Professora do Departamento de Ciências Sociais da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e coordenadora do Neab (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros), Maria Nilza da Silva ressalta que os dados do IBGE não surpreendem e refletem os problemas existentes em todos os níveis educacionais e sociais no que tange à questão racial. “Quando se trata de educação em qualquer nível, tanto na educação básica, quanto no ensino médio e superior, a prioridade da população negra é a sobrevivência. Então, muitas vezes ele é obrigado a abandonar a escola para trabalhar, muitas vezes já nos anos iniciais”, lembra.

Com mais de 30 anos dedicados à pesquisa sobre relações raciais, população afro-brasileira e imigração negra no Brasil, Maria Nilza lembra da importância de se colocar em prática o que preconiza a lei 10.639, sancionada em 2003 e que trata da formação continuada dos professores. A lei trouxe a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, o que, segundo ela, promove o enriquecimento intelectual de todos os alunos enquanto se cria o ambiente favorável à permanência do estudante negro no sistema de ensino.

“Porque muitas vezes eles (os professores) não sabem lidar com manifestações de racismo no seio escolar e a criança acaba evadindo, muitas vezes não se sente bem, é vítima de chacota, perseguição, piadas. Isso tem um impacto muito grande, muitas vezes fazendo com que a pessoa entre em depressão e também afeta a produtividade deste estudante. Muitas vezes o jovem é levado a evadir, mas não se fala que é a questão racista. É o trabalho e o fato de não se sentir confortável”, completa.

Na UEL, o sistema de cotas para negros e estudantes de escolas públicas está em vigo desde 2005. Em 2017, além de firmar o compromisso com a vigência da política por mais 20 anos, o Conselho Universitário da UEL e o Cepe (Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão) aprovaram a reserva de 5% das vagas para alunos negros de qualquer percurso escolar. Este mecanismo permite a “migração” de um aluno cotista que teve ótimo desempenho para as vagas universais para que esta vaga seja utilizada por outro aluno cotista.