Lisboa - A aula sobre "as ações do Brasil no enfrentamento da Covid-19", proferida pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ocorreu sob protestos de brasileiros na Universidade de Lisboa. Alvo de intensas críticas na última semana e com uma manifestação convocada para a porta do evento, a palestra, que seria presencial, passou a ser somente virtual. O anúncio foi feito pela instituição horas antes do início da aula, na manhã desta terça-feira (26).

Cerca de 50 pessoas se reuniram nas imediações da universidade para protestar contra a presença de Queiroga
Cerca de 50 pessoas se reuniram nas imediações da universidade para protestar contra a presença de Queiroga | Foto: Paulo Mumia/Agência Enquadrar/Folhapress

Apesar da mudança, cerca de 50 pessoas se reuniram nas imediações da universidade para protestar contra a presença de Queiroga. Já o vídeo de transmissão da aula foi inundado de comentários contrários à fala e à presença do ministro.

"Foi uma grande vitória nossa [que o evento tenha passado a ser on-line], mas nós queríamos era que cancelassem. Porque não há nada que esse ministro tenha para dizer aqui", disse à Folha a professora e pesquisadora Elisângela Rocha, uma das organizadoras da manifestação. "O que ele veio dizer a Portugal, que é hoje um dos países com melhor desempenho no combate à pandemia? É o contrário do que aconteceu no Brasil."

A faculdade de medicina da Universidade de Lisboa também foi criticada por ter convidado o ministro. Em nota publicada pela agência de notícias Lusa, o diretor da faculdade de medicina, Fausto Pinto, justificou a presença de Queiroga como sendo "um médico cardiologista, ministro da Saúde de um país amigo". "[Queiroga] vem visitar a nossa faculdade, pelo que foi convidado, como acadêmico, a proferir uma conferência, tendo escolhido o tema que entendeu. A universidade será sempre um espaço aberto, sem tabus ou preconceitos", completou.

O titular da Saúde chegou ao evento mais de uma hora antes da palestra e da concentração dos manifestantes. Não viu pessoalmente, portanto, os cartazes que o descreviam como "ministro da morte", expunham os crimes dos quais ele é acusado e se referiam ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como "genocida".

Além dos atos, porém, foi a proibição da entrada de jornalistas que deixou repórteres portugueses perplexos. "Eu sou jornalista há 30 anos, há 25 anos trabalho para a rádio católica portuguesa, e nunca havia sido impedido de entrar onde quer que fosse, para falar com quem quer que fosse. Aconteceu-me aqui pela primeira vez", contou João Cunha, jornalista da Rádio Renascença.

Segundo ele, houve uma mudança de última hora em relação à presença de convidados e do público em geral. "Minha entrada como jornalista foi barrada. Havia pessoas constantemente a avisar-me que não seria possível fazer perguntas. E o mais estranho é que teria sido a pedido da embaixada do Brasil. Nós, pelo menos aqui deste lado do Atlântico, não estamos acostumados com isso", completou Cunha.

Em nota, o órgão brasileiro negou que a decisão de barrar a imprensa tenha partido dos diplomatas. "A embaixada não participou do processo decisório sobre o evento, tendo apenas sido informada pela assessoria do ministro de que o formato do evento havia sido alterado de presencial para on-line pela universidade".