailson Senna, um dos líderes que tomavam conta do portão do Incra. Por volta das 9h30 ocorreu o momento mais tenso, quando o oficial de Justiça Patrício chegou acompanhado dos policiais federais armados com pistolas e metralhadoras. Os sem-terra que descansavam no pátio foram chamados e correram para o portão aos gritos, agitando suas ferramentas.
Patrício tentou entregar a notificação, mas os líderes do MST reagiram. "Não vou receber nada, a responsabilidade pelo que acontecer aqui é do ministro Jungmann", disse o militante Mauro Costa. "Vou precisar de duas testemunhas para provar que eles não quiseram receber a notificação", disse Patrício, pedindo para os jornalistas que cobriam o caso que assinassem o papel. Como todos se recusaram, ele solicitou a um policial federal e ao estudante Adriano Silva de Jesus, que estava observando o caso próximo ao portão, para assinarem como testemunhas.
Depois disso, Patrício informou que iria levar o documento ao juiz Ferraz e relatar a situação. "Vamos ter de tirar o pessoal à força mesmo", disse, enquanto se dirigia com a escolta da Polícia Federal para o prédio do Tribunal da Justiça Federal, a 100 metros do Incra.
Os policiais federais comentavam entre si que iriam precisar do apoio do Batalhão de Choque da Polícia Militar da Bahia para desalojar os sem-terra, mas não falaram nada de como e em que hora a ação será feita. Os sem-terra estão muito exaltados e nervosos, dispostos ao confronto apesar de entre o grupo estarem mulheres grávidas e crianças.