Rotavírus se espalha no Acre
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quinta-feira, 19 de outubro de 2000
Eduardo Scolese Agência Folha De São Paulo
A doença rotavírus, que já matou pelo menos 29 crianças neste ano em Feijó (AC), poderá se espalhar para as demais cidades do Estado -que também possuem sérios problemas com os serviços de saneamento básico.
O alerta partiu do médico Jackson Vaz, responsável pelo único hospital de Feijó. Para ele, a falta de infra-estrutura nos municípios acreanos poderá causar o alastramento do vírus.
O rotavírus é um microorganismo que surge de forma inofensiva e permanece alojado no sistema digestivo dos adultos. Mas, quando é liberado pelas fezes e entra em contato com a água não-tratada, ele se transforma em um vírus muito perigoso para as crianças desidratadas.
O rotavírus é um dos principais causadores de diarréia viral e gastroenterite (inflamação simultânea do estômago e dos intestinos) e atinge na maioria dos casos crianças menores de cinco anos.
Esse vírus pode ser adquirido pelo ar ou pela água e deve ser combatido exclusivamente por meio da hidratação.
Nos últimos dois meses, o Hospital Municipal de Feijó tem atendido diariamente de 30 a 50 crianças com algum dos sintomas desse vírus -como diarréia, vômito, febre alta, náusea e cólica.
Ontem, cinco técnicos do Ministério da Saúde chegaram à cidade para intensificar o trabalho de conscientização da população local a respeito do combate a esse vírus.
A morte de 29 crianças contaminadas pelo rotavírus neste ano já superou em 31% o número de casos (22) registrados na cidade em todo o ano passado. Somente neste mês, a doença já matou 15 crianças.
De janeiro até agora, o número de crianças contaminadas que foram internadas no hospital da cidade cresceu 106% em relação a 1999. Nesse período, o número de internações avançou de 143 para 295 casos.
O Centro de Vigilância Epidemiológica do Acre, com sede em Rio Branco, divulgou hoje o resultado dos testes realizados nas amostras de fezes colhidas de sete crianças que ainda estão internadas no hospital de Feijó. O resultado apontou quatro casos de contaminação pelo rotavírus.
Para o diretor do departamento de ações básicas de saúde da Secretaria Estadual da Saúde, Amsterdã Sandres, a atual preocupação da secretaria é apenas com a contenção dos casos de contaminação em Feijó. Segundo ele, não há motivos para temer o alastramento da doença para outras cidades do Estado.
No interior do Acre, o transporte é feito basicamente por meio de barcos. Eu não acho provável que crianças contaminadas com esse vírus viajem para outras cidades. Só em último caso poderemos fazer barreiras sanitárias para evitar o alastramento da epidemia pelo Estado.