A emoção de cruzar uma linha de chegada é individual. Cada um sabe o que cada metro significa. Salvas de palmas, medalha e troféu premiam os que concluem uma prova. Mas nenhum desses símbolos de reconhecimento eram os esperados pela moradora de Assaí, Nany Iryoda, 41 anos, após percorrer 42 quilômetros rumo ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida do Norte do Paraná, localizado em Londrina, no feriado de 12 de outubro - quando é celebrado o dia da Padroeira do Brasil.

O feito integra o propósito da profissional de Educação Física e começou no ano de 2020, quando decidiu pagar uma promessa e desde então tornou-se uma peregrina. A distância vencida pela devota é a mesma de uma maratona, prova de longa extensão e que tem o respeito de atletas amadores e profissionais em todo o mundo.

Nesta madrugada, ao lado de quatro amigas, Iryoda partiu de Assaí. Foram oito horas de caminhada. Eram 3h30 da manhã quando ela e Ana Paula Zanin, Tatiane Nawate, Alana Monteiro e Cristiana Zanin iniciaram a jornada de fé. No carro de apoio, Jonny Iryoda, marido da veterana. "Na primeira vez, eu vim com o meu marido caminhando e foi muito sofrido para nós dois. Entendi que era preciso ter um carro de apoio para se hidratar e comer de maneira adequada e com segurança".

A líder do grupo explica que além dos suprimentos como isotônico, um carro de apoio tem também um papel de proteger o grupo em toda a peregrinação, acomodando os itens e permitindo que caminhem sem peso e com mais liberdade. "O calor de hoje foi o elemento mais desgastante. Saímos de lá com 22 graus e dispensamos até as blusas." Com máximas de 33 graus e sol a pino, o grupo investiu em roupa com proteção contra os raios-ultravioleta, chapéus como os de pescadores, protetor facial, óculos e hidratação.

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A religiosa conta que em 42 quilômetros acontecem muitas coisas. " Ano passado choveu o percurso todo. Mas com chuva ainda é melhor. No caminho, cantamos, sentimos dor, damos risada, nos estressamos, conversamos e rezamos. Rezamos muito." Com os terços entrelaçados entre os dedos das mãos, os pés atendem os comandos e seguem o destino. Mas elas não estão no automático, estão determinadas. Entre Assaí e Londrina estão Jataizinho e Ibiporã. No relógio de pulso, os quilômetros faltantes e a proximidade ao Santuário. "Vamos fotografando e publicando no Instagram @nanyiryoda".

Distante um quilômetro das peregrinas, o carro de apoio faz vigília. "Carregamos uma bandeira, muitas pessoas passam de carro, acenam, buzinam, em sinal de empatia", comenta a guia. "É muito importante que as pessoas compreendam a necessidade de preparo. Todas nós fazemos atividade física diariamente em busca de qualidade de vida. Temos condicionamento, mas ainda assim o desgaste físico é grande. Infelizmente, do dia para a noite, não é possível fazer uma caminhada assim, pois a pessoa pode passar mal", alerta.

Sem palavras para definir o sentimento de satisfação e tamanha alegria diante do Santuário, Nany reflete: "É um sentimento surreal, inexplicável e eu prometi que serão dez peregrinações. Cada uma é única". No Santuário, as amigas participaram da missa, tiraram os tênis e agradeceram. "Vai passando a adrenalina, o corpo esfria e começam as dores e quando chegar em casa é banho e pernas para cima". Com os pés inchados, calçam chinelos, posam para algumas fotos e retornam de carro para Assaí realizadas. "Missão cumprida, só agradecer mesmo", reforça Nany Iryoda.