Pelas ruas e avenidas de Londrina quase não houve fluxo de veículos e pessoas neste domingo (22). Os bombeiros continuaram emitindo o comunicado pelos alto falantes para que as pessoas voltassem para suas casas logo pela manhã, para que o contágio não chegue nos estágios que alcançaram em outros países, como na China e na Itália.

A vendedora autônoma, Marliane Banach, foi uma das pessoas que não obedeceu o pedido para ficar em casa e estava praticando atividade física no Lago Igapó e foi uma das que ouviu a mensagem dos bombeiros. “Eu vim dar uma corridinha de manhã para dar uma relaxada, Não aguento ficar em casa trancada”,declarou. Sobre os pedidos para que as pessoas fiquem em casa, ela disse que as medidas estão corretas. “Nós é que estamos errados”, declarou. Mas a ausência de frequentadores para a prática de atividade física no mais famoso cartão postal da cidade foi visível.

A Catedral Metropolitana de Londrina, no Centro da cidade, estava com os portões fechados, assim como a igreja Assembleia de Deus da rua São Vicente, também no Centro. Não havia movimentação de pessoas nesses espaços. Na feira livre da rua Alagoas, a última a ser realizada antes da interrupção do serviço, também foi marcada pela presença de poucas pessoas circulando por ela.

No posto de combustíveis da avenida Juscelino Kubitschek, a funcionária Jéssica Taiane Rodrigues destacou que só havia atendido 15 veículos até o fim da tarde, quando deveria ter atendido pelo menos 50 deles no mesmo período. “Vai prejudicar bastante o faturamento. Hoje ninguém comprou na loja de conveniência. A gente fica com medo porque a gente não sabe se vão dispensar alguém”, declarou.

Na loja de conveniência do Pátio São Miguel a balconista Kawany Haura destacou que o movimento foi 80% mais fraco do que em outros domingos. “Aqui eu vi entrar uns 20 clientes. A maioria do atendimento está sendo feito por meio de entregas. Olhando láfora são poucos carros circulando e de pedestres há quase nada.”

Na PR-445, em que geralmente trafegam muitos caminhões, havia poucos veículos de passeio circulando. No pátio de um hipermercado da cidade, quase não havia carros estacionados.

A avenida Madre Leonia Milito também estava desértica. No balcão de uma farmácia que fica na via, faixas vermelhas delimitam a distância que os clientes devem manter dos funcionários, que estavam todos de máscaras. Logo na entrada havia um aviso que o estabelecimento criou um horário de atendimento preferencial de idosos entre 7 e 9 horas da manhã.

No Jardim Primavera (zona norte), a comerciante Cida Aguiar, 73, também reclamou da queda do movimento. “Hoje era o último dia de comércio aberto e mesmo assim atendi no portão quando as pessoas pedem. Ela afirma que a partir de segunda- feira fechará o seu comércio para atender o decreto municipal. “Até passar esse vendaval vou deixar fechado”, declarou. Mas ela se preocupa com a sua filha de 50 anos que a ajuda no bar. “Minha filha está há três dias com febre alta, tossindo e com dor de cabeça. Eu estou me preservando ao máximo. Não estou saindo na rua porque eu já tenho pressão alta e arritmia. Estou no grupo de risco”, declarou.

Mesmo em municípios vizinhos, o esvaziamento se repetiu. Cambé, Rolândia e Ibiporã, que normalmente possuem ruas movimentadas, estavam com poucas pessoas circulando. Aservidora pública Flávia Yoshitami de Lima reside ao lado da agência da Caixa, no Centro de Ibiporã, e observou que a feira livre estava com poucas pessoas pela manhã e à tarde a avenida ficou com poucos veículos trafegando. "O único lugar que teve movimento foi o caixa eletrônico da Caixa,mas só pela manhã", declarou.

CLOROQUINA

Desde que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, afirmou que a hidroxicloroquina vem se mostrando eficaz no tratamento do novo coronavírus, as vendas do medicamento dispararam no Brasil. Parte da população começou a adquirir o medicamento sem receita médica e isso afetou pacientes que usam o medicamento usualmente, mas para tratar outras enfermidades, como o lúpus, malária e artrite reumatoide. Diante disso a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) enquadrou as substâncias como remédios de controle especial e que devem ser vendidas somente com prescrição médica.

A assistente da escrita fiscal, Michelle Prieto de Souza Scarcelle, possui lúpus em sua forma mais grave. Ela ressalta que o lúpus é uma doença autoimune e faz com que os próprios anticorpos dela ataquem seus órgãos. “Eu preciso tomar o medicamento diariamente.” Quando o medicamento acabou, ela procurou em várias farmácias de Rolândia, onde reside, Cambé e Londrina e não encontrou o medicamento. Ela publicou no sábado (21) um apelo nas redes sociais para que as pessoas que não comprassem o medicamento desnecessariamente e que o medicamento é muito importante para quem tem lúpus.

Quem acabou socorrendo ela foi a auxiliar administrativa Talita Faion. “Eu também tenho lúpus. Quando começaram a circular essas notícias sobre a cloroquina, comecei a ligar para as farmácias para conseguir o medicamento. Liguei para 15 delas, até que consegui uma caixa. Como o caso dela é mais brando,ela acabou cedendo 12 comprimidos para Scarcelle.

Diante do problema, a rede de farmácias Vale Verde até realizou uma campanha para recomprar a cloroquina das pessoas que adquiriram o medicamento desnecessariamente. A farmacêutica Estela Martins Bárbara, da Vale Verde, destacou que o medicamento já está em falta. “A gente sabe quem é usuário habitual da cloroquina porque está cadastrado no programa funcional. Hoje, uma pessoa veio comprar na farmácia e não tinha.”

A infectologista Cláudia Carrilho, do HURNP (Hospital Universitário da Região Norte do Paraná) ressaltou que a droga ainda está sendo testada. “Um monte de gente comprou e estocou e não tem mais nas farmácias. Mas ainda não tem indicação clínica de uso. Só deve ser comprado quando indicado, porque é utilizado em pacientes com doenças autoimunes como o lúpus. Não é o momento para ter pânico e sair comprando o que se ouve.” Ela ressaltou que a Anvisa emitiu nota dizendo que não há, no momento, indicação da cloroquina para pacientes infectados com o Covid-19 e nem como forma de prevenção. (Colaborou Guilherme Marconi)