Lima, 09 (AE) - Projeções de institutos de pesquisa, com base nos primeiros resultados da apuração da eleição presidencial deste domingo (09), indicam que os peruanos terão de esperar pelo segundo turno, em data a ser definida, para conhecer quem ocupará a presidência da república nos próximos cinco anos.
De acordo com o Instituto Apoyo, o candidato-presidente Alberto Fujimori, da Aliança Peru-2000, obteve 47% dos votos. O economista de origem andina Alejandro Toledo, do partido Peru Possível, ficou com 42%. Pesquisa de boca-de-urna dessa empresa indicava antes vitória de Toledo, por 45,2% a 43,6%. O Instituto Datum dava na boca-de-urna 48,5% para Toledo e 42,7% para Fujimori, mas, nas projeções, apontou vitória do presidente por 47% a 43%.
O Escritório Nacional de Processos Eleitorais (Onpe) previa apurar oficialmente até a meia-noite local (2h de segundda-feira em Brasília) 15% dos votos. Essa cifra é considerada suficiente para que se faça uma projeção mais segura do resultado das eleições.
Esses números seriam comparados com os obtidos pela apuração paralela de entidades que se dipuseram a atuar como observadores do processo, como a organização civil peruana Transparência e a missão de fiscalização da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Ainda antes do fim da votação, o diretor da Transparência, Rudecindo Vega, leu nota oficial da entidade, na qual anunciava que a grande quantidade de irregularidades verificadas nas quatro primeiras horas da eleição poderia alterar o resultado das eleições.
Entre as denúncias, Vega mencionou um esquema para forjar a transmissão eletrônica dos resultados por meio de um site da Internet, cuja origem foi localizada na Austrália.
Os fiscais de Toledo denunciaram o primeiro indício de fraude ainda antes da abertura das urnas, às 8 horas. No Colégio Tereza González, de Fanning, na periferia de Lima, quatro cédulas não tinham o campo destinado ao movimento Peru Possível, onde deveriam constar a foto de Toledo e o logotipo do partido para a votação parlamentar.
As cédulas foram recolhidas e a ocorrência foi registrada pela juíza eleitoral do distrito, que atribuiu o fato a um defeito no corte tipográfico do impresso. Os eleitores que estavam na fila reagiram aos gritos de "fraude, fraude"!
De Arequipa e Chiclayo chegaram denúncias de que eleitores receberam dos mesários as cédulas marcadas. As cédulas eram compostas de duas colunas. Na primeira, havia a relação dos nove candidatos à presidência ao lado de suas fotos. Na segunda coluna constavam a lista com o logotipo dos partidos e dois campos em branco para a inscrição dos números dos candidatos ao Congresso. A linha correspondente ao partido Peru Possível era a última da lista.
Os dois únicos candidatos com chance de vencer a eleição começaram o dia recebendo jornalistas para o café da manhã. Fujimori, acompanhado pelas duas filhas, Keiko Sofía e Sachi Marcela, tomou café na casa de seu companheiro de chapa, o candidato a primeiro-vice-presidente Francisco Tudela.
"Creio que as últimas eleições, tanto presidencias quanto regionais e legislativas, mostraram que os processos eleitorais no Peru são limpos", disse Fujimori.
O presidente peruano saiu para votar logo depois do encontro com os jornalistas. Por volta das 10 horas, votou na Escola de Belas Artes, perto do palácio do governo, no centro de Lima. A votação foi discreta e Fujimori saiu rapidamente da escola para acompanhar o voto de Keiko Sofía - nomeada primeira-dama do país desde que o presidente se separou da mãe dela, Susana Higuchi.
Toledo tomou o café da manhã em sua casa, no elegante bairro de Camacho. Estava ao lado da mulher, a belga criada na França Eliane Karp, e a filha, Keila. "Temos aqui a imprensa internacional, que terá de comer tamales (uma espécie de pamonha apimentada) para me agradar, espero que não passem mal", brincou.
Depois, mais sério, conclamou os eleitores peruanos a comparecerem às urnas. "É necessário que todos votem. E votem de acordo com sua consciência. Não tenham medo nem dêem ouvidos a rumores de que o governo terá meios de saber em quem vocês votaram."
Voltando-se para as câmeras de tevê, emendou: "Desejo sorte ao presidente Fujimori, pois, apesar da campanha desigual, nunca guardei rancor de ninguém."
Primeira-dama - Keiko Sofía votou ao lado do pai no Ministério das Minas e Energia, no distrito de São Borja. Ali, disse que pretendia ficar no posto de primeira-dama até que seu pai encontre uma nova companheira.
"Gostaria mesmo que meu pai e minha mãe voltassem a se casar", confessou. Indagada sobre como se relacionava com a mãe
que, de acordo com as pesquisas, elegeu-se deputada pela FIM, Keiko afirmou ter-se aborrecido com a separação, em 1994. "Sou uma grande admiradora dos dois, mas também sou uma de suas maiores críticas."
Tumulto - Alejandro Toledo foi recebido em seu local de votação, o Colégio Cristo Salvador, em Surco, por uma multidão de repórteres que tentava aproximar-se dele, apesar da ação às vezes truculenta de sua segurança.
Em meio a um tumulto causado pelo embate entre os repórteres, cinegrafistas e fotógrafos com a polícia e os seguranças, Toledo entrou na sala com a mulher e a filha. Pelo menos cem pessoas acotovelaram-se na sala, de uns 20 metros quadrados. O candidato permaneceu lá dentro por 18 minutos.
Na saída, novo tumulto. Um fotógrafo caiu ao tropeçar nos cabos das câmeras e a polícia teve de agir rápido para que ele não fosse pisoteado.
A tabela de basquete da quadra da escola foi convertida em grua por três cinegrafistas. Os profissionais foram obrigados a deixar o local depois que os tubos que sustentavam a tabela começaram a ceder.