CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Professores da rede pública do Paraná estão no sétimo dia de greve de fome em protesto contra um edital do governo do estado para seleção de docentes temporários. Até esta quinta-feira (26), dez dos 47 professores que iniciaram o movimento em frente à sede do Executivo, em Curitiba, continuam sem comer.

Na quinta-feira passada (19), o grupo ocupou o prédio da Assembleia Legislativa, buscando apoio dos deputados para pressionar o governo contra o edital, mas a Justiça determinou que eles deixassem o local. Desde então, os professores estão acampados sob a marquise, na área externa do Palácio Iguaçu.

Durante a semana, integrantes de movimentos sociais e sindicais do estado promoveram atos no local e em outros municípios prestando solidariedade aos docentes. A APP-Sindicato, que representa os educadores, promoveu uma assembleia geral na tarde desta quinta para deliberar sobre a continuidade da mobilização. A maioria, no entanto, votou contra uma greve geral da categoria.

Segundo a entidade, na última semana, não houve qualquer resposta à greve por parte de integrantes da gestão Ratinho Jr. (PSD). Na quinta passada, o governo chegou a anunciar uma retomada nas negociações, com o atendimento de uma das pautas da categoria --o pagamento do salário mínimo regional a todos os servidores que ainda não recebem o piso estadual--, mas não houve novas reuniões.

Na sexta-feira (20), o governo conseguiu na Justiça a reintegração de posse da área externa do Palácio e, via assessoria, afirmou à reportagem que, diante da manutenção do movimento mesmo com a ordem, entende "que não há espaço para diálogo".

Um dos que mantêm a greve de fome é o presidente da APP-Sindicato, Hermes Silva. Ele e os demais manifestantes estão sendo monitorados por um grupo de médicos voluntários.

"Conseguimos fazer uma denúncia forte do autoritarismo que está instalado no governo do Paraná. A greve de fome foi instalada justamente pela ausência de diálogo do Ratinho Jr. com a educação e estamos avaliando um quadro de intensificação das mobilizações", disse.

O sindicato afirma que o governador deixou o prédio e está trabalhando em outro local. A assessoria do governo não confirmou a informação.

A médica endocrinologista Rosana Radominski diz que o importante é que os grevistas mantenham uma boa hidratação e continuem sendo acompanhados. "Preocupa também essa situação em meio à nova onda da Covid-19 na cidade. Caso a pessoa tenha alguma doença, o jejum prolongado também pode apresentar riscos."

A briga dos professores é principalmente contra o edital que prevê a contratação de 4.000 docentes temporários para 2021 por meio de processo seletivo simplificado (PSS), mas também inclui outras pautas.

A seleção, que até então era feita considerando o tempo de serviço e os títulos dos professores, agora também terá uma prova presencial, que será aplicada no dia 13 de dezembro para 47 mil inscritos. O sindicato argumenta que o período de pandemia oferece riscos a todos os envolvidos e impossibilitaria a presença de profissionais idosos ou com alguma comorbidade.

A entidade defende também a extinção do sistema, que é previsto apenas para situações emergenciais. Diante da demanda, que, segundo a APP, girava em torno de 30 mil pessoas até o ano passado, os professores querem a realização de concurso público, com direito a estabilidade.

A APP também aponta que a seleção deste ano prevê o chamamento de apenas 13% do número médio de docentes temporários geralmente demandados por ano pelo estado. Argumenta ainda que o contrato de R$ 4 milhões para a realização da prova foi feito sem licitação.

O secretário de Educação, Renato Feder, que chegou a ser cotado como ministro do governo Jair Bolsonaro, afirma que foram feitas diversas reuniões com a APP para tratar do processo seletivo.

Um dos avanços na negociação, de acordo com a pasta, foi a manutenção do tempo de serviço e da prova de títulos como critérios para seleção e a retirada da classificação a prova de redação e a banca avaliativa, originalmente planejadas. "Restou como novidade do PSS deste ano apenas a prova de conhecimento na disciplina escolhida (são até duas)."

Na semana passada, depois que um grupo de índios ocupou a sede da entidade, a secretaria teve que voltar atrás na seleção de professores para 39 escolas indígenas e quilombolas do Paraná. A pasta decidiu continuar com a classificação nos moldes antigos, pois entendeu que, nesse caso, a aplicação da prova seria inócua. Considerando a autonomia dos povos indígenas, os profissionais dependem de autorização do cacique para trabalhar nesses locais.

Em meio à greve de fome, o governo anunciou também que deve fechar seis escolas estaduais por ocuparem prédios que pertencem às prefeituras e não ao Estado. Entre as outras pautas dos docentes, está o cancelamento do processo de terceirização de funcionários de escolas e o pagamento das promoções e progressões de profissionais.

Hermes cita ainda a reclamação da categoria em torno da militarização de 201 escolas do Paraná a partir de 2021, cerca de 9% do total de estabelecimentos do estado. Segundo ele, há relatos de ilegalidade na consulta popular para implantação do modelo, principalmente em colégios com aulas noturnas, que serão extintas nas escolas que adotarão o sistema.

A secretaria defende a legalidade do processo. Feder afirmou, na ocasião, que a proposta foi amplamente discutida e que o pedido partiu da própria população.

A APP-Sindicato tem criticado duramente a gestão do secretário à frente da pasta. "Ele não participa dos debates, não compreende a pauta e finge desconhecer a realidades das nossas escolas. Uma equipe que não tem compromisso com a realidade da educação do campo, da cidade, quilombola, indígena. Não tem responsabilidade sobre a vida de professores, funcionários, pedagogos", diz o presidente da entidade.