Ao longo dos seus quase 50 anos de existência, o Estádio do Café – além de partidas de futebol memoráveis – já foi palco de artistas nacionais e internacionais. A próxima grande atração está agendada para 8 de dezembro deste ano, data em que os Titãs trarão música de qualidade para os fãs nostálgicos de Londrina na turnê “Encontro - Pra Dizer Adeus”, que marca o encerramento dos 41 anos de carreira da banda de pop-rock.

Como já mencionado, esta não será a primeira vez que o Estádio Municipal Jacy Scaff – nome oficial do Café – vai movimentar o setor cultural londrinense. O espaço, administrado pela Fundação de Esportes do município, recebeu, em agosto de 1985, um show da boy band Menudo, além de apresentações das estrelas televisivas Os Trapalhões e Xuxa. Outro fenômeno que atraiu milhares de fãs ao estádio foi o show dos sertanejos Zezé Di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo e Chitãozinho & Xororó, que se apresentaram juntos, em novembro de 1996, com o projeto “Amigos”.

Preparando os fãs para a atração de dezembro, a Folha de Londrina relembra como foi a recepção aos grandes shows que já passaram pelo Café.

UM MAR DE GENTE

A chegada dos integrantes do grupo Menudo a Londrina causou um verdadeiro burburinho. Registros da época mostram um mar de crianças e adolescentes acompanhando euforicamente os cantores desembarcando do avião. Entre gritos e muita correria, os menudos acenavam com entusiasmo para as fãs, que cercavam o ônibus que o grupo utilizou para se dirigir ao Hotel do Lago, onde ficaram hospedados.

Os cantores de Porto Rico fizeram todo o trajeto cumprimentando as centenas de fãs. Muitas, inclusive, penduravam-se nas janelas do automóvel para conseguir encostar nas mãos das estrelas, que sempre demonstravam afeto às seguidoras.

Na época, participavam do grupo: Robby Rosa, Charlie Massó, Roy Rosselló, Ray Reyes (faleceu em 2021) e Ricky Martin. No mesmo mês, os menudos também fizeram shows em Maringá e Curitiba. Os astros latinos, em turnê de um mês pelo Brasil, tinham o poder de arrastar multidões, batendo recordes históricos, como o público de 150 mil pessoas no Estádio do Morumbi, em São Paulo.

Confira aqui o vídeo da chegada do grupo a Londrina.

AS MENUDETES

O substantivo menudete foi criado para representar as fãs alucinadas da boy band que esteve no auge do sucesso de 1980 a 2000. A seladora Ilza Moreira da Silva Hanselmann, hoje com 58 anos, considerava-se uma delas. Ela foi uma das centenas de fãs que seguiram o ônibus do grupo quando os cantores vieram a Londrina.

“Estava uma correria e uma gritaria [no dia]. Quando o ônibus deles passou ali no centro, na [avenida] JK [Juscelino Kubitschek], eu consegui vê-los de longe. Nunca fui tão fã de um grupo como fui deles. Qualquer coisa que falava sobre os menudos, eu via”, relembra.

Hanselmann recorda com carinho do show dos artistas em Londrina. Ela, inclusive, diz que conseguiu contato com os cantores na porta do hotel. “A gente, do lado de fora da grade, conseguia vê-los na piscina. Eles chegaram perto, e consegui pegar um autógrafo e até um pedaço da toalha que tinham tomado banho. Eles rasgaram e jogaram um pedacinho para cada uma. Foi o Ray quem me deu, e eu guardei por um bom tempo”, revela.

Com apenas 12 anos na época, Andréa Cristiane Zaqueo, 50, outra menudete, não deixou de acompanhar a passagem dos porto-riquenhos. Com as coreografias e músicas já decoradas, a cabeleireira ganhou o convite do seu pai de surpresa. “Não imaginava que poderia ir ao show pela minha idade. Era muito longe de acreditar que meu pai iria deixar, mas ele viu a fama do grupo, e o quão fã eu era, e me presenteou com o convite”, rememora Zaqueo.

Ela diz que, assim como fez Ilza Hanselmann, tinha vontade de acompanhar o desfile dos astros de ônibus pelo centro de Londrina, mas não foi autorizada pelo pai. No dia do show, diversas pessoas podiam ser vistas peregrinando pelas ruas da cidade em direção ao Estádio do Café. Morando no bairro Vila Nova, Zaqueo, juntamente com uma vizinha responsável por ela, andou alguns quilômetros a pé até chegar ao destino. “Eram muitas pessoas indo ao show a pé também. Iam curtindo o evento desde então”.

MARCADO NA MEMÓRIA

Andréa Zaqueo pode colocar no currículo que esteve presente em dois dos shows mais marcantes que aconteceram no Café. Se aos 12 anos ela foi acompanhar o Menudo, aos 23 ela voltou para desfrutar da união das três mais relevantes duplas sertanejas da época: Zezé Di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo e Chitãozinho & Xororó, que se uniram na turnê Amigos, que chegou a Londrina no dia 23 novembro de 1996.

Com a tecnologia um pouco mais acessível, Zaqueo conseguiu registrar alguns momentos em fotos. A cabeleireira ressalta que a organização do evento foi impecável. Na época, com um salário mínimo a R$ 112, os ingressos foram vendidos na promoção a R$ 12, mas chegaram a ser comercializados a R$ 25.

De acordo com a empresa que organizou o show, o estádio recebeu 40 mil pessoas, sendo um recorde para a época. Vale um destaque para a tecnologia utilizada: os sertanejos trouxeram ao município 40 toneladas de equipamentos. Além disso, o espetáculo utilizou um sistema de iluminação – até então inédito no Brasil – que era comum em shows de astros internacionais, como Michael Jackson. A tecnologia, chamada de Sky Tracker, utilizava 300 mil watts de potência.

O empresário Luiz Afonso Vaz Corcovia, 48, que também esteve presente no show, lembra que a utilização da parafernália causou um pico de energia, gerando um apagão de cerca de 30 minutos.

Corcovia também recorda que o gramado recebeu uma proteção especial, pois, no dia seguinte, o estádio sediaria a partida entre o clube da casa e o União São João de Araras (SP), pela Série B. “O acesso ao campo era limitado. Aí a gente forçou e o cara liberou para nós entrarmos, após colocarem a lona para proteger o gramado. Conseguimos ficar na pista, na cara do gol”, brinca.

PROBLEMA NA ESTRUTURA

A apresentação dos Trapalhões no Estádio do Café, na década de 80, foi marcada por alguns problemas na estrutura do espaço. De acordo com Hélio Silveira Ribas - na época professor do curso de Engenharia Civil da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e especialista em Estruturas - a prefeitura de Londrina o chamou, juntamente com outros profissionais, para fazer uma fiscalização no espaço.

“Havia um problema de falta de manutenção. Uma das torres de iluminação estava totalmente corroída. Era preciso estaiar [sustentar por cabos] para não cair”, relembra.

O show somente foi liberado após a realização do procedimento. O questionamento sobre o estado de conservação do Café perpassa o tempo. Atualmente, segundo o presidente da FEL (Fundação de Esportes de Londrina), Marcelo Oguido, a estrutura do estádio não é das melhores, mas foi aceita pelos contratantes. “O pessoal do evento olhou e vistoriou. O estádio foi liberado para ser usado como está”, disse. O presidente também ressalta que a programação de melhorias vai respeitar o calendário já preestabelecido, ou seja, não sofrerá alterações por influência do show dos Titãs.

ANSIEDADE

Com fãs fiéis há quatro décadas, a turnê “Encontro Pra Dizer Adeus” é uma das mais esperadas em Londrina. A banda já se apresentou outras vezes por aqui, mas, desta vez, a pompa será maior. Com capacidade para cerca de 30 mil pessoas nas arquibancadas, a expectativa é de lotação.

Os últimos shows da banda em Londrina aconteceram nos dias 19 de maio de 2017 e 20 de outubro de 2019, os dois no Teatro Marista. Os preços dos ingressos para o espetáculo do dia 8 de dezembro variam entre R$ 125 e R$ 1.330, a depender da localização e dos pacotes adquiridos no site Eventim.com. .

Supervisão:

Fernanda Circhia - Editoria do Portal Bonde