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. | Foto: Marcos Zanutto

Existem diversos fatores que contribuem para a qualidade de vida, mas o mais importante deles é o estilo de vida. Fatores genéticos e ambientais têm peso de 20% cada. A medicina curativa é o menor deles, com peso de apenas 10%, afirma o médico Áureo Cinagawa. “Hoje a medicina está indo muito para o lado do cuidado da patologia, da doença.” Para ele, no entanto, é preciso cuidar mais do que tratar da saúde, e não só através da medicina. “Muitas vezes, o problema não é médico. Temos que pensar em promover a saúde. De que maneira posso levar um sorriso para o paciente, a felicidade para as pessoas?”, questiona.

O Japão é um dos países que mais sofrem os efeitos do envelhecimento da população. Cerca de um terço dos japoneses já tem mais de 65 anos. No ano 2000, o governo japonês criou um seguro compulsório chamado LTCI (Long-Term Care Insurance System – Sistema de Seguro de Cuidado de Longa Duração), oferecido a japoneses idosos que precisam de cuidado de longa duração (acamados ou sofrendo demência) ou frágeis, que requerem suporte. O LTCI inclui serviços de cuidados domiciliares, como banhos, reabilitação, enfermagem e aconselhamento médico de manejo do cuidado, por exemplo.

Áureo Cinagawa viajou no início de maio ao Japão, onde já conheceu a política de cuidado aos idosos em outras ocasiões. Ele defende a assistência médica domiciliar para que o idoso não precise sair de seu convívio social e familiar, e possa viver da maneira como desejar, com dignidade, até o momento da morte.

Segundo Lucieire Vicente Anacleto Ramón, gerente do DOM (Atendimento Domiciliar), da Unimed Londrina, o atendimento domiciliar evita que, em algumas situações, o paciente precise ir a um hospital, onde pode ficar exposto a infecções. Além disso, o idoso pode ficar em casa, que é o local onde muitas vezes se sente mais à vontade. “Se o paciente não estivesse com a gente (DOM), com certeza estaria no hospital. O idoso quando sai de casa pode apresentar até confusão. Em casa ele está em seu contexto familiar, tem as coisas dele, o tratamento se dá melhor por causa disso.” No momento da morte, o serviço também dá ao idoso a possibilidade de partir no lugar que escolheu, com as pessoas que escolheu estar perto, acrescenta a gerente.

Com o envelhecimento da população, o governo japonês começou a ter dificuldades de manter o Seguro de Cuidado de Longa Duração. Com a falta de recursos financeiros para suportar a crescente população de idosos, o país passou a valorizar os recursos existentes em cada região, conta a assistente social Mifue Kadobayashi, como as pessoas a estruturas locais.

'TANOSHIMI'

Kadobayashi é voluntária da Jica (Japan International Cooperation Agency) e gestora do seguro LCTI na região de Tóquio, capital do Japão. Ela está em passagem por Londrina e outras cidades do interior do Paraná para aprender como vivem hoje as primeiras gerações de nikkeis no Brasil. Conforme ela, quando deixam de trabalhar, os aposentados japoneses – especialmente os homens - perdem o contato social, e podem até mesmo apresentar quadro depressivo por esse motivo.

Prestes a completar 80 anos, Akiko Ueda Shirato mora sozinha. Os filhos moram fora e o marido, com Alzheimer, vive em uma casa de repouso. Mas as reuniões do grupo Hikari, de bon odori (dança japonesa) e do Grupo de Idosos da Acel (Associação Cultural e Esportiva de Londrina) fazem que a idosa mantenha o convívio social. “É importante fazer atividades e cuidar do relacionamento social”, diz, quando perguntada sobre o que fazer para conquistar a longevidade. “Eu participo de muitas atividades, viajo muito, danço.”

Missako Ohye, também com quase 80, diz que não toma nenhum remédio e até gosta de comer a gordura do churrasco, apesar dos protestos do filho. “Come bem, morre bem”, brinca, com o sotaque japonês carregado. Cozinheira de mão cheia, ela ainda atende a pedidos de encomenda de salgados, sushi e comida brasileira. “Gosto de trabalhar.” Mas o que ela gosta mesmo é de levar quitutes para os amigos para vê-los felizes, diz. “O povo come e fica contente.”

Antigamente, se falava muito que a longevidade tinha a ver só com a alimentação e atividades físicas, mas hoje é comprovado que o lado psicológico também conta”, afirma Luzia Mitsue Yamashita Deliberador, coordenadora do Grupo de Idosos da Acel. Segundo a coordenadora, o “tanoshimi”, que pode ser traduzido como a esperança de reencontrar os amigos, é um dos segredos da longevidade. No Grupo de Idosos da Acel, os idosos se encontram uma vez ao mês para cantar, dançar, cultivar as amizades. Em algumas ocasiões, também fazem passeios e vão viajar. “Essas coisas que dão sentido à vida e fazem ter perspectiva. Enquanto o idoso tem metas, sonhos na vida e está correndo atrás, ele tem prazer de viver.”

FORA DA ZONA DE ESQUECIMENTO

Lançado no final do mês de abril, a Casa Dia, serviço implantada pela Prefeitura de Londrina, recebe 20 idosos cujos familiares não têm condições de oferecer cuidados durante o dia. O serviço é oferecido na sede do movimento Cristma – Cristo Te Ama.

Com depressão, artrite, artrose, problemas na coluna, enfisema pulmonar, osteoporose e doença cardíaca crônica, Maria Batista, 62, tem apenas um filho, que está desempregado. A idosa, que ficava sozinha em casa, e chegou à Casa Dia por meio do Cras (Centro de Referência de Assistência Social). Recém-chegada à Casa Dia, ela conta que ainda não conversa muito com os colegas. “Mas a hora que pegar o jeito da coisa, começo a fazer minhas brincadeiras e piadas.”

A secretária municipal do Idoso, Andrea Ramondini Danelon, explica que a Casa Dia dá atendimento àqueles idosos que ficavam o dia inteiro sozinho em casa, pois os demais membros da famílias precisam trabalhar. O serviço proporciona o convívio com outros idosos, mas não tira o convívio familiar, já que o idoso volta para casa no final do dia. “Esse idoso (da Casa Dia) é um exemplo de idoso que iria parar em uma instituição de longa permanência. Uma doença que não existia e que existe hoje é a depressão, por falta de convívio com pessoas.”

A secretária também destaca o trabalho dos três Centros de Convivência, mantidos pela Secretaria do Idoso, em Londrina, com 3 mil atendimentos por mês. “Tem desde atividades físicas, projetos intergeracionais, parceria com a rede municipal, com a Secretaria de Saúde, alfabetização, artesanato, música”, cita Danelon. Segundo ela, Londrina possui aproximadamente 70 mil pessoas com 60 anos ou mais, o equivalente a 13% da população. “Em 2030, teremos mais pessoas de mais de 60 anos que de 0 a 14.”

O que os idosos precisam, além do cuidado da saúde, é “muito carinho” e se sentir útil, opina Luiz Carlos Tamarozzi, um dos fundadores do Instituto Tamarozzi, local onde funciona a Casa Dia. “Ele pode ter a maior estrutura do mundo, mas não vai funcionar.” A instituição recebe cerca de 180 idosos uma vez ao mês para encontros com almoço, bingo, jogos e bate-papo. No local, a Casa Dia já funcionava há um ano com atendimento a cerca de dez idosos, com custo reduzido. “O idoso com o tempo vai sendo esquecido, não é tocado, beijado, fica deixado de lado. Aqui ele tem bom dia, abraço, beijo”, conta Vera Lúcia Feliciano Lopes, coordenadora do Projeto Casa Dia, da Cristma.