Rio, 03 (AE) - A interdição da Rodovia Presidente Dutra na altura de Resende (RJ) provocou o cancelamento de todas as saídas de ônibus com destino a São Paulo do Terminal Rodoviário Novo Rio a partir do início da manhã de hoje. O problema provocou confusão no setor de embarque e prejudicou muitas pessoas. Até as 16 horas a venda de passagens permanecia suspensa.
Uma grande confusão se formou nas plataformas de acesso do setor de embarque. Muitas pessoas tentavam, sem sucesso, obter informações sobre novas partidas. "Está tudo suspenso e não há previsão de retorno das vendas", explicava o agente da Viação Expresso Brasileiro, José Valdir da Silva. "Em 26 anos de rodoviária, essa é a primeira vez que vejo uma confusão desse tamanho, de precisar cancelar tudo."Segundo ele, 63 saídas da empresa foram canceladas.
As empresas estavam devolvendo o valor (R$ 30,00) pago por bilhetes comprados antecipadamente. Algumas pessoas optaram por embarcar em ônibus clandestinos que faziam um percurso alternativo, pela BR-101 (Rio-Santos), cobrando os mesmos R$ 30 00.
Jessé Vinícius da Silva Rodrigues, de 7 anos, que tem cirrose hepática, não conseguiu embarcar no horário previsto e perdeu a consulta que faria no Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo. De acordo com a mãe de Jessé, a costureira Carmen Lúcia da Silva, de 41 anos, o menino está há sete anos na fila de espera por uma cirurgia de transplante de fígado.
"Estou bastante preocupada, não quero nem pensar, se tivesse condição eu pegava um avião agora", lamentou Carmen, ao ser informada de que estava suspensa por tempo indeterminado a venda de passagens. Jessé limitava-se a repetir duas palavras: "fígado" e "médico".
A principal preocupação da mãe é com a possibilidade de o filho perder o lugar na fila de espera por órgãos: "Creio que vou ter de aguardar uma vaga por mais alguns anos." Ela trabalha como vendedora ambulante na Avenida Brasil e os dois moram em Bangu, na zona oeste do Rio. "Vendo água e coca-cola para comprar os remédios." Ela não quis vaijar com os ônibus clandestinos. "Não confio em ônibus pirata", disse Carmen.
A Assessoria de Imprensa da Central de Transplantes da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo informou que Jessé precisa fazer exames de avaliação pelo menos a cada dois meses no HC enquanto espera um lugar na fila, e garantiu que a consulta será "automaticamente transferida para o dia 5".
As estudantes Kátia Tavares, de 23 anos, e Mariana Pacheco, de 21, moram em Santo Amaro e vieram ao Rio para passar o réveillon na Praia de Copacabana. "Vamos ter de ficar mais alguns dias no casa de uma amiga", disse Kátia, depois de telefonar para casa e avisar os pais sobre o problema. "Meu filho vai perder as aulas de recuperação e pode ser reprovado", disse a manicure Vandercy de Mello, que esteve no Rio com a família para ver os fogos em Copacabana.