Protestantes exigem fim de "ambiguidade" do IRA
PUBLICAÇÃO
sábado, 12 de fevereiro de 2000
Belfast, 12 (AE-AP) - Assegurando que não retomaria sua participação no governo autônomo antes que os católicos do Exército Republicano Irlandês (IRA, pela sigla em inglês) esclarecessem pelo menos quando e como entregariam suas armas, o líder protestante da Irlanda do Norte David Trimble qualificou hoje (12) de "ambígua" a proposta feita pela guerrilha na véspera.
"Não foram feitas propostas claras nem a mim nem a ninguém", disse, um dia depois de o governo de Londres ter reassumido poderes administrativos sobre a província. "A época da linguagem ambígua terminou. Precisamos saber como e quando vão se desarmar. Só depois de termos essas respostas saberemos se há ou não condições de seguirmos adiante."
A oferta de última hora do IRA, encaminhada na sexta-feira à noite por meio da Comissão Internacional para o Desarmamento da Irlanda do Norte, não foi capaz de evitar a suspensão do primeiro governo autônomo norte-irlandês em 25 anos. A Câmara dos Lordes britânica aprovou a suspensão por causa da recusa da guerrilha a iniciar o desarmamento.
Num documento vago, o IRA comprometeu-se, pouco depois da suspensão do governo, a "iniciar um amplo processo de deixar as para trás, de uma forma que restaure a confiança de todas as partes".
O Acordo de Paz da Sexta-Feira Santa, firmado por representantes dos católicos e protestantes em 1998, estabelece que todos os grupos paramilitares envolvidos no conflito do Ulster devem entregar todas as suas armas até 22 de maio. Mas o acordo não previu um cronograma para o desarmamento.
A suspensão do governo em Belfast, por paradoxal que pareça, foi uma providencial medida da administração britânica para salvar o diálogo de paz na província. Isso porque Trimble, para convencer os membros de seu próprio grupo político, o Partido Unionista do Ulster (UUP, pelas iniciais em inglês), comprometeu-se a renunciar à chefia do governo autônomo, caso o IRA não desse sinais de que se estava desarmando. A retirada dos protestantes da administração autônoma levaria o processo de paz ao colapso.
A suspensão, contudo, permitiu a Trimble apresentar-se com relativa força política no congresso de seu partido, iniciado hoje, onde a oposição ao diálogo com os católicos é significativa.
"Precisamos de uma revisão de longo prazo para esse acordo", defendia o deputado da UUP Jeffrey Donaldson, desde o início, ferrenho adversário do princípio de compartilhar o poder com os católicos.
"O acordo precisa de uma reforma total", asseverou outro ferrenho opositor ao diálogo, reverendo Ian Pasley.
Mas o funcionário britânico que assumiu o controle da província, o ministro para a Irlanda do Norte, Peter Mandelson, qualificou hoje a proposta do IRA de "potencialmente capaz" de resolver a crise. "Acredito que isso abrirá o caminho para que se possa rescindir a suspensão", declarou.
O Sinn Fein, braço político do Exército Republicano Irlandês, acusou o governo britânico de violar o Acordo da Sexta-Feira Santa ao homologar a suspensão do governo autônomo.
Ao mesmo tempo, o grupo católico acusa ainda Trimble de estar tentando impor suas condições para integrar o governo autônomo da província.