Imagem ilustrativa da imagem Professores classificam temática da redação do Enem 2017 como necessária e esperada
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Para professores especializados ouvidos pela FOLHA, o tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2017, "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil", não surpreendeu pela temática inclusão, mas sim por tratar de algo de forma tão específica. Segundo Flávia Cabral, professora de redação em um curso preparatório, o exame tem priorizado assuntos relevantes, mas que não necessariamente são os considerados do momento.

"Assim como foi com o tema da violência contra a mulher (2015), que foi próximo da Lei Maria da Penha completar dez anos, e o tema da Lei Seca (2013), que aconteceu quase dois anos depois da implantação da lei, a temática inclusão é presente na nossa sociedade e ganhou ainda mais mídia a partir das paralimpíadas de 2016. Por isso o tema inclusão e educação eram esperados e trabalhamos isto durante o ano", apontou Cabral, que é professora do curso e colégio Sigma e supervisora de produção de texto no colégio Universitário.

Para a professora de redação e língua portuguesa Vânia Silva, a maior dificuldade dos alunos seria quanto ao repertório de conhecimento sobre a surdez para produzir o texto. "É um tema complexo, mas relevante e que vem sendo abordado em concursos. Para o candidato, que poderia esperar algo sobre inclusão, mas não a surdez, é importante abordar várias áreas do conhecimento, mostrando domínio da temática. Uma competência do Enem é o seu caráter argumentativo e quanto mais propostas se usa, mais isto pode se tornar um diferencial", elenca. Além de dar aulas de redação e português no colégio Londrinense, ela também é monitora de redação no curso Saber.

De acordo com as profissionais, o viés da Lei Brasileira de Inclusão e da Constituição é necessário para desenvolver uma redação sobre educação e surdez. "Em um primeiro momento a pessoa teria que falar sobre o direito a igualdade, que é fundamental e previsto na nossa Constituição. Ela poderia levar isso em consideração no contexto da educação, a partir do surdo, que é um público a margem. Além disso, é necessário falar sobre a questão do respeito, que talvez seja o mote de toda esta temática", sugere Flávia Cabral.

Atenta a questão da inclusão, Vânia Vargas afirma que contextualizar o deficiente com surdez na história também é relevante. "O candidato precisa tomar cuidado com a nomenclatura, porque a própria lei já não trata mais a pessoa portadora de deficiência, mas a pessoa com deficiência, pois não é algo que se porta para retirar. Um olhar na perspectiva histórica é significativo, pois o entendimento desta temática na Idade Média, na época da Segunda Guerra Mundial e hoje são totalmente diferentes", destaca a professora, que perdeu a visão há quatro anos.