Todo mundo adora um feriado prolongado para descansar, viajar ou se divertir com amigos e familiares, mas quando se trata de trânsito, os feriados prolongados têm exigido um alerta. De acordo com dados disponibilizados pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), os meses com mais feriados registram um maior número de acidentes, sendo a bebida, o cansaço e a pressa em voltar para casa os principais problemas.

A agente Franciele Ursi Soares Souza, da PRF, explica que no trecho de cerca de 200 quilômetros da BR-369 que vai de Ourinhos a Apucarana, acompanhado pela Delegacia da PRF de Londrina, foram registrados 258 acidentes entre janeiro e junho deste ano. Desse total, 82 foram considerados graves, com o registro de morte, vítima em estado grave ou que teve grande proporção. Desse número, 21 foram registrados apenas em abril.

Segundo Souza, os meses do ano com maior número de feriados, principalmente quando ele cai na quinta, sexta ou segunda-feira, registram mais acidentes do que meses em que há mais dias úteis. Em abril deste ano, foram dois feriados prolongados: a Sexta-Feira Santa (7), que antecede a Páscoa (9); e o dia de Tiradentes (21), que foi comemorado em uma sexta-feira. No ano passado, abril também foi o mês com mais acidentes registrados no trecho da BR-369.

Souza destaca que, aos finais de semana e feriados, muitos acidentes são causados pelo consumo de bebidas alcoólicas; já em dias de semana, a pressa dos motoristas é o que vem causando os acidentes. Ela também detalha que, por cortar diversas cidades da região, a maior parte dos acidentes registrados na BR-369 envolvem motos.

“Por ser um perímetro urbano, a tendência é de um aumento no número de acidentes envolvendo motocicletas”, afirma, acrescentando que o trecho entre os KMs 140 e 180 da rodovia é o ponto mais crítico em relação ao número de acidentes. Esse trecho abrange as cidades de Ibiporã, Londrina, Cambé, Rolândia e Arapongas, que são cortadas pela rodovia.

Na sequência, aparecem os acidente envolvendo carros e, depois, caminhões. “Nessas regiões de perímetro urbano, acidentes envolvendo caminhões não são tão comuns, já na BR-376, em Mauá da Serra, é mais comum”, afirma a policial, justificando que é uma rota de escoamento de safra.

O trecho de 200 quilômetros acompanhado pela Delegacia da PRF de Londrina registrou uma queda no número de acidentes e mortes nos seis primeiros meses de 2023 se comparado ao mesmo período do ano passado: em 2022, foram 275 acidentes que resultaram na morte de 14 pessoas; em 2023, foram 258 acidentes e 9 mortes. “O objetivo da PRE é diminuir o número de acidentes, já que isso diminui as mortes”, explica.

Segundo ela, nos pontos em que há o maior número de acidentes e em feriados prolongados, é feito um aumento no trabalho de fiscalização, assim como destaca a importância de ações de educação no trânsito.

Major aposentado da Polícia Militar, Sérgio Dalbem ressalta que, principalmente em regiões de perímetro urbano, como o trecho da BR-396 entre as cidades de Ibiporã e Arapongas, a qualquer momento o motorista pode se deparar com pessoas ou animais. Ele afirma que, ao entrar em um carro, “muitas pessoas se acham poderosas e esquecem do mundo que existe fora do veículo”.

“Quando você senta atrás do volante do carro ou do guidão da motocicleta, você tem que respeitar a sinalização e saber que aquilo tudo é para te orientar e dizer os perigos que existem à frente e os perigos de andar acima de determinada velocidade”, destaca.

Ressaltando que a maior parte dos acidentes acontece por descuido, seja do motorista ou de um pedestre, também é responsabilidade do poder público agir para minimizar os riscos, por meio, por exemplo, de campanhas permanentes de educação no trânsito.

“O mesmo código (de Trânsito Brasileiro (CTB)) que pune os motoristas obriga o poder público a fazer campanhas. Você tem que estar sempre lembrando o cidadão de que ele está dirigindo, porque todo mundo se preocupa com as suas obrigações e esquece do trânsito”, afirma, dizendo que não basta fazer campanhas apenas em datas como o Maio Amarelo e Semana de Trânsito.

Funcionária de uma empresa que faz bancos de couro, Vanderleia Robusti precisa passar pela BR-369, em Cambé, todos os dias para chegar ao trabalho. Nos horários de pico, por volta das 7h da manhã e após às 17h, quando vai e volta do trabalho, ela conta que o que mais vê são motoristas desrespeitando a sinalização: “a pressa e a correria são os principais problemas”.

Dona de uma motocicleta e de um carro, ela conta que costuma optar pelo primeiro por conta da economia, mas já deixou de ir de moto pelo medo de sofrer um acidente. “Essa semana eu vi um homem furando o sinal [vermelho] e quase batendo em outro [veículo]”, conta. Segundo ela, os motoristas precisam lembrar que atrás do volante há uma vida: “é preciso ter mais amor e se preocupar mais com o próximo”.

A principal reclamação de Joel Rodrigues, mototaxista há oito anos, é em relação aos motoristas que não sinalizam antes de fazer uma mudança de pista: “A seta serve para mostrar a intenção de virar, não para fazer isso de imediato. Tem alguns [motoristas] que entram na frente da gente”, critica. Ele aponta ainda que vê muitos condutores de carro utilizando o celular enquanto dirigem, o que atrapalha o trânsito. “Ficam indo e vindo com o carro de um lado para o outro, parecendo que estão dançando, e a gente nunca sabe o que fazer.”

Rafael Santini é conferente de logística em uma empresa de tintas, na Região Metropolitana de Londrina (RML). Trafegando pela BR-369, ele conta que os motoristas precisam ter mais atenção ao trânsito, principalmente aqueles que sempre parecem estar com pressa ou distraídos no celular. “Eles [demais motoristas] não respeitam a gente que pilota motocicleta só porque estão com um veículo maior. Isso é algo que dificulta para a gente”, afirma.