Darlan Costa e o filho Heitor:  “Às vezes ele ouvia a minha voz, chegava no pé da escada e começava a chorar. A minha esposa pegava e explicava que o papai estava doente"
Darlan Costa e o filho Heitor: “Às vezes ele ouvia a minha voz, chegava no pé da escada e começava a chorar. A minha esposa pegava e explicava que o papai estava doente" | Foto: Gustavo Carneiro

Para o funcionário público Darlan José Henrique Costa, 38, ouvir o filho Heitor, de dois anos e oito meses, chorar enquanto o chamava para brincar sem poder atendê-lo foi doloroso, porém, necessário. Diagnosticado com Covid-19 no começo de julho, Costa não teve os sintomas graves da doença e pode realizar o isolamento em um cômodo no andar de cima da casa em que mora com a esposa, Ana Claudia, 41, a enteada Beatriz, 19, e a sogra, Edinete, 72.

Em quarentena, a solução para acalmar o pequeno ao longo dos 14 dias era evitar chamar sua atenção. Porém, o garoto é “esperto”, conta, e a estratégia nem sempre funcionava. “Às vezes ele ouvia a minha voz, chegava no pé da escada e começava a chorar. A minha esposa pegava e explicava que o papai estava doente. Fazíamos chamadas por vídeos e mesmo assim ele chorava, e falava ‘papai, colinho’, emociona-se.

Neste domingo (9), Costa passará o Dia dos Pais com dois dos seus bens mais precioso preservados: sua família e sua saúde. Entretanto, milhares de famílias brasileiras não terão o mesmo privilégio do pequeno Heitor de poderem abraçar seus pais, avós, irmãos, tios ou padrastos. Os números divulgados pelo governo do Paraná dizem que, de março até esta quarta-feira, 1.292 homens com mais de 30 anos não voltaram para suas casas em todo o estado por culpa de complicações causadas pelo vírus Sars-CoV-2.

Paternidade

No País em que cerca de 50% da população é católica, 31% são evangélicos e 10% dizem não se identificar com nenhuma religião, a primeira data em que se comemorou o Dia dos Pais, 16 de agosto, nasceu da mente inquieta, assim como tantas outras, de um publicitário. Sylvio Bhering criou a campanha "O Dia do Papai" em 1953, inicialmente, no Rio de Janeiro, e que logo se espalhou por todo o Brasil. O objetivo era "sagrado" no ocidente: lembrar São Joaquim, pai de Maria e avô de Jesus enquanto mirava no aquecimento das vendas do comércio.

No ano da pandemia foi também através da publicidade que Brasil parou para discutir de forma mais "calorosa" nas redes sociais se uma estrutura famíliar pode - ou deve - ser composta a partir de uma transexual na figura paterna. O tema voltou a trazer à tona outro problema social escancarado com os dados do Conselho Nacional de Justiça, que apontam para 5,5 milhões de brasileiros(as) até 2011 sem o nome do pai no registro civil.

Uma situação completamente oposta a que se desenhou ao redor da chegada do pequeno Heitor, programado e muito esperado, conta o pai. Por ter sido o sétimo filho e único homem, Darlan Costa lembra que sempre esteve rodeado de muitos sobrinhos, o que o fez naturalmente sonhar com a paternidade. Ao mesmo tempo, ter sido a “raspa do tacho”, brinca, o fez desenvolver a serenidade, a calma e a fé necessárias para vencer a Covid-19 sabendo que logo poderia ter o filho de volta em seus braços.

“Você quer ficar perto e não pode, isso te deixa um pouco triste, mas realça esse vínculo e você vê quanta falta faz um abraço. Às vezes você chega do trabalho e não presta atenção, porque é o seu cotidiano, e quando isso é privado você vê o quanto isso te completa”, alegra-se.

Fabio: um dos primeiros casos de Londrina

A mesma chance de Darlan teve o segurança José Fábio Souza, 34, um dos primeiros moradores de Londrina a serem diagnosticados com o vírus. Se os sintomas da Covid-19 parecem assustadores para quem já está amplamente abastecido de informações e ciente do que pode acontecer após tanto tempo de pandemia, chega a ser difícil imaginar pelo que passaram os primeiros pacientes a enfrentarem a doença por aqui.

Souza se preparava para descansar e aproveitar as férias em um dos seus dois empregos quando, no dia 23 de março, teve que ser internado no HU da UEL com a SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Até então, as únicas informações que tinha a respeito da enfermidade haviam sido transmitidas por um amigo que morada na Itália, país que registrou cenas que o mundo inteiro quer esquecer. “Ouvia falar de mortes, só notícias ruins. Os quatro primeiros dias foram de transtorno total, psicológico”, lembra.

Hoje, prevê que terá um Dia dos Pais especial em lado dos filhos Enzo, 9, Heloísa, 3, e a esposa Leidiane, 30, o primeiro em quatro anos em que não passará trabalhando, conta. “Eu fiquei quatro anos trabalhando em dois empregos e não tinha tanto tempo para ficar com eles. Perdi quatro anos de convivência com minha família no período da noite. Esse ano vai ser bem especial por tudo o que aconteceu", comemora.

Questionado sobre o que vai levar de mais importante em sua "nova" vida, Souza destacou os aspectos positivos da convivência em família e sobre como pretende valorizar ainda mais cada minuto próximo dos filhos. "É complicado, eu estava lá naquela cama, respirando com um aparelho e passei por isso. O maior presente que tenho é a saúde dos meus filhos e da minha família, isso não tem presente igual", alegra-se.