Com a população estimada em 2.500 habitantes, Santo Antônio do Paraíso não apresenta registro de Covid-19 desde o início da pandemia que afeta o mundo. É um dos 17 municípios paranaenses livres da doença. Do ponto de vista da secretária municipal da Saúde, Célia Maria Mantovani Bento, o resultado é motivo de comemoração, mas a comunidade não pode relaxa no combate ao coronavírus.

Barreiras físicas foram retiradas por funcionários da prefeitura
Barreiras físicas foram retiradas por funcionários da prefeitura | Foto: Sergio Ranalli

Diante do quadro de controle, as duas unidades de saúde do município mantêm o trabalho de rotina. "Dentro de um plano de contingência, os pacientes com gripe e febre devem procurar a unidade onde funcionava o antigo Hospital Municipal Pillade Ducci. Já a unidade mista mantém as vacinas, consultas com pediatra e clínico geral", explica.

Duas semanas atrás um caso foi atribuído erroneamente para a cidade. "A confusão se deu por conta do cartão do SUS. Essa paciente mudou-se para Curitiba há dois anos", esclarece.

O prefeito de Santo Antônio do Paraíso, Wanderley Martins Ferreira, reconhece que o comércio local foi "penalizado" por conta do fechamento, mas diz que contou com a colaboração da comunidade no combate à doença. "Toda a população passou a se policiar mais, usar máscaras, redobrar os cuidados com a higiene e evitar todo tipo de aglomeração", cita.

Ferreira relata ainda que a fiscalização sobre o cumprimento de regras de distanciamento, uso de máscaras e acesso de visitantes foi "efetiva". Para tanto, contou com uma equipe de profissionais formada por vigilantes sanitários, vigilantes epidemiológicos e da Defesa Civil. "Principalmente nos bares, festas particulares ou clandestinas", diz.

Até a manhã desta quarta-feira (15), havia barreira sanitária em funcionamento. Cada carro que chegava a Santo Antônio do Paraíso era abordado, os passageiros tinham a temperatura aferida e os visitantes que chegavam para ficar na cidade tinham seus nomes anotados.

Cristiane Campos é fonoaudióloga e atua como servidora de Paraíso. Durante quatro semanas, ela trabalhou em barreira sanitária, assim como o dentista José Alfredo Carvalho Neto e a nutricionista e fonoaudióloga Kelly de Lima. "A rodovia passa no meio da cidade. A maioria é compreensiva, mas já tivemos intercorrências. A pessoa é parada e fica incomodada, pois acha que deveríamos conhecer todo mundo", relatou um integrantes da equipe.

De acordo com o prefeito, as dez barreiras do município foram extintas. Tanto as monitoradas por equipes, como as físicas, formadas apenas por manilhas que impediam o trânsito. "A determinação veio do governo estadual e entendemos também que os servidores estavam esgotados. Temos poucos e estavam trabalhando 24 horas por revezamento, informa.

Vendedor de carretas, Armírio Timóteo, 59, passou pelo bloqueio na quarta e disse que considera a medida assertiva. "É uma tarefa para o bem de todos", declarou. O motorista Valmor Rocha, 43, também não vê desconforto na ação. Rocha saiu cedo de Sapopema para entregar areia em São Sebastião da Amoreira e declarou que, além de não se incomodar com o trabalho das equipes de saúde, está se cuidando bastante porque sabe que o contágio é fácil e o tratamento, complexo.

Com a drogaria toda readequada, o farmacêutico Alberto Ueno, 39, considera que muitos fatores contribuíram para que Santo Antônio do Paraíso esteja nesse patamar. "É uma cidade que não tem um grande centro comercial, por isso não atrai tanta gente de fora. Basicamente os trabalhadores se dividem no comércio, servidores da Prefeitura e a parte rural", informa. A venda de álcool em gel e lenços umedecidos estão entre os itens de maior procura na farmácia.

O comerciante Laércio Severino de Almeida, 47, também precisou fazer adaptações em seu mercado. Além da limpeza reforçada em todo o estabelecimento, precisou limitar a entrada a seis pessoas por vez. "Seguimos todas as regras da Prefeitura e a população entendeu", destaca.

Cuidadora de idosos, Neli Lemos Gonçalves, 53, é natural de Santo Antônio do Paraíso. "É uma benção não termos casos." Ela divide a casa com a mãe, de 76 anos, a avó, de 93, e uma cachorrinha de estimação. Cercada por um jardim de rosas, diz que agradece o tempo todo a proteção. "Só saio para o mercado e todos os dias, às 11, coloco a água para benzer enquanto rezo. Bebemos e passamos na casa. Acho que na cidade pequena o povo é medroso", afirma.