Dados divulgados nesta segunda-feira (5) pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) mostram que a cada quatro horas, uma pessoa morre vítima de acidente de trabalho no Brasil. De acordo com a plataforma digital Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, disponibilizada pelo órgão, entre 2012 e 2017, 14.412 mortes foram registradas em todo o País. No mesmo período, ocorreram 3,8 milhões de acidentes no ambiente laboral.

O Paraná foi a quinta unidade da federação com mais registros de ocorrências. Foram 231.586 acidentes em seis anos, atrás apenas de São Paulo, que teve 1,1 milhão de acidentes; Minas Gerais (306 mil); Rio de Janeiro (239 mil) e Rio Grande do Sul (239). Ao todo, o Paraná teve 1.286 mortes, uma média de 214 por ano ou uma a cada 40 horas. Curitiba aparece no ranking nacional como a terceira cidade com mais acidentes de trabalho. Entre 2012 e 2017, o MPT recebeu 58,4 mil notificações na capital paranaense.

No ranking por municípios, os primeiros lugares são ocupados por São Paulo (294 mil) e Rio de Janeiro (133 mil). Londrina aparece na 25ª colocação, com 17.761 casos, à frente de capitais como Natal (14 mil) e Belém (13 mil). Nos seis anos abrangidos pelo estudo, a cidade registrou 47 mortes, quase oito por ano. Com base nos dados, o MPT aponta prejuízos por afastamentos previdenciários de R$ 59 milhões para Londrina e de R$ 917 milhões para o Paraná. Em todo o País, o prejuízo foi de R$ 15 bilhões.

Quando se soma aos gastos previdenciários os custos das doenças do trabalho, o rombo salta para R$ 264 bilhões ao ano, o que corresponde a 4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Durante coletiva de imprensa, realizada em Brasília na manhã desta segunda, o procurador-geral do MPT, Ronaldo Fleury, lamentou os dados. "Além da perda de mais de quase 15 mil vidas humanas, são 2.500 famílias que ficam órfãs a cada ano devido à negligência de empregadores que não consideram o trabalho seguro como condição para o trabalho digno", manifestou-se.

Para Fleury, a ferramenta, que é alimentada automaticamente por meio de cruzamento de dados públicos, permite ao próprio governo elaborar políticas públicas mais dirigidas e eficazes na área da saúde e da segurança do trabalho. "Um país que esconde a sua realidade é um país fadado ao fracasso. Precisamos reconhecer nossas fragilidades para termos melhores condições de trabalho em um meio ambiente mais seguro para todos", destacou.

Os dados revelam ainda que que as maiores vítimas de acidentes são os trabalhadores de menor remuneração. Esses também são os que têm mais lesões incapacitantes. Outra informação importante do cruzamento de dados é que o principal agente causador de acidentes de trabalho no Brasil são máquinas e equipamentos. O MPT apresentou nota técnica a respeito da Norma Regulamentadora 12, que fixa regras sobre segurança no trabalho no uso de máquinas e equipamentos.

Imagem ilustrativa da imagem SEGURANÇA DO TRABALHO - País tem uma morte a cada quatro horas por acidente de trabalho



SAÚDE LIDERA NOTIFICAÇÕES
Os profissionais que atuam no atendimento hospitalar são os que mais sofrem acidentes. No cenário nacional, 9% de todos os casos notificados são do setor de saúde. Foram 326 mil registros. Do total das ocorrências no Paraná, 8,3%, ou 19,3 mil são referentes à saúde. Já em Londrina o índice é bem maior e chega a 16,78%, bem à frente do segundo colocado, o setor de comércio varejista, que concentra 4,61% das ocorrências. Em seis anos, quase 2.981 casos foram notificados na cidade.

Os acidentes atingem em especial aqueles que trabalham na enfermagem e na limpeza. Elaine Rodella, representante do SindSaúde (Sindicato dos Trabalhadores da Saúde Pública do Paraná) fez críticas à falta de políticas de de prevenção e monitoramento de acidentes de trabalho na Sesa (Secretaria de Estado da Saúde). "Somos um dos órgãos fiscalizadores, por meio da Vigilância Sanitária, mas não fiscalizamos a nós mesmos. Os servidores são expostos à condições precárias de trabalho e não há uma política eficiente que nos ampare", reclama. A Sesa foi procurada, mas informou que só responderia na quarta-feira.