Rio, 23 (AE) - O economista Roberto Campos foi eleito hoje para a cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras (ABL), com 20 votos. A professora e ensaista Bella Josef teve 16 votos. Campos vai ocupar a cadeira que era do dramaturgo Dias Gomes. A sessão durou 20 minutos. O resultado, considerado apertado pelos outros imortais, não surpreendeu o novo acadêmico. "Sou uma pessoa controversa, não sou um homem de unaminidades", disse o economista ao receber a notícia de Antônio Olinto, um de seus cabos eleitorais.
Foi uma eleição polêmica, pois desde o lançamento da candidatura de Roberto Campos houve manifestações de apoio e repúdio, mais em função de suas posições políticas que do valor literário de seus escritos. Ele já havia ganho o prêmio José Hermínio de Moraes, em 1995, por sua autobiografia "Lanterna na Popa". A polêmica surpreendeu Roberto Campos. "Eu achava que a academia era uma instituição cultural, desligada da política e que esta discussão sobre direita e esquerda fosse obsoleta", disse.
Dos 37 acadêmicos com direito a voto, 16 compareceram à academia e outros 20 mandaram o voto por carta. O escritor Jorge Amado não compareceu nem votou o que, pela tradição acadêmica, é uma manifestação de desagrado por todo processo eleitoral. As três mulheres da ABL não foram à sessão, mas mandaram seu voto. A escritora Nélida Piñon está nos Estados Unidos, Lygia Fagundes Telles ficou em São Paulo e Rachel de Queiroz, adoentada, não pôde sair de casa. Mas ela foi a única a declarar seu voto, favorável ao vencedor.
Os outros acadêmicos se dividiram. Antônio Olinto comemorou e foi o primeiro a dar os parabéns a Roberto Campos. Celso Furtado e Evandro Lins e Silva não quiseram falar. "Eu não vou quebrar a unaminidade da Academia, mas quem me conhece sabe em quem votei", disse o escritor João Ubaldo Ribeiro. E Marcos Madeira fez questão de declarar seu voto para Bella Josef. "O voto secreto é o maior boato da legislação política brasileira", justificou-se.
Esta é a terceira vez que Roberto Campos se candidata à ABL. Nas outras duas, perdeu para o historiador José Scatinburgo e para o diplomata Sérgio Rouanet. Sua posse ainda não está marcada, mas em março do próximo ano haverá nova eleição, já com quatro candidatos, entre ele o escritor e jornalista Carlos Heitor Cony.