Porto Seguro, BA, 21 (AE) - Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) já começaram a chegar a Porto Seguro, onde pretendem participar neste sábado (22) de atos paralelos às comemorações oficiais dos 500 do Descobrimento do Brasil. Os presidentes do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, e de Portugal, Jorge Sampaio, estarão em Porto Seguro. Para driblar as barreiras policiais montadas nos principais acessos à cidade, os sem-terra estão se deslocando desde a madrugada de hoje em carros pequenos, em grupos de no máximo quatro pessoas.
No entanto, a maior parte dos sem-terra chegará amanhã a Porto Seguro em uma caravana de trinta ônibus proveniente de Eunápolis, a 50 quilômetros da cidade, onde estão acampados cerca de dois mil integrantes do MST. "Eles só vão entrar na cidade se houver um acordo entre a liderança do movimento e o governo do Estado", afirmou o coronel Cristóvam Pinheiro, porta-voz do comando da Polícia Militar. "E mesmo assim só passarão pelas barreiras se não estiverem carregando foices e facões."
Integrante da coordenação nacional do MST, Valmir Assunção disse hoje que as barreiras policiais não o assustam. "Se formos parados nas barreiras vamos fechar a estrada", ameaçou. "Nós não passamos e ninguém mais passa." Assunção garantiu, no entanto, que o objetivo dos integrantes do MST é ir à cidade fazer uma manifestação pacífica e não promover o confronto. "Queremos apenas participar dos eventos paralelos; a Constituição nos permite isso", afirmou. "Não vamos perturbar a festa dos ricos, mas sim protestar, em um espaço diferente, contra os 500 anos dos latifúndios."
Marcha - Os sem-terra pretendem se unir aos índios, aos negros e aos representantes de partidos políticos e lideranças sindicais que já estão em Porto Seguro para participar da marcha Outros 500. Além dos índios, que estão reunidos na reserva Pataxó de Coroa Vermelha, a 18 quilômetros do centro da cidade, está armado no local um outro acampamento, chamado de Quilombo dos Palmares, que reúne cerca de duas mil pessoas dos mais diversos movimentos.
"Queremos fazer um ato político paralelo, de protesto aos 500 anos", afirmou Ubiraci de Jesus, líder do Movimento das Mulheres Negras. "Queremos dar visibilidade à história dos outros 500", acrescentou Júlio César Soares, da liderança do PSTU.
Segurança - Os turistas que chegavam para as comemorações ficaram bastantes contrariados com as revistas. Na BR 367, que liga Eunápolis a Porto Seguro, a principal via de acesso à cidade, homens da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal, distribuídos por seis barreiras, revistavam praticamente todos que passavam. Diversos turistas foram revistados por policiais, com as mãos encostadas nos ônibus. Sabemos que é constrangedor, mas é para um bem maior: evitar a entrada de armas e drogas", disse Pinheiro.