Projeto de irrigação é multado por danos ambientais em Goiás
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domingo, 16 de janeiro de 2000
Por Bruno Hermano, especial para a AE
Goiânia, 16 (AE) - Um projeto de irrigação no município de Flores de Goiás, próximo à Chapada dos Veadeiros, foi multado em R$ 2,5 milhões e embargado pela Agência de Meio Ambiente e Recursos Naturais de Goiás por provocar danos ambientais. O projeto, de responsabilidade da Secretaria de Planejamento de Goiás e do Ministério da Integração Nacional, provocou inundações em áreas não desmatadas, deixando diversos animais ilhados, e impediu os peixes de subir o Rio Paranã para a desova (piracema).
O ministério anunciou que deverá fazer uma vistoria no projeto de irrigação, que ocupa área de 26 mil hectares, destinada à agricultura. Homens da agência ambiental e da empresa que executa a obra, a Sobrado Construtora, continuam trabalhando no local na tentativa de salvar os peixes e os animais ilhados. A agência fiscalizou o projeto a pedido da própria Sobrado, que alegava que um grupo de posseiros estava indo até o reservatório em busca de peixes.
Desova - A fiscalização constatou que os peixes vindos do leito do Rio Paraná não conseguiam subir até as nascentes para a piracema. O leito foi desviado e formou-se uma pequena cachoeira, de cerca de 3 metros, com uma forte correnteza, impossível de ser ultrapassada pelos peixes. Isso ocorreu porque o projeto não seguiu a exigência do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que prevê a construção de um canal em forma de escada antes do represamento. Só agora a escada está sendo construída.
Na enorme represa que se formou no local da obra - que, segundo funcionários da Sobrado, se teria formado há menos de 20 dias, com as chuvas - é possível ver animais ilhados, montes de lenhas em alguns pontos e casas que não foram demolidas. O consultor da área de irrigação no Ministério da Integração Nacional, Eldan Veloso, disse que foi informado de que as chuvas apressaram o enchimento da represa e, por isso, não houve prazo para a retirada da vegetação e para o salvamento dos bichos.
A Assessoria de Comunicação da Secretaria Estadual de Planejamento informou também que vai cobrar da construtora a execução da obra em respeito ao ecossistema. O gerente-administrativo da Sobrado disse ver divergência na aplicação da multa, que foi lavrada em nome da empresa. Ele alegou que a Sobrado é mera executora da obra e todos os quesitos do projeto foram obedecidos.