Porto Seguro, BA, 16 (AE) - Um grupo de 3 mil integrantes do Movimento dos Sem-Terra está marchando em direção à histórica cidade de Porto Seguro, no litoral sul da Bahia. Eles devem chegar ao centro da cidade amanhã (17) à tarde, para a realização de um ato de protesto contra a fome e a miséria no País. Cerca de 1500 índios, originários de diversas partes do País, também deverão participar da manifestação. Eles se encontram na região para participar de uma conferência indígena e, após um debate realizado ontem pela manhã, decidiram apoiar a manifestação do MST. Os dois grupos estudam agora a possibilidade de se unirem para outro ato de protesto no dia 22, data do descobrimento do Brasil pelos navegantes portugueses. Ele seria realizado em Cabrália, cidade localizada a 22 de quilômetros de Porto Seguro, que deverá ser o centro dos festejos oficiais da data histórica.
Outras manifestações de sem-terra deverão ocorrer amanhã em todo o País, para marcar uma das principais passagens do calendário do movimento, o Dia do Protesto contra a Violência no Campo na América Latina.
Mas, de todas as manifestações previstas, a de Porto Seguro é a que mais chama a atenção por causa da tensão criada em torno de sua realização.
O governo da Bahia dificultou e tentou proibir a chegada dos sem-terra a Porto Seguro. Vários dos ônibus que os transportavam foram detidos em barreiras oficiais. Alguns grupos chegaram a ficar dois dias parados à beira da estrada. Só receberam sinal verde depois de uma negociação entre os representantes do movimento e do governo, durante a qual os sem-terra disseram que deixariam a cidade após o ato oficial de hoje. É pouco provável, porém, que isso aconteça. O representante do grupo que realiza a marcha, Ademar Bogo, disse ontem ao Estado: "Ainda não decidimos qual será nosso próximo passo, mas não vamos abdicar do nosso direito de ir e vir." Os sem-terra que participam da marcha são todos da Bahia. Saíram de diversas partes do Estado e vieram de ônibus até Eunápolis, que fica a 62 quilômetros de Porto Seguro. Ali desceram a começaram a marchar, no Sábado à noite. No início contavam apenas com seus próprios batedores, um caminhão de som à frente e uma velha camioneta, cheia de luzes, no final da final, para evitar atropelamentos. Dormiram à beira da estrada e, no Domingo, quando voltaram a marchar, já contavam com meia dúzia de carros da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal para protegê-los.
Hoje à noite voltaram a acampar, a uma distância de 14 quilômetros de Porto Seguro e a menos de 500 metros de uma barreira policial com quase 60 homens, alguns deles ostensivamente armados com fuzis. O ato de protesto será realizado no centro da cidade e deverá contar com a participação de políticos, especialmente do PT.
Os procuradores que trabalham na área de defesa dos direitos indígenas e de minorias étnicas estão temendo a ocorrência de conflitos na área dos festejos do descobrimento. Eles solicitaram medidas especiais à Procuradoria Geral da República, que designou três procuradores para irem à região, trabalhando em regime de plantão. Dois deles, Márcio Torres, de Ilhéus, na Bahia, e Paulo Fortes, de Recife, Pernambuco, já estão instalados em Coroa Vermelha, onde fica concentrada parte do grupo indígena pataxó.
Hoje, os dois procuradores visitaram a reserva que fica naquela área, encontraram-se com um representante do governo da Bahia, o secretário do Planejamento, e também conversaram com os organizadores da Conferência dos Povos Indígenas, que começa terça-feira (18) e termina na sexta-feira (21). Amanhã eles deverão se encontrar com o presidente da Funai, Carlos Frederico Marés. "Vamos acompanhar tudo que acontecer por aqui", disse o procurador Torres.