Rússia faz troca de comando militar
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de janeiro de 2000
Grozny, 07 (AE-AP) - Com a tomada de Grosny aparentemente adiada, os militares russos anunciaram hoje (7) uma troca no comando dos combates na Chechênia, mas insistiram tratar-se de uma operação de rotina.
O Ministério da Defesa russo informou que o general Gennady Troshev e o major Vladimir Shamanov seriam substituídos em seus postos como comandantes de duas frentes de combate na Chechênia. Troshev e Shamanov foram levados de volta aos seus antigos cargos.
Troshev foi substituído como comandante do fronte oriental pelo major-general Sergei Makarov e Shamanov, pelo major-general Alexei Verbitzki
O Ministério insistiu que tais mudanças são uma prática rotineira. A troca não "foi resultado de qualquer erro profissional dos comandantes, que simplesmente retornaram para seus postos anteriores", informa um comunicado militar lido pela televisão estatal russa.
Na Chechênia, antes de ser substituído, Troshev anunciou hoje a suspensão dos bombardeios aéreos e ataques de artilharia em todas as áreas da capital, Grozny, alegando que a Rússia está preocupada com o uso de armas químicas pelos rebeldes. O objetivo da pausa seria proteger os civis que ainda permanecem na cidade e dar-lhes uma nova oportunidade para partir, bem como evitar uma "catástrofe ecológica" na cidade. A decisão é mais um claro indício de que a Rússia está tendo dificuldade para dobrar os mais de 2 mil rebeldes entrincheirados em Grozny - que também acusam Moscou de empregar armas químicas.
"A região de Grozny é uma zona de perigo ecológico para os pacíficos residentes, que os rebeldes estão usando como escudos humanos", afirmou Troshev à emissora de televisão privada NTV. Os chefes militares reuniram-se na sede do comando regional em Mozdok, na república russa da Ossétia do Norte - vizinha à Chechênia - para avaliar a situação e definir estratégias no combate aos rebeldes. Não ficou claro, porém, que tipo de ações serão interrompidas e em que regiões porque os meios de comunicação russos transmitiram informações contraditórias. Pouco depois da declaração de Troshev, a mesma NTV informou ter ele dito que as atividades militares continuariam ininterruptamente e a agência de notícias Itar-Tass assinalou que os comentários de Troshev referiam-se apenas aos bombardeios e ataques de artilharia na capital. O Ministério da Defesa não soube esclarecer que ações estão sendo suspensas, por quanto tempo e por que só agora, cerca de três semanas após o bloqueio de Grozny, os militares estão tão preocupados com os civis.
Desde o início da campanha militar na Chechênia, em setembro, as forças russas têm bombardeado ininterruptamente a região, levando mais de 250 mil pessoas a refugiar-se em outras repúblicas russas, principalmente a Ingushétia. Antes do Natal, o alto comando garantiu ter o controle de dois terços do território e anunciou estar perto de tomar Grozny. "A liberação de Grozny é questão de dias. A liberação do resto do território, de semanas", afirmou na época o vice-chefe do Estado-maior, general Valeri Manilov. Mas nas últimas semanas a resistência dos rebeldes parece ter-se intensificado e as tropas russas pouco conseguiram avançar em Grozny e na região montanhosa do sul, na qual os rebeldes têm suas bases.
Altos oficiais russos em Moskok admitiram que os rebeldes têm penetrado nas linhas russas e chegara a pôr fogo num hospital de campanha na terça-feira. Eles têm minado as estradas após o avanço dos russos e armado constantes emboscadas. São as mesmas táticas que os separatistas usaram na primeira guerra da Chechênia (1994-19960, na qual a Rússia sofreu uma humilhante derrota ao tentar esmagar o movimento pró-independência da república.;
"Nós não conseguiremos derrotá-los com aviões e blindados. Teremos de ir lá (nas montanhas) a pé, E isso levará muito tempo", comentou o tenente Mikhail Aukhovskoi, comandante de um comandante de pára-quedistas.