Paris, 16 (AE) - A tese do médico francês Jean Pierre de Mondenard, especialista em química, publicada no jornal Le Figaro, sábado, é preocupante: "Para aguentar, esse jogador, provavelmente, sofreu infiltrações de antiinflamatórios à base de corticóides", afirma. "Ora, é preciso saber que, com esse tipo de tratamento, o risco secundário de ruptura do tendão da rótula aumenta consideravelmente."
O brasileiro Marco Amatuzzi, ortopedista e especialista em traumatologia, afirma que os médicos dos clubes fazem infiltrações em jogadores para poder recuperá-los a curto prazo, sem pensar no futuro, e acabam prejudicando demais a carreira deles. "Hoje foram provados efeitos negativos de infiltrações de antiinflamatórios à base de corticóides; elas causam, a longo prazo, a morte do tecido e a ruptura do tendão no local em que foram aplicadas", comenta. Para Amatuzzi, o joelho de Ronaldo nunca mais vai ser o mesmo. "Em joelho, só se faz uma operação; se o Ronaldo já fez outras, é porque houve insucesso nas anteriores."
O médico Piero Volpi, da Inter de Milão, clube ao qual o atacante está vinculado, não reagiu com ênfase aos argumentos: "O jogador nunca abusou de antiinflamatórios para combater a sua tendinite anterior; ele só utilizou antiinflamatórios em certas ocasiões, como muitos outros futebolistas."
O professor Mondenard não parece aceitar essas explicações, convencido de que a recaída de Ronaldo era mais do que previsível. "Os dois joelhos, frequentemente, frearam o ímpeto do jogador, notadamente durante a Copa do Mundo de 1998", declara. "Seu jogo, cheio de potência, suas mudanças bruscas de ritmo, seus bloqueios em plena corrida, submeteram, evidentemente, suas articulações e seus tendões a duras provas"
acrescenta. "Os médicos de Ronaldo sabiam que ele sofria de um grave problema e para combatê-lo prescreveram regularmente o medicamento Voltaren, um forte antiinflamatório."
Argumento desastrado - Os médicos de Ronaldo, incluindo Gerard Saillant, que realizou a cirurgia de 30 de novembro, afirmam que se trata de um atleta com uma musculatura tão extraordinariamente potente, que, a cada instante, seus joelhos se encontram no limite da ruptura. Para Mondenard, "trata-se de um argumento desastrado", pois essa descrição corresponde "ao perfil exato do esportista dopado".
A seu ver, quando um atleta desenvolve o corpo de forma natural, os tendões se reforçam ao mesmo tempo que os músculos. Se existe um desequilíbrio entre a força de uns e da resistência de outros, isso quer dizer que os músculos devem ter sido engrossados com produtos químicos.
Mondenard considera que as explicações dos médicos do craque têm sido pouco convincentes. Depois da operação de 99, Ronaldo só teve quatro meses e meio de reeducação. "Muito pouco tempo"
afirma o professor, que está certo de que houve precipitação na volta, admitindo que o prazo estabelecido para essa nova fase é bem mais razoável. Ele conclui seu artigo com um conselho ao jogador, internado no Hospital La Pitié Salpetriére: "Se Ronaldo não tem pretensões de encontrar, numa aposentadoria antecipada, alguns de seus antigos ídolos como Van Basten e Just Fontaine, deve ouvir mais seus joelhos e bem menos as pessoas que o cercam."
Internet - Nem toda a verdade pôde ser dita até agora a Ronaldo no seu leito de hospital, em Paris, para preservá-lo às vésperas do início de uma nova fase de reeducação, que será muito mais difícil e mais longa do que a primeira.
Os discursos feitos pelo professor Gerard Saillant para o atleta e para a imprensa nem sempre são exatamente os mesmos. Isso porque antes dos seus médicos e do método do fisioterapeuta Nilton Petroni, o Filé, a recuperação de Ronaldo, daqui para a frente, vai depender muito mais dele, de sua determinação, de manter seu moral elevado e de seu estado psicológico. Por isso, seus assessores têm procurado isolá-lo do mundo.
Desde hoje, entretanto, essa situação começou a mudar, pois Ronaldo passou a acionar a Internet, tendo acesso às informações que estão sendo publicadas sobre ele em todo o mundo. As visitas também têm sido filtradas, numa tentativa de poupá-lo de notícias, que poderão abalar seu moral após a contusão e a cirurgia de quinta-feira, que vai obrigá-lo a recomeçar tudo do zero. Até o programa de recuperação estabelecido por Gerard Saillant, tido como uma estrela da ortopedia, tem sido duramente contestado.