A APUFPR (Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná) ajuizou uma ação civil pública contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, por causa de uma fala em que o parlamentar comparou professores a traficantes de drogas. A União Federal também é alvo da ação. A Associação pede o pagamento de R$ 20 mil para cada um dos cerca de 3,1 mil docentes associados.

A fala foi durante discurso em um evento pró-armas em Brasília, no dia 9 de julho deste ano. “Não tem diferença de um professor doutrinador para um traficante de drogas que tenta sequestrar e levar os nossos filhos para o mundo do crime”, disse Eduardo. “Talvez até o professor doutrinador seja ainda pior, porque ele vai causar discórdia dentro da sua casa, enxergando a opressão em todo o tipo de relação. Fala que o pai oprime a mãe, a mãe oprime o filho e aquela instituição chamada família tem que ser destruída.”

Para a presidente da APUFPR, Andréa Stinghen, esse tipo de discurso faz parte de uma estratégia para manter a base da extrema direita coesa e buscar engajamento nas redes sociais. “Houve uma desconstrução da imagem do professor e do servidor público no último governo. Isso tudo é pensado, foi uma fala para a base da extrema direita”, disse Stinghen.

“Em nível de redes isso dá um impacto, porque gera engajamento, as pessoas começam a comentar contrariamente e a favor e isso repercute. O discurso de ódio funcionou no passado e eles buscam usar a mesma fórmula.”

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O advogado da Associação, Daniel Godoy Júnior, disse que a entidade estuda ajuizar uma ação criminal contra Eduardo Bolsonaro. “Isso pode ser abordado sob três aspectos: do Regimento Interno da Câmara, sob o aspecto criminal e sob o aspecto da ofensa civil. Abordamos neste momento a aspecto da ofensa civil, queremos que seja reparado o prejuízo moral causado à coletividade, enfrentado de forma individual”, afirmou o advogado. “Do ponto de vista civil e da reparação do dano, está bem evidente que ele praticou uma ofensa que merece uma reparação”.

OUTRAS REAÇÕES

No dia seguinte ao discurso, o PSOL ingressou com uma representação contra Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Em seguida o Ministério da Justiça solicitou à Polícia Federal que analisasse a fala, para apurar a possível prática de crimes como apologia ou incitação a atos criminosos, e o deputado foi denunciado em uma ação na PGR (Procuradoria Geral da República) e em uma queixa-crime no STF (Supremo Tribunal Federal) por parte de deputados.

O filho do ex-presidente já foi alvo de nove representações no Conselho de Ética da Câmara desde o ano passado. Entre outras polêmicas, ele chamou um parlamentar de “veado” durante uma sessão e divulgou um vídeo em que sugeria que a participação de mulheres no mundo do trabalho ajuda a elevar o número de acidentes em obras. No mês passado, ele e o irmão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foram condenados a indenizar o compositor Chico Buarque por utilizarem indevidamente sua imagem.

A reportagem da FOLHA tentou contato nesta segunda (23) com Eduardo Bolsonaro, mas ninguém atendeu o telefone em seu gabinete em Brasília. Nos últimos dias ele esteve na Argentina para apoiar Javier Milei, candidato de extrema direita que no último domingo ficou em segundo lugar no primeiro turno da eleição presidencial no país. O deputado chegou a ter uma fala cortada ao vivo por uma emissora do país vizinho quando defendia a liberação de armamentos para a população argentina, segundo ele, “não ser massacrada”.