Rio transborda e interrompe tráfego na Dutra por 18 horas; congestionamento chegou a 26km
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segunda-feira, 03 de janeiro de 2000
Por Andreia Maia
Rio, 03 (AE) - Milhares de pessoas que estavam na Rodovia Presidente Dutra na noite de domingo e na madrugada de hoje viveram horas de agonia e terror. O transbordamento do rio água Branca, em Itatiaia, no Estado do Rio, interditou totalmente a estrada por quase 18 horas. Muitas pessoas passaram a noite presas no congestionamento, que chegou a 26 quilômetros. Quem partiu do Rio em direção a São Paulo chegou a levar 20 horas para cumprir o percurso.
Cerca de 50 pessoas ficaram horas retidas no alagamento, à espera de socorro. Provocado pelo excesso de chuvas, o alagamento ocorreu no km 330, em Engenheiro Passos, distrito de Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, e paralisou o tráfego no sentido Rio-São Paulo. A interdição começou às 20h30 horas de domingo e a estrada foi precariamente reaberta às 14h15 horas de hoje.
Voltou a chover e às 18h20 de hoje a queda de uma barreira perto de Resende (RJ) bloqueou a pista novamente . Às 19 horas havia 12 quilômetros de congestionamento no sentido Rio-São Paulo. De acordo com a concessionária NovaDutra, que administra a rodovia, pelo menos 9 mil veículos foram prejudicados.
Prejuízos - Alguns motoristas que tiveram seus carros destruídos afirmaram que vão processar a NovaDutra por danos materiais. No domingo era grande o fluxo de veículos na rodovia, por causa do feriado de réveillon. Segundo alguns motoristas, os funcionários da NovaDutra não os avisaram que já havia alagamentos na pista. E empresa afirma que naquele momento não sabia do problema.
"Chovia muito e os funcionários que estavam no primeiro pedágio diziam que o tráfego estava tranquilo", disse o bancário Flávio Marcos Amorim, que seguia do Rio para Guaratinguetá, no Vale do Paraíba. "Quando ultrapassei o segundo pedágio, no km 330, deparei-me com uma piscina." Amorim teve o seu Palio destruído pela água. Ele viajava com a mulher e os três filhos. "Só tive tempo de tirar as crianças pela janela."
Após passar mais de 10 horas retidos na Dutra, muitos motoristas ainda estavam revoltados e acusavam a concessionária de displicência. "Um grupo de motoristas pediu aos funcionários do segundo pedágio, na altura de Engenheiro Passos, que quebrassem a mureta com máquinas e liberassem a pista de sentido contrário para nos tirar da água", contou o comerciante Reinaldo Machado, de 55 anos, que saiu do Rio e esperava chegar a São Paulo por volta das 23 horas. Não conseguiu.
Pedágio - Alguns motoristas afirmaram que a NovaDutra os reteve no segundo pedágio das 21 horas até a meia-noite. "A Dutra prendeu todo mundo para cobrar o novo preço do pedágio", afirmou Nilton Omero, de 29 anos. O preço do pedágio subiu de R$ 3,60 para R$ 3,80. "Em seguida, nos lançaram ao matadouro", afirmou, referindo-se ao alagamento que havia mais adiante, no km 330
"Foram momentos de horror e desespero", disse, chorando, a publicitária Dilva Alves de Jesus, de 38 anos. Ela saiu do Rio no domingo, por volta das 16 horas e até as 16 horas de hoje esperava condução para seguir viagem até a capital paulista. Dilva perdeu seu carro no alagamento.
Barreira - Em Lavrinhas (SP), a queda de uma barreira durante a madrugada provocou a interdição de uma das pistas da Dutra. Isso causou um congestionamento de 8 quilômetros no sentido Rio-São Paulo. Em Queluz, quase na divisa com o Rio, havia lentidão pela manhã por causa do problema no trecho fluminense.
A falta de informações foi a maior queixa de motoristas e passageiros. "Ninguém informava para a gente o que ocorrendo", disse o aeroviário Raul Alves de Abreu Filho. Ele tinha uma passagem de avião em aberto, mas ao chegar ao Aeroporto Santos Dumont, por volta das 18 horas, foi informado que só poderia embarcar de madrugada. "Achei que chegaria mais rápido de ônibus." Ele ficou sabendo da gravidade do problema quando já estava viajando.
Bom-humor - Brasilina Quinto Carvalho, de 80 anos, que viajava no mesmo ônibus, ainda conservava o bom humor ao chegar no Terminal Rodoviário do Tietê, em São Paulo. "Ainda bem que houve solidariedade e o pessoal dividiu a comida", contou ela. "Até foi bom porque pude fazer novos amigos."
Ao contrário dela, o motorista Cícero José Dantas, que deixou o Rio às 23h30 de ontem (02) e completou a viagem só às 18 horas de hoje, reclamava bastante. Principalmente da falta de informações e assistência por parte da NovaDutra. "Foi horrível
espero nunca mais passar por isso de novo."