Maceió, 02 (AE) - A polícia alagoana está investigando a morte do sem-terra José Lenilson dos Santos, de 28 anos, ocorrida hoje pela manhã, supostamente a mando de um fazendeiro. O sem-terra foi assassinado com um tiro na cabeça dentro do acampamento montado na Fazenda São Pedro, em Atalaia, a 96 quilômetros de Maceió. Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) de Alagoas acusam pistoleiros pelo crime. O mandante seria o fazendeiro Pedro Duarte, conhecido como "Pedro do Charque", acusam.
Segundo os sem-terra, o acampamento foi invadido hoje pela manhã por 18 pistoleiros armados que tentaram expulsar as 225 famílias que há um ano ocupam a área de 2,4 mil hectares. Houve resistência. No confronto, Santos levou um tiro na cabeça e outros dois sem-terra foram feridos. De acordo com Daniel Correia, da coordenação do MST-AL, os pistoleiros foram contratados por Pedro Duarte.
"Essa não foi a primeira vez que ele mandou seus capangas para expulsar nossos companheiros", disse. O líder sem-terra disse que o governo do Estado e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já haviam sido avisados da possibilidade de confronto, porém, não tomaram providências. O clima na área continua tenso
O delegado de Atalaia, Dalmo Lima Lopes, esteve na fazenda com policiais civis e militares, em duas viaturas, mas disse que seu trabalho foi dificultado por causa da revolta dos sem-terra. "Eles queimaram a casa grande da fazenda, atearam fogo na plantação de cana, destruíram um caminhão e um trator", disse o delegado. Ele disse que conseguiu apenas arrolar testemunhas e conduzir o morto até o Instituto Médico Legal de Maceió. O inquérito policial para apurar os fatos já foi aberto Invasões - Em apenas um ano, a Fazenda São Pedro foi ocupada dez vezes pelos sem-terra. A última invasão aconteceu no início do ano. A superintendência do Incra em Alagoas considera a área produtiva, mas o MST-AL diz que a "vistoria foi manipulada para beneficiar o proprietário". "Os técnicos do Incra fazem vistorias dependendo dos interesses dos fazendeiros, como foi denunciado na Bahia", provoca Duarte. A reportagem não conseguiu contato com a superintendência local do Incra.
Segundo Reginaldo Pacheco, da coordenação do movimento, a revolta entre os sem-terra é grande. A PM e a Polícia Civil estiveram na área para fazer o levantamento do conflito, mas foram expulsas pelos sem-terra. "Os policiais deveriam ter ido atrás dos pistoleiros e não ao acampamento depois do sangue derramado", desbafou Pacheco.