O Coletivo de Sindicatos de Londrina, grupo formado por representantes de categorias do serviço público e trabalhadores do setor privado, realizou uma manifestação silenciosa em frente à Prefeitura na tarde desta quarta-feira (26). Com 158 cruzes, uma para cada vítima, segundo os dados desta terça-feira, e cartazes de protesto, o objetivo era prestar uma homenagem às pessoas que perderam a vida em decorrência de complicações causadas pela Covid-19 e criticar o que consideram um afrouxamento do isolamento social por parte da gestão do prefeito Marcelo Belinati (PP) nas últimas semanas. Nesta quarta-feira, o município somou 5.228 casos do novo coronavírus, 160 a mais do que nesta terça, o que representa um novo e infeliz recorde diário de novos casos em um mesmo dia.

Imagem ilustrativa da imagem Protesto no Centro Cívico lembra as vítimas da Covid-19 na cidade
| Foto: Gustavo Carneiro/Grupo FOLHA

"Lamentamos que o prefeito está cada vez mais flexibilizando as regras desta pandemia, dando sinais divergentes daquilo que deveria ser. No mundo inteiro, onde se viu que flexibilizou as regras, aumentou casos, mortes, o risco, e nós não queremos isso para Londrina. A cidade está em uma situação relativamente confortável, está com 158 mortos, não tive ninguém da minha família, mas cada cruz destas representa uma família que perdeu alguém e isso é muito para elas", afirmou o fiscal de Vigilância em Saúde do município e presidente do SindiPrevs (Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Saúde, Trabalho, Previdência Social e Ação Social do Estado do Paraná), Lincoln Ramos e Silva.

O grupo também criticou o protocolo instituído pela Secretaria Municipal de Saúde de testar apenas os casos suspeitos, ou seja, mediante a percepção de algum sintoma clássico da Covid-19. Na opinião do diretor do SindiPrevs, o município deveria realizar uma "testagem em massa" em locais que tiveram trabalhadores contaminados pela doença independentemente do aparecimento de sintomas. "Trabalho com uma pessoa que teve Covid, ele ficou no carro a semana inteira comigo, foi afastado e não fui testado. Posso ser um assintomático passando para as pessoa sem saber. Estamos indo até a comunidade, fazendo o atendimento das pessoas e da mesma forma temos todos os locais de trabalho de Londrina", lamentou.

Conforme apurou a reportagem, o município de Londrina já realizou 27,3 mil testes desde o início da pandemia, sendo que 22,7 mil foram descartados.

A ausência de um protocolo de sanitização mais intenso e regular nas agências bancárias devido ao risco de transmissão do vírus também foi alvo de críticas por parte do diretor do Sindicato dos Bancários, Laurito Porto de Lira Filho. De acordo com ele, desde o início da pandemia, 30 profissionais já foram contaminados e 15 agências bancárias precisaram ser fechadas temporariamente. Enquanto aponta que há uma certa demora no setor privado em comunicar a Secretaria Municipal de Saúde sobre os novos casos, afirmou que este levantamento leva em consideração os 2.100 bancários que atuam em 24 municípios da região atendidos pela base de Londrina.

Questionado se os bancos não teriam fornecido testes, Filho lembrou que sim, porém somente os testes rápidos vendidos em algumas farmácias. Dentre os bancos que operam em Londrina, o único que liberou testes de forma massiva foi o Bradesco, ponderou o diretor. "O problema é que este conversa do teste é muito complexa. Tivemos um caso na cidade em uma agência da Minas Gerais que a própria regional falou que liberaria os funcionários testes de farmácia, provavelmente vai dar negativo porque eles querem continuar performando", disse.

Conforme o diretor, cerca de 50% dos trabalhadores são do grupo de risco. Entretanto, "lamentavelmente", alguns até deixaram de informar suas comorbidades temendo serem demitidos. "Se formos olhar esta questão da cobrança abusiva de metas, muitos funcionários não se colocaram como grupo de risco para continuar trabalhando e não ser demitidos. Podemos ter quadro de funcionários que deixaram de informar até nos periódicos para ele não ser afastado ou para um momento lá na frente ele não ser chamado de 'corpo mole' e acabar sendo demitido. Estes são os problemas que enfrentamos: metas, incoerência do estado, a população não sendo conscientizada pelo próprio estado e os bancários contaminados e morrendo", lamentou.

Após o ato, toda as quase 160 cruzes foram removidas pelos integrantes, que poderão realizar novas manifestações caso o cenário epidemiológico continue em expansão. Questionado pela reportagem se alguns integrantes seriam pré-candidatos nas eleições deste ano, os sindicalistas informaram que não.