No cruzamento das avenidas Rio de Janeiro e Paraná, o pedestre aguarda o semáforo fechar para atravessar a rua pela faixa. Enquanto os carros seguem o tráfego, o atento londrinense olha para o chão e repara no piso petit pavet. Quadriculado em preto e branco, ele resiste na quadra histórica entre placas de propaganda, ambulantes, gente colorida e o Ouro Verde.

Para a Acil, a ocupação da região incentiva o avanço da infraestrutura pública
Para a Acil, a ocupação da região incentiva o avanço da infraestrutura pública | Foto: Anderson Coelho/iStock

O sinal vermelho paralisa o trânsito e quem se move é o pedestre, que com poucos passos deixa o piso antigo e segue pelo Calçadão entre trabalhadores, comerciantes, passageiros de ônibus e os moradores que permanecem na região mais paradoxal de Londrina. Passado e presente, cultura e comércio, vazio e ocupação, e principalmente, lembranças e esperanças, fazem parte da região mais conhecida do município.

“Nós temos no centro de Londrina, os maiores ativos da cidade”, ressalta o diretor de relações institucionais da Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina), Gerson Guariente, que coordena o planejamento do grupo que deve discutir a revitalização da região a pedido do novo presidente da entidade, Angelo Pamplona.

Na avaliação de Guariente, a questão da área central é mais complexa do que apenas ações urbanísticas e lembrou que a degradação da região é um dos assuntos recorrentes no Núcleo de Desenvolvimento Empresarial, coordenado pela Acil há 13 anos, para discussão com as entidades da sociedade civil organizada sobre assuntos estratégicos que gerem emprego e renda em Londrina.

Nos próximos 12 meses, o Plano Diretor será discutido com a revisão de leis complementares, entre elas, a legislação de uso e ocupação do solo e as diferentes características da área central que podem entrar em pauta. “Todos os centros têm esse problema com necessidade de revisão, pois foram nas últimas décadas, os locais com melhores moradias das cidades. Mas com o passar dos anos, os centros foram substituídos por outras regiões”, analisa Guariente, empresário da construção civil, que já ocupou o cargo de presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) no Norte do Paraná.

Ele esclarece que a adaptação na legislação, especificamente para áreas centrais, é muito importante para incentivar a ocupação por moradias na região, um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento econômico.

“O comércio de rua vem depois da habitação, pois são essas pessoas que consomem na região. O centro de Londrina ainda tem uma vantagem, pois abriga cerca de 60% da população economicamente ativa da cidade, ou seja, os empregos ainda estão em sua maioria no centro. O comércio depende de quem mora, mas também pode ser utilizado pelos trabalhadores em trânsito, indo e vindo dos comércios e empresas”, explica.

Entre as mudanças na legislação, ele citou a desobrigatoriedade de 100% de vagas de garagem nos empreendimentos por causa da características dos compradores da nova geração, que muitas vezes, optam por trabalhar a pé, fazer compras na região e não possuem automóvel, pois usam transporte público ou por aplicativo. “Os lotes da área central também são menores comparados com outras regiões, resultantes do loteamento original da cidade”, acrescenta.

A ocupação também incentiva a infraestrutura pública. Apesar de o centro de Londrina ter escolas, serviços de saúde, transporte público, praças, museus, teatro e biblioteca, Guariente faz a ressalva que, hoje, o número de serviços para uso público é menor do que existia por conta da queda no números de moradores que utilizavam a rede pública de serviços.

O diretor da Acil tem expectativa da conclusão da primeira fase do projeto de revitalização até julho com definição das demandas, possíveis soluções, cronograma de ações e definição dos processos com matriz de responsabilidade.

SEGURANÇA

Entre as diferentes áreas que devem participar do projeto de revitalização do centro de Londrina estão os setores de Segurança Pública e Assistência Social. O aumento no número de furtos em comércios e arrombamentos noturnos é um dos principais problemas enfrentados pelos empresários e comerciantes na região. Além disso, os moradores também reclamam das ocupações de espaços públicos por pessoas em situação de rua. “A Assistência Social precisa estar conosco neste projeto, pois conforme ocorre a degradação do patrimônio, ocorre a ocupação de pessoas, que muitas vezes sem culpa, acabam ocupando o espaço que existe”, comenta Guariente.

Sobre a insegurança no comércio, ele diz que as praças que são ocupadas pela população não tem problemas criminais como em áreas menos ocupadas. Assim a habitação e uso dos espaços públicos com atividades esportivas e culturais também favorecem a segurança.

TEATRO MUNICIPAL

Coordenador do projeto de revitalização, Gerson Guariente cobra a retomada da construção do Teatro Municipal de Londrina, que foi paralisada em 2014 após a conclusão da primeira fase da obra, que permanece abandonada próximo ao Marco Zero.

Ele espera que o projeto urbanístico de ligação do Ouro Verde ao Teatro Municipal seja resgatado para a construção de um grande boulevard de cultura entre o Centro Histórico da cidade e a região do Marco Zero. “Vamos cobrar os entes públicos a finalização do projeto. Londrina é uma cidade cultural, muito forte, com muitas pessoas talentosas com diferentes projetos artísticos”, destaca.

O objetivo é buscar investimentos públicos, principalmente os recursos federais, para a conclusão do Teatro Municipal até os 100 anos de Londrina. O projeto foi escolhido em 2007 em um concurso nacional com obra prevista de 22 mil metros quadrados e cerca de 2.500 lugares. “Apesar da importância histórica, o Ouro Verde tem limitações de palco. O Teatro Municipal tem outra proposta com salas para diferentes apresentações. É um projeto ousado e Londrina é a cidade de coisas grandes”, analisou Guariente.

O diretor da Acil também tem objetivo de realizar a revitalização da área do Calçadão em frente ao Teatro Ouro Verde, que recebeu tombamento histórico. “A calçada (petit pavet) está deteriorada e precisa ser recuperada por questões históricas, mas a área em frente ao Ouro Verde precisa ser ocupada novamente, pois não dá para sequer andar no local. Concluir o projeto é importante para pedir recursos públicos para execução.”

Ele ainda defende o uso dos museus por estudantes e visitas guiadas no centro. “Os acervos dos museus Histórico e de Arte são maravilhosos. No mínimo, precisamos ter uma programação diária para estudantes da escolas públicas e particulares. Além disso, precisamos retomar o projeto de visita guiada pela região com cartilhas nos hotéis e restaurantes com passeios pelo Ouro Verde, Catedral, museus e praças no Centro de Londrina”, afirma.

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