A pandemia do coronavírus trouxe um grande desafio para toda a sociedade, sobretudo na busca por maneiras de proteger as pessoas e evitar a disseminação da doença. O desafio se torna maior quando as medidas são necessárias para garantir o bem-estar dos profissionais de saúde, que estão na linha de frente do combate à Covid-19 e são essenciais para salvar vidas.

A maior preocupação é manter a saúde daqueles que estão na linha de frente do combate ao coronavírus
A maior preocupação é manter a saúde daqueles que estão na linha de frente do combate ao coronavírus | Foto: Miguel Schincariol/AFP

Entidades de classe e os poderes público e privado têm buscado oferecer condições de trabalho aos profissionais. No entanto, muitas vezes faltam mão de obra qualificada, suprimentos e equipamentos para o atendimento.

Segundo a Sesa (Secretaria Estadual da Saúde), 46 funcionários que trabalham em hospitais estaduais e HUs (Hospitais Universitários) apresentaram sintomas suspeitos da Covid-19 e estavam em isolamento domiciliar aguardando resultado dos exames laboratoriais. Outros 21 profissionais tiveram a confirmação da doença. Os dados são de 4 de maio.

Destes, cinco se recuperaram e já voltaram ao trabalho, enquanto 15 seguiam em isolamento e ainda houve um óbito. Os números da Secretaria apontam servidores de todas as áreas que trabalham nos hospitais e não apenas agentes de saúde.

A morte registrada, a primeira de um médico no Paraná por coronavírus, foi do londrinense Milton Luiz Ciappina, 71. Formado na UEL (Universidade Estadual de Londrina), Ciappina trabalhava havia vários anos na Secretaria Municipal de Saúde de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba. Já com um histórico de problemas cardíacos, o médico estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) desde o dia 17 de abril na capital e faleceu na madrugada do último domingo (3).

"Há um envolvimento e uma mobilização de várias entidades para oferecer orientações precisas e treinamentos para estes profissionais para que eles possam realizar o enfrentamento da forma mais próxima do que já foi estudado para garantir a segurança deles", frisou a presidente da AML (Associação Médica de Londrina), Beatriz Tamura.

O Coren-PR (Conselho Regional de Enfermagem do Paraná) também acompanha de perto a situação de auxiliares, técnicos e enfermeiros. Por meio de uma plataforma nacional de notificações, o Conselho paranaense tem 66 casos relatados. São 52 profissionais com sintomas de coronavírus e que estão em quarentena, 10 casos confirmados, também em isolamento, três suspeitos internados e um óbito.

A técnica em enfermagem Valdirene Aparecida Ferreira dos Santos, 39, foi a primeira profissional da saúde a morrer no Estado vítima da Covid-19. A profissional trabalhava no hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, e faleceu no dia 27 de abril.

"Sabemos que ainda há muita subnotificação. Este processo que foi criado para as notificações é novo e sempre há um receio de socializar os números. Gradativamente, os profissionais vão se apropriando desta ferramenta e as notificações vão crescer. De qualquer forma, estes números nos preocupam sempre", afirmou a presidente do Coren-PR, Simone Peruzzo. O Paraná tem 105 mil profissionais da área de enfermagem. No Brasil, são 2,3 milhões.

O Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) contabilizou 73 mortes de profissionais pela Covid-19 no País até o dia 6. A maior parte (41) com menos de 60 anos.

Peruzzi ressalta a importância de se manter a saúde de quem está na linha de frente do combate ao coronavírus para evitar ainda mais uma escassez de profissionais e uma situação ainda maior de sobrecarga no sistema. "O tratamento da Covid exige intensivistas nas UTIs e no Paraná, por exemplo, já não temos número suficiente quando não há pandemia. Se tivermos muitos afastamentos, a situação pode se complicar", comenta.

A presidente da AML chamou a atenção para cuidar também da saúde emocional dos profissionais que estão no dia a dia enfrentando a doença que já infectou quase dois mil paranaenses e deixou mais de cem mortos no Estado. "Esta pandemia tem uma conjuntura complexa e é preciso uma preocupação especial também com a questão psicológica, que interfere bastante na rotina diária. Garantir material de proteção adequado, boas condições de trabalho e informação precisa para ajudá-los na prevenção vai proporcionar um trabalho mais tranquilo e menos estresse", aponta.

REALIDADE

Apesar dos números de profissionais infectados e com suspeitas do coronavírus, as situações no Paraná e em Londrina estão bem mais controladas do que em muitas outras regiões do Brasil. "Temos números discretos de notificações em relação a outros estados. Neste momento, estamos supridos de EPIs de boa qualidade e de material para atendimento. Mas, ao mesmo tempo, temos intensificado as nossas inspeções nos hospitais para que esta situação seja mantida", frisa Simone Peruzzo.

Para Beatriz Tamura, que integra o Coesp (Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública), grupo formado pelo município com vários profissionais de saúde para definir as medidas de controle e combate ao coronavírus, a mobilização de forma preventiva da sociedade de Londrina permitiu que a cidade se preparasse bem para enfrentar a pandemia.

"Houve campanhas e união, de outros segmentos também, para que tivéssemos insumos suficientes para as equipes de saúde, manutenção de respiradores e outros equipamentos. Esta mobilização de enfrentamento que foi feita lá atrás tem nos permitido manter os casos controlados e boas condições para tratá-los", ressalta.

Serviço permite direcionar esforços para a proteção dos profissionais

Com a chegada do coronavírus, o Cofen (Conselho Federal de Enfermagem) criou o Comitê Operacional de Emergência para fazer um monitoramento da realidade de técnicos, auxiliares e enfermeiros no combate a Covid-19. Por meio de dois formulários, que podem ser acessados pelos sites do Cofen e dos Conselhos Regionais, os profissionais podem relatar sintomas da doença, local de trabalho e função.

"Um dos formulários pode ser enviado por qualquer profissional ou qualquer pessoa que queira relatar a situação de saúde de um profissional. O outro é específico para enfermeiros responsáveis ou coordenadores de equipes", explica a presidente do Coren-Pr, Simone Peruzzi. "É uma forma de acompanharmos as necessidades destes trabalhadores, de garantir a segurança para todos e de saber realmente o que está acontecendo."

Peruzzi revelou que há um trabalho conjunto de todos os conselhos regionais para que algumas medidas de prevenção da saúde dos profissionais sejam cumpridas. Como a liberação de agentes acima dos 60 anos, testes para todos, além da garantia de gratificações salariais.