Uma nova onda de calor já chegou na região de Londrina nesta quinta-feira (14) e deve ficar ainda mais intensa nos próximos dias. De acordo com o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento do Paraná), as temperaturas podem chegar à casa dos 37° no domingo (17), o que levanta o alerta para o cuidado com a saúde em meio ao calor excessivo. Por conta da perda de líquido, o ideal é consumir quatro litros de água por dia, além de muita fruta, sombra e protetor solar.

Reinaldo Kneib, meteorologista do Simepar, explica que o calorão é comum nesta época do ano, ainda mais pelo fato de que o verão começa oficialmente em 22 de dezembro. Segundo ele, essa nova onda de calor é motivada pelo tempo seco das últimas semanas, que fez com que a temperatura subisse gradativamente. Nos últimos dias, a temperatura já estava bem acima da casa dos 30° na região de Londrina, alcançando 34,1° nesta quinta-feira, de acordo com dados do Simepar.

O meteorologista pontua que a temperatura vai ficar alta até a próxima segunda-feira (18), sendo que no final de semana que antecede o do Natal a cidade deve enfrentar um calorão próximo a 37°C. “Vai ficar um pouco acima da média e vai ser desconfortável porque vai continuar seco até domingo”, adianta, complementando que na segunda a chuva retorna para a região, mas que não deve trazer grandes volumes de água. A média histórica das máximas para dezembro, na região de Londrina, é de 30,2°. Além da temperatura alta durante o dia, o calor também não vai dar trégua nas noites.

Kneib pontua que o principal fator que está causando essa nova onda de calor na região é uma massa de ar seco que está predominando em grande parte do centro-sul do Brasil, que se intensificou nos últimos dias. “Nós temos ausência de nuvens, então o Sol predomina desde as primeiras horas do dia, isso é um fator que acaba aquecendo bastante”, explica.

Além disso, segundo ele, outro ponto que vem fazendo com que as temperaturas subam é o vento, que está vindo das regiões Centro-Oeste e amazônica em direção ao sul. “Lá é bem mais quente do que aqui, então ele [vento] transporta um ar ainda mais quente para a nossa região”, ressalta, complementando que as frentes frias que se formam em países vizinhos, como a Argentina, não estão ganhando força para chegar até a região.

Por isso, a chuva que vai chegar à cidade na segunda-feira deve ser de curta duração e pouco volumosa. “Tanto que na terça (19) diminuiu um pouco o calor, mas mais por conta do aumento da umidade, da nebulosidade, do que por uma mudança na temperatura”, explica.

A poucos dias do início do verão, o meteorologista já adianta que o calor vai continuar um pouco acima da média nos próximos meses, o que pode trazer novas ondas de calor. “Mas é natural fazer bastante calor, é típico [da estação]”, reforça. Já em relação às chuvas, Reinaldo Kneib pontua a quantidade vai continuar dentro da média até março, quando termina o verão, com precipitações frequentes, principalmente de pancadas rápidas no meio e final da tarde.

MAL-ESTAR

A auxiliar de serviços gerais Rose Ribeiro, 53, saiu do trabalho e foi direto tomar um caldo de cana no Lago Igapó enquanto aguardava por uma consulta odontológica. Segundo ela, essa é a única forma de obter um alívio durante os dias quentes, já que ela costuma se sentir mal quando as temperaturas sobem. A pressão arterial dela costuma subir nos dias quentes, assim como enfrenta crises de dor de cabeça e labirintite. “Esses dias mesmo eu fui para na UPA [Unidade de Pronto Atendimento] porque eu passei mal e até desmaiei e eu tenho certeza que é por causa do calor”, afirma.

Além disso, Ribeiro ressalta que levantar da cama para trabalhar durante o verão é difícil, já que as noites costumam ser mal dormidas, o que acaba atrapalhando no trabalho e no restante das atividades do dia a dia. Apesar de garantir que bebe bastante água, ela conta que sempre esquece de passar o protetor solar antes de sair de casa para ir trabalhar.

O funcionário público Eduardo Queiroz, 40, e a esposa Vanessa Cascales, 42, estavam com a filha do casal, de 1 ano e três meses, tomando água de coco em uma sombra no Lago Igapó. Queiroz afirma que não gosta muito dos dias quentes, principalmente pelo fato de que costuma transpirar muito, o que acaba incomodando. Sobre os cuidados com a filha, eles contam que oferecem muita água para a pequena, assim como passam protetor solar e pomada para cuidar da pele da criança. “Ela não dorme bem [quando está muito calor], tem que ser no ar-condicionado para dormir”, afirma, complementando que as atividades com a filha nessa época envolvem muita sombra e ar fresco.

Neusa Gimenes Corrêa, 70, pontua que muito calor é ruim, mas que o frio também faz mal, então o clima ideal para ela é um equilíbrio entre os dois. Para tentar aliviar, ela conta que bebe muita água e só sai de casa em caso de necessidade. Já o comerciante Odair Ribeiro, 49, estava passando pelo Lago Igapó para resolver algumas pendências e resolveu parar para tomar um caldo de cana geladinho. “Eu gosto [do calor], mas não tão quente assim”, afirma, ressaltando que a solução é beber muita água para tentar se manter hidratado.

MELHORA NAS VENDAS

Se para alguns o calorão é sinônimo de reclamação, para outros é motivo de comemoração. Vilmar Barbosa, 34, tira toda a renda da família da venda de caldo de cana e água de coco em um ponto no entorno do Lago Igapó. Para ele, o aumento nas temperaturas representa também um crescimento nas vendas, ainda mais no fim de ano. O ambulante conta que nos finais de semana de calor intenso, como o previsto para os próximos dias, a venda costuma ser três vezes maior. “É o que faz diferença na renda da gente”, afirma.

Também na venda de caldo de cana, a ambulante Rosa Beijado Dela Coleta, 63, diz que não pode reclamar do calor, já que é o momento de aumentar as vendas. “No frio não vende quase nada de caldo de cana e água de coco”, relata.

CUIDADOS COM A SAÚDE

O pneumologista Elias Ribeiro esclarece que mudanças bruscas de temperatura, como as ondas de calor, fazem com que o corpo humano consuma mais líquido para que possa manter a homeostase, que é a temperatura corpórea na casa dos 36,5°. “A gente precisa tomar mais água porque se a gente não colocar mais água no organismo nós vamos ter alterações na parte circulatória, em que você altera a composição do sangue fazendo com que haja uma dificuldade na circulação em todo o organismo”, explica.

Por conta disso, o especialista afirma que o risco para derrames, por exemplo, aumenta, principalmente para quem já tem uma predisposição. Além disso, quadros de insolação, desidratação e gastroenterite (diarreia), principalmente por conta de mudanças nos hábitos alimentares, também são frequentes. “Por isso é muito importante no calor tomar bastante líquido, se hidratar, porque a perda de líquido é muito grande para manter a temperatura do corpo ideal”, ressalta, complementando que o suor é uma forma de manter a homeostase do corpo, mas que acaba fazendo com que a pessoa perda muito líquido no processo. O médico exemplifica que se em dias normais o recomendado é consumir dois litros de água, com o calor excessivo a recomendação vai para mais de quatro litros por dia.

Além disso, o aumento nas temperaturas também pode fazer com que a pressão arterial suba, o que pode desencadear lesões no sistema nervoso central, rins e até problemas relacionados ao coração, como infartos.

Ribeiro aconselha deve-se optar pelo consumo de frutas, verduras e legumes, que têm bastante líquido, assim como evitar a exposição ao sol durante o período das 10h às 16h. Segundo ele, nesse período a perda de líquido por conta do calor é maior e a incidência dos raios solares é mais intensa, o que pode contribuir no desenvolvimento de câncer de pele.

O pneumologista ressalta que o calor é o vilão das vias aéreas superiores, como a cavidade nasal, os seios nasais e a faringe, que fazem a ligação do meio externo com o pulmão. “Essas vias superiores ficam muito comprometidas devido ao calor e muito ar seco e isso propicia o processo inflamatório das vias aéreas”, explica, pontuando que caso as pessoas notem febre, tosse ou secreção, o ideal é procurar um médico, já que pode ser um quadro de infecção.