Quem não tem o registro sofre com a insegurança
PUBLICAÇÃO
domingo, 06 de fevereiro de 2000
Agência Estado
Muitos dos milhões de trabalhadores que saem de casa todas as manhãs para um emprego informal já tiveram uma ocupação com carteira assinada, mas nunca mais conseguiram fazer valer esse direito. Por isso, eles dependem de amigos os testas-de-ferro do bem, que podem comprovar renda para fazer compras a crédito, para conseguir alugar uma casa ou para obter um empréstimo.
Eles contam que suas vidas são difíceis e movidas pelo medo de sofrer um acidente de trabalho (não têm seguro, como os formais, e assim não esperam compensação de espécie alguma), de chegar à velhice sem uma aposentadoria (não contribuem com a Previdência Social), e de emergências de modo geral, pois não recebem nunca um dinheiro extra (abonos de férias, 13º salário, participação nos lucros) para a poupança.
Cícero dos Santos, de 33 anos, foi registrado em uma empresa durante três anos, até 1992, no setor de pintura de manutenção. Depois, na mesma função, foi registrado num grande clube de São Paulo. A partir de 1995, só conseguiu ocupação sem carteira assinada. Ele não conta mais com aposentadoria, pois, por falta de recursos, não pôde contribuir nem como autônomo nos últimos anos.
Enquanto sou moço, tomo cuidado para evitar acidentes e peço a Deus saúde para trabalhar, diz. Espero conseguir montar um negócio próprio para garantir meu futuro, porque sei que não vou me aposentar nunca.
Mas a saúde pode pregar peças nas pessoas, lembra Cerali Antônia de Camargo, de 39 anos, que durante mais de 10 anos foi enfermeira registrada de vários grandes hospitais da cidade. Há nove anos perdeu o último emprego formal e não conseguiu mais registro em carteira está todo esse tempo prestando diariamente serviços de enfermagem ao mesmo cliente, mas sem nenhum direito legal. Antes, ela tinha direito a plano de saúde. Mas foi justamente depois que virou informal que Cerali precisou de uma cirurgia renal.
Esperei dois anos por uma vaga para fazer a operação, disse. Se o caso fosse mais grave, teria morrido, ela lembra. Mora numa casinha de propriedade do pai, a quem paga aluguel.