Cerca de 300 sem-terra invadiram e destruíram as cercas da fazenda Santa Isabel, no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo), na madrugada de ontem, dando início a uma nova ofensiva do MST na região, segundo seu líder José Rainha Jr.
Rainha afirmou ontem que os sem-terra estão preparados para invadir outras 15 fazendas no Pontal durante este mês. ‘‘Temos até a ajuda de prefeitos.’ ‘‘Existe uma revolta muito grande com o governo. Faltam terra e dinheiro para plantar. Vamos para as fazendas e as portas dos bancos’’, afirmou o dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Segundo Rainha, ‘‘dezembro vai ser um mês crítico.’
Os sem-terra, vindos de três acampamentos do Pontal, chegaram à fazenda por volta das 4h30 de carro e caminhões. Os homens entraram pelos fundos da fazenda e cortaram as cercas. O gado foi retirado. Eles improvisaram uma rede de água e uma cozinha coletiva. Os funcionários se limitaram a observar de longe e não houve resistência. Homens armados guardavam ontem duas fazendas, próximas à Santa Isabel, ameaçadas de invasão pelos sem-terra.
O proprietário da Santa Isabel, Newton Teixeira, deve entrar hoje com pedido de reintegração de posse da propriedade, que tem, segundo ele, 2.300 cabeças de gado. A Santa Isabel é a única das fazendas invadidas pelo MST no Pontal do Paranapanema, durante o segundo semestre deste ano, que não está sendo adquirida pelo governo. A fazenda está em área considerada devoluta (que pertence ao Estado).
A posse da terra é disputada na Justiça em uma ação reivindicatória movida pelo Estado contra a família Teixeira, de Presidente Prudente (580 km a oeste de São Paulo). O delegado de Teodoro Sampaio, Donato Farias de Oliveira, abriu inquérito para apurar denúncias de irregularidades que teriam sido cometidas pelo gerente do Banco do Brasil da cidade, Ronald Allen Coulter, em contas da Cocamp (cooperativa do MST no Pontal).
Recife- Cerca de 500 trabalhadores sem-terra bloquearam ontem, às 10 horas, a BR-428, em Orocó, a 600 quilômetros do Recife, em protesto pela prisão de três acampados que participaram de um saque a cinco caminhões, ontem, nessa mesma rodovia.
No começo da noite a estrada foi desbloqueada depois que os menores presos foram liberados. De acordo com a Polícia Militar, os sem-terra não foram retirados porque o contingente policial (cerca de 20 homens da PM, Polícia Civil e Polícia Rodoviária Federal) era reduzido para enfrentá-los. Os sem-terra queriam a presença de autoridades judiciais e políticas - que não apareceram - para discutir um acordo. O bloqueio provocou um engarrafamento de dois quilômetros para cada lado da rodovia.
Presos - Na noite de anteontem foram presos José Francisco da Silva, Luiz Ildefonso Silva e Francisco Miguel Cavalcanti. Eles foram levados à Delegacia de Orocó, onde foram autuados em flagrante por roubo qualificado.
Depois, seguiram para a cadeia pública de Santa Maria da Boa Vista, a 641 quilômetros da capital. Também foram detidos, por se encontrarem no caminhão, o motorista Elias Martins dos Santos e os menores E.B.L.S, de 15 anos; M.V.S, 17; e G.L.S., 12.
A Polícia Militar do Pará desocupou ontem duas fazendas, a Santa Luzia e a Uruguaiana, invadidas por sem-terra. A PM de Marabá, no sul do estado, despejou ontem cerca de 100 famílias de lavradores sem terra que há sete meses ocupavam a fazenda Santa Luzia, de Luzimar Lopes de Brito.