Professores da UEL decidem manter a paralisação
A categoria cobra reposição salarial de 42%, resultado de sete anos de data-base atrasada
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 07 de junho de 2023
A categoria cobra reposição salarial de 42%, resultado de sete anos de data-base atrasada
Douglas Kuspiosz - Especial para a FOLHA
Ao completar um mês de paralisação, os professores da UEL (Universidade Estadual de Londrina) decidiram nesta quarta-feira (7) manter a paralisação iniciada em 8 de maio. A categoria cobra reposição salarial de 42%, resultado de sete anos de data-base atrasada.
Os docentes se reuniram em assembleia do Sindiprol/Aduel (Sindicato dos Professores do Ensino Superior Público de Londrina e Região) e votaram, majoritariamente, pela continuidade da mobilização, justamente por entender que o governo do Estado ainda não fez uma proposta concreta para negociar com os professores.
Nos últimos dias, houve uma sinalização em relação ao plano de carreira docente, que estava parado na Seap (Secretaria de Administração e Previdência) desde 11 de abril. Segundo apresentado durante a assembleia, o governador Ratinho Jr. (PSD) autorizou a tramitação do plano, mas em contrapartida espera o fim da greve.
O presidente do Sindiprol/Aduel, Cesar Bessa, afirmou que, após 30 dias, o movimento grevista está seguindo de forma unitária e fortalecida. Ele pontuou que o CSD (Comando Sindical Docente) acabou decidindo por um indicativo de suspensão do movimento, que foi aprovado por algumas instituições. “Londrina, por enquanto, tem postura contrária a isso”, reforçou.
Em relação às negociações com o governo do Estado, o presidente destacou que a defasagem salarial continua e disse que o governo se mantém com a proposta 5,79% para todo o funcionalismo, a ser paga em agosto. No entanto, apontou que a greve impulsionou “algo [plano de carreira] que estava parado”, referindo-se às mudanças na carreira docente.
“Nós esperamos agora que o governo sente de fato à mesa e apresente um cronograma para que a gente saiba qual é o prazo a se esperar. Além do mais, a defasagem salarial continua, está aumentando a cada dia que passa. Quarenta e dois por cento é quase metade do salário que estamos perdendo”, disse.
“A proposta de andamento do plano [de carreira] não foi apresentada, nem um cronograma, nem um prazo, nenhuma conclusão. Está muito abstrato. E os professores não estão confiantes ainda em tomar uma decisão a não ser a mantença do movimento paredista.”
O professor Nilson Magagnin Filho, que faz parte do Comando de Greve da UEL, destacou que a paralisação, mesmo que lentamente, está produzindo efeitos, citando o início das análises do plano de carreira. “Também, houve muita articulação do movimento grevista estadual junto aos deputados da Assembleia Legislativa, inclusive muitos deles, que são da base do governo, nos apoiam na nossa reivindicação”, pontuou.
ESTUDANTES
A acadêmica de Design Gráfico Marina Sousa Lima, que é mestranda em Comunicação, afirmou que está “ansiosa e na expectativa pelo reinício das aulas", mas que apoia o movimento dos professores.
“Estou ciente do descaso do governo estadual pelo trabalho docente, da enorme defasagem salarial dos professores e da concepção degradante do governo do Estado em relação ao papel das universidades públicas, por isso apoio a paralisação dos professores”, declarou.
Lima também apontou que há estudantes que querem dar andamento aos cursos e têm preocupação em concluir a graduação, mas que “esses mesmos estudantes também compreendem que há uma sobrecarga de trabalho para os professores, sobretudo para os que atuam tanto na graduação quanto na pós-graduação”.
Guilherme Cornetta Andreassa, aluno de Ciências Sociais, também criticou a falta de reposição para os docentes. “Não imagino que isso seria a solução para todos os problemas da UEL, em diversos âmbitos. É apenas o mínimo e o justo”, disse.
Para Maicon Eduardo Pimentel, do curso de História, a avaliação geral é que os estudantes apoiam o movimento. “Os prejuízos maiores acabam sendo para a gente, que tem a formação atrasada, mas infelizmente esse é o preço que a gente tem que pagar pela irresponsabilidade do governo,” declarou.
GOVERNO
Procurada pela reportagem, a Seti (Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná) encaminhou nota afirmando que tem discutido as demandas que envolvem professores e funcionários das universidades estaduais com lideranças e sindicatos que representam as categorias.
“A proposta de reformulação das carreiras foi apresentada e encaminhada para avaliação das demais áreas do Estado, uma vez que envolve aspectos orçamentários. Nesse sentido, a Secretaria entende que a greve é precipitada e pode prejudicar o diálogo”, completa o texto.
A reportagem insistiu para obter uma entrevista com o secretário Aldo Bona, mas a Seti apenas informou que “tem atendido com essa nota informativa todas as demandas de imprensa relacionadas à paralisação parcial das atividades de ensino nas universidades estaduais, iniciada neste mês”.
UEM, Unioeste, Unicentro e UEPG
Esta quarta-feira (7) foi um dia central para a greve dos professores das IEES (Instituições Estaduais de Ensino Superior). Todos os sindicatos convocaram assembleias para avaliar a continuidade do movimento, que começou em maio.
No total, os docentes de quatro instituições votaram para suspender a paralisação: Unioeste, UEM e UEPG decidiram pela suspensão por 30 dias; a Unicentro também suspendeu, mas sem um período definido. Com isso, UEL, UENP e Unespar são as instituições que seguem paralisadas.
O presidente do Sesduem, Thiago Fanelli Ferraiol, em um vídeo publicado nas redes sociais do sindicato, afirmou que a suspensão foi aprovada por “pouca margem” e que, nesse período, a categoria deve continuar mobilizada.
“Tentando fazer o governo abrir uma negociação, que até o momento não foi estabelecida”, pontuou, ressaltando que a greve foi importante para colocar novamente em pauta a readequação salarial a partir do piso da categoria.
“O termo suspensão é importante, porque suspender não é encerrar. Suspender significa que os professores e professoras voltam às atividades docentes, de ensino, pesquisa e extensão, ou seja, a universidade volta à sua normalidade. Porém permanecem mobilizados pelo prazo de 30 dias para ver como decorrem as negociações nesse período”, disse Volney Campos dos Santos, presidente do Sinduepg.
A principal mudança no cenário ocorreu após uma reunião entre o CSD (Comando Sindical Docente) e a Apiesp (Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público) a respeito do plano de carreira dos professores. O documento saiu da Seap (Secretaria de Administração e Previdência), onde estava desde 11 de abril, e seguiu para a Casa Civil.
A própria Apiesp, em nota divulgada na última sexta-feira (2), disse que “considera que esta movimentação do processo é uma sinalização de que o governo, com o retorno das atividades, dará imediatamente continuidade à tramitação”.
Também em nota, o CSD afirmou que a proposta “está colocada na mesa e tem a possibilidade de ser aprovada até agosto”, e que caberia às bases deliberar sobre o andamento da paralisação, uma vez que a administração tem indicado que a proposta vai tramitar com o fim do movimento grevista.