Reconhecimento de ribeirinhos da Ilha do Mel gera vacinação massiva
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 09 de julho de 2021
Vitor Ogawa - Grupo Folha
A população adulta residente da Ilha do Mel, ilha costeira situada na Baía de Paranaguá (PR), afirma sentir-se mais protegida diante da pandemia da Covid-19 com a recente imunização de quase 90% dos moradores com idade acima dos 18 anos.
De acordo com o monitoramento de vacinação realizado pela Sesa (Secretaria Estadual de Saúde), cerca de 1309 ribeirinhos foram vacinados em Paranaguá até o momento, sendo boa parte na Ilha do Mel - cerca de 800, de acordo com a associação local. A Prefeitura de Paranaguá anunciou que a meta é ter uma cobertura vacinal de 100%, com a 1ª dose ou dose única, já nas próximas semanas.
A vacinação massiva da população adulta só ocorreu porque o estado do Paraná reconheceu as comunidades tradicionais da Ilha como tais. Na 6ª versão do Plano Estadual de Vacinação do Paraná, ribeirinhos estão posicionados em 8ª lugar no grupo prioritário de vacinação.
A assessora jurídica da Terra de Direitos, Jaqueline Andrade, ressaltou que essa mudança de priorização no plano estadual de vacinação se deve especialmente à luta dessas comunidades. “Cada povo tem a sua organização que o representa. Através desse conjunto de comunidades ocorre a articulação em nível estadual para esse enfrentamento nessa luta e conquista dos direitos dessas populações. A gente tem um conselho a nível estadual que se chama Cepict (Conselho Estadual dos Povos e Comunidades Tradicionais), que fica na Secretaria de Justiça do Estado do Paraná.” Ela explicou que esse conselho exerce um papel importante no sentido de angariar as faltas dos povos mais tradicionais do Estado do Paraná e fazer uma pressão direta nos órgãos responsáveis do governo. “Ele é um espaço central nesse papel de pressionar as demandas desses povos de comunidades tradicionais para além das lutas individuais desses povos de comunidades tradicionais com relação aos pescadores e ribeirinhos. No caso da Ilha do Mel houve uma solicitação por vários ofícios que a associação que a gente assessora, a Animpo (Associação dos Nativos da Ilha do Mel), que foram direcionados para a Secretaria de Saúde tanto no nível de governo estadual como da Secretaria de Saúde de Paranaguá.
O auxiliar de escritório, Iago da Rocha Ribeiro, possui 21 anos e é vice-presidente da Animpo e ele já foi vacinado por ter sido enquadrado como ribeirinho. “Aqui temos em torno de 1200 habitantes entre Encantadas e Nova Brasília. Tivemos uns casos isolados de Covid-19 no lado de Nova Brasília e depois também teve um aumento significativo que deu em torno de umas 15 pessoas seguidas. Eu fui uma dessas pessoas que pegou Covid.”, declarou. “Aqui, na Ilha do Mel, duas pessoas tiveram sintomas mais graves que precisaram ir para um hospital de Paranaguá para receber oxigênio”, apontou.
A estudante Thais Rocha, 27, moradora da Ilha do Mel, também já foi vacinada. “Recebi a primeira dose e a segunda dose será em setembro. Para mim foi ótimo receber a vacina e também dá um pouco mais de esperança para a gente de voltar tudo ao normal”, apontou. A futura Assistente Social relatou que se assustou bastante quando chegaram as primeiras notícias da pandemia. “O pai da minha cunhada faleceu de Covid. Quando chega até você esse tipo de notícia te afeta bastante”, declarou.
O secretário estadual da Saúde, Beto Preto, afirmou que Paranaguá recebeu mais doses, principalmente para o grupo de portuários e ribeirinhos e Guaraqueçaba recebeu para os quilombolas e indígenas. “Cada cidade tem o seu contexto e já recebeu algum tipo de dose a mais ou a menos de acordo com o grupo de prioridades que o próprio Ministério da Saúde montou. Agora nós fizemos um acordo para chegar ao quantitativo principalmente aos municípios que ficaram um pouco para trás. Paranaguá fez um grande trabalho de vacinação.”, destacou. “Até agora a gente só tem que ressaltar a mobilização da cidade. Quando chegou o momento de vacinar os portuários a cidade se uniu com a autoridade portuária de Paranaguá e Antonina. Ali foi um trabalho muito bacana, então vamos continuar o trabalho. Vamos continuar nossos processos de trabalho para fazer também chegar a vacina a quem não recebeu”, apontou.
O diretor da 1º Regional de Saúde, em Paranaguá, José Carlos de Abreu, afirmou que o processo de vacinação no litoral não foi fácil. “Fomos em locais isolados de helicóptero, de barco e mesmo assim a população foi receptiva. Não tivemos recusas. A maioria das pessoas aderiu tranquilamente às vacinas. Uma das questões que poderia ter melhor resultado se desde o início houvesse a disponibilidade da vacina Janssen, por ser de dose única para esses locais de difícil acesso. Isso facilitaria o trabalho. As que foram disponibilizadas eram da Astrazeneca, mas isso não é um impeditivo para uma boa cobertura”, destacou.
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