Primeira testemunha está foragida
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sábado, 22 de janeiro de 2000
Por Daniel Galvão
São Paulo, 22 (AE) - Uma das primeiras testemunhas da CPI do Narcotráfico em Campinas (SP), o caminhoneiro Adilson Frederico Dias Luz está foragido. Seu depoimento, revelando como atuava uma quadrilha de roubo de cargas na cidade, resultou na prisão, em novembro passado, do advogado Arthur Eugênio Mathias, apontado pela comissão como o braço jurídico de uma organização de traficantes e ladrões de carga no município paulista. Mathias era advogado de Adilson antes de ser denunciado.
O caminhoneiro chegou à CPI por intermédio da promotoria de Igarapava (SP), cidade onde estava preso desde maio, sob a acusação de integrar a quadrilha. Em troca das informações, Adilson foi solto. Semanas depois, voltou atrás no que havia dito à Justiça e à CPI e denunciou manobra envolvendo delegado, promotores e deputados para que inventasse casos que pudessem incriminar Mathias.
Em entrevista à Agência Estado, Adilson contou que foi preso num bar em Aramina (SP), quando estava a caminho de Goiás, em busca de trabalho. Procurado pelo delegado da cidade, Wilson dos Santos Pio, na Cadeia Pública de Igarapava, onde estava preso, foi levado para o Fórum. Lá, de acordo com o caminhoneiro
uma reunião com o promotor de Igarapava, Rogério Sanches, selou o acordo pelo qual acusaria Mathias.
"Adilson, eu não tenho nada com você, não quero você, você não me interessa; é com o dr. Arthur, ele é seu advogado. A gente tem muito indício de que ele tem culpa", teria afirmado Sanches. O caminhoneiro diz que aceitou participar da farsa para ser libertado. Sanches e Pio teriam proposto a Adilson que "fantasiasse" uma história. "Eles queriam envolver o dr. Arthur com o crime organizado até do Maranhão", disse. Adilson conta que, para persuadí-lo, disseram que o advogado era alvo de mais de 400 denúncias, entre elas assassinatos. Para conseguir sua liberdade, concordou.
O caminhoneiro contou que, na semana seguinte, já solto, teve um contato com a CPI, por meio do promotor Sanches. Os deputados Celso Russomano (PPB-SP) e Robson Tuma (PFL-SP) teriam proposto que ele depusesse à comissão e, em troca, ganharia proteção. Já de posse de uma passagem aérea para Brasília, onde tinha promessa de emprego, Adilson decidiu mudar sua história, convencido, segundo ele, por um primo, que o alertara das consequências de prosseguir com a mentira. "Eu já estava desgastado, confuso, eu não aguentava mais essa coisa".
O caminhoneiro registrou um termo de retratação no 17.º Tabelião de Notas de São Paulo, no qual denunciou os promotores, o delegado e a CPI. Faria o mesmo perante a Justiça de Igarapava
mas a revogação de sua prisão quatro dias antes da audiência, levou-o a desistir e a assumir a condição de foragido. Acusaçãoes - O promotor de Igarapava nega todas as acusações. Sanches sustenta que Adilson foi preso em flagrante, com carga roubada, e que não o procurou. Afirmou que soube, por meio do delegado Pio, que o caminhoneiro queria falar com ele porque tinha medo de morrer. Teria, então, sugerido ao delegado que levasse o preso até o fórum. Lá, Adilson teria denunciado a quadrilha espontaneamente e contado detalhes da participação do advogado.
Na opinião de Sanches, Adilson recuou porque foi ameaçado pela quadrilha. "Tanto é que foi aberto um inquérito policial em Campinas para apurar crime de coação", informa.

