Primeiras-damas usam poder18/Mar, 20:08 Por Paulo Guilherme São Paulo, 18 (AE) - A frase a seguir, bem poderia ser creditada ao prefeito de São Paulo, Celso Pitta (PTN): "A última coisa que eu poderia imaginar é que minha própria mulher se transformaria em minha maior adversária." Quem disse isso foi o presidente do Peru, Alberto Fujimori, quando decidiu decretar uma lei impedindo que parentes dele se candidatassem ao cargo para impedir que a mulher, Susana Higuchi, tomasse o poder. A história mostra que a relação entre o governante e a mulher muitas vezes passa os limites do casamento. O problema começa quando o cargo de primeira-dama deixa de ser completamente de confiança. A primeira-dama Nicéa Pitta, ex-mulher de Celso Pitta, diz ter o dever cívico de revelar todos os casos de corrupção de que tomou conhecimento. As denúncias de Nicéa contra a administração do prefeito de São Paulo põem em evidência a figura da primeira-dama, que vira alvo dos holofotes seguindo os passos do marido e, muitas vezes, tenta sobrepor-se à figura dele. Quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente da República pela primeira vez, em 1994, a mulher dele, Ruth Cardoso, declarou não gostar da expressão "primeira-dama", associada a algo muito cerimonial, trabalhos assistenciais e pompas muitas vezes exageradas. Ruth levou algum tempo para encontrar o estilo, dedicando-se ao programa Comunidade Solidária, tornando-se exemplo da preocupação do governo com o lado social. "Não fui eleita, não tenho cargo no governo, tenho uma relação estreita com o presidente, mas faço questão de não o influenciar", explica. Antes de Fernando Henrique chegar ao poder, o "cargo" de primeira-dama estava vago. Durante dois anos, o País foi governado por um homem descasado. Sem uma mulher ao lado, o então presidente Itamar Franco, hoje, governador de Minas Gerais sem partido, passou pelo constrangimento de ser fotografado no carnaval ao lado da modelo Lilian Ramos, que estava sem calcinha. O estilo comedido de Ruth contrasta com o de outras primeiras-damas que o Brasil teve. Dulce Figueiredo não economizava em roupas, jóias, maquiagem, e mantinha a agenda lotada de compromissos sociais. Enquanto o presidente João Baptista Figueiredo se escondia por trás da fisionomia carrancuda, Dulce abusava do status alcançado. Não quis assumir o comando da Legião Brasileira de Assistência (LBA) porque achava que teria muito trabalho. Quando saía às compras, fazia a alegria dos comerciantes, gastando o possível para adquirir adereços destinados à residência presidencial. Com mais glamour, Sara Kubitschek soube criar à volta dela o universo de pompas no governo de Juscelino Kubitschek. Abusando do laquê e de chapéus em forma de bolo de noiva, Sara ditou a moda dos anos 50. Eloá Quadros, mulher de Jânio Quadros, exercia o poder nos bastidores, mas não gostava de aparecer. Maria Tereza Goulart, mulher de João Goulart, o Jango, deposto pelo golpe militar de 1964, foi um modelo de beleza na época. Irreverente, era invejada por muitas mulheres. Os militares tentaram atribuir-lhe uma promiscuidade que não lhe cabia. Ela sobreviveu ao tempo. Tentando retomar o estilo "perua", Rosane Collor não conseguiu conquistar a simpatia de ninguém, nem da família do marido, Fernando Collor de Mello. "Era deslumbrada com o dinheiro e a posição social dos Collor de Mello", escreveu Pedro Collor, irmão do ex-presidente. Rosane, que foi acusada de desviar verbas públicas para financiar uma badalada festa de aniversário de uma amiga em Brasília, tinha os argumentos. "Qual ser humano não gosta de frequentar os melhores ambientes e se encontrar com o príncipe Charles e a princesa Diana?", indagou a mulher, que conheceu o marido por meio da manicure da família Collor. "Todo mundo tem a sua fantasia."