A greve do transporte coletivo afeta muito mais pessoas do que se possa imaginar. O comércio sente a falta de consumidores, e os comerciantes reconhecem que a falta do transporte público traz impactos diretos na rotina de seus colaboradores. Na padaria e restaurante da comerciante e nutricionista Fernanda Chimentão, 40 anos, não faltam argumentos sobre os reflexos da paralisação. Menos clientes, menos faturamento e, para apoiar os seis colaboradores da unidade, Chimentão decidiu subsidiar o trajeto agora feito por meio de aplicativos.

Lívia Diniz e Marta dos Santos queixaram-se do valor das corridas por aplicativos
Lívia Diniz e Marta dos Santos queixaram-se do valor das corridas por aplicativos | Foto: Gustavo Carneiro

É o caso da atendente Silvia Ellen dos Santos, 29 anos, que mora no Jardim Santa Rita, na zona norte. Habituada a usar o coletivo, foi pega de surpresa na última sexta (10), quando não houve oferta de ônibus e usou um serviço de aplicativo. "Geralmente o valor da minha casa aqui é de R$ 12, no máximo R$ 13. Paguei R$ 30”, desabafa. "É um valor muito alto e logo que começamos a procurar um carro, o valor inicial nesses dias é de R$ 20", relatou.

Chimentão comenta ainda que atualmente os preços subiram muito, bem como as dificuldades de tentar poupar. "Antes os nossos atendentes conseguiam viagens compartilhadas, nesses dias, não conseguem dividir a corrida e isso não dá para compreender", observou.

A diarista Arlete Vieira, 40 anos, reside no Jardim Paris, na zona norte. Suas clientes são todas na zona sul e desde que a greve começou está sem trabalhar. "Hoje só vim ao centro de carona porque tinha que pegar um resultado médico. Fiz a simulação para ir com carro de aplicativo, o valor na parte da manhã é de R$ 22. "Já pensou isso na ida mais a volta?", questionou. “Minhas patroas entendem, estão me aguardando assim que a greve passar, mas já deixei de receber quatro diárias, as contas continuam correndo e sem esses R$ 600 que eu teria recebido, já estou com meu orçamento impactado."

Moradora de Cambé, a fiscal da Zona Azul Daiane Cristina da Silva, 24 anos, só está conseguindo trabalhar porque o trecho é coberto pela TIL. "Muitos colegas estão faltando. No primeiro dia da greve usaram os aplicativos de transporte, mas é inviável, o valor está fora de nosso alcance", declarou.

A salgadeira Lismara Tais de Paula, 30 anos, diz que a rotina em seu trabalho e em sua vida particular foi alterada. "Eu sempre vou para o trabalho de moto com meu marido e quando termino vou de ônibus. Nesses dias, ele está saindo mais cedo da empresa e me busca."

Moradora do sítio Coroados, na zona sul, ela diz que o ônibus leva cerca de uma hora para realizar o trajeto do sítio até seu ponto de parada de seu trabalho. "Eu não tenho condições de voltar caminhando e quando fiz uma simulação, o aplicativo ficou em R$ 50, sendo que saio do trabalho às 15 horas, um horário nem tanto procurado", reflete. "Meu marido é mecânico e está adaptando a rotina dele para poder me buscar. Isso complica pra todo mundo", acrescentou.

A desenhista Lívia Diniz, 40 anos, trabalha na região central e mora no jardim Interlagos, na zona leste. "Desde a pandemia, em razão de o ônibus serem lotados, optei por usar o transporte de aplicativos. Sempre paguei em torno de R$ 7 e além de menos exposição ao coronavírus, otimizo meu tempo. Agora com a greve dos ônibus, o valor subiu absurdamente. Os dois aplicativos que pesquisei agora, às 17 horas, apontaram o valor de R$ 17."

Indignada, a mãe de Diniz, a cantora Marta dos Santos, 74 anos, reflete: "Era tão baratinho, praticamente o valor do ônibus e por isso que as pessoas estão insatisfeitas e com razão", pensou. Após algumas tentativas, Diniz opta por aguardar e, após o rush, conseguiu uma corrida mais em conta: "Ufa, R$ 12. Vou confirmar rapidinho porque daqui a pouco sobe porque há escritórios, supermercados e outros profissionais que precisam ir para casa."