Bombeiros voltaram à cadeia para limpar o lugar
Bombeiros voltaram à cadeia para limpar o lugar | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

A manhã de terça-feira (18) foi de intensa movimentação na cadeia de Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina). Na noite anterior, um incêndio foi registrado na carceragem. Seis detentos morreram. Outros inalaram fumaça, foram atendidos pelo Siate (Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência), no entanto, não houve necessidade de internamento. Com capacidade para 35 pessoas, o local abrigava 137.

O Corpo de Bombeiros controlou as chamas em uma operação que só terminou na madrugada desta terça. De acordo com o perito José Denilson Santos, a suspeita é de que os detentos tenham sido mortos antes das chamas terem sido geradas. "Vimos muitas lesões na cabeça, possivelmente provocadas por barras de ferro. A carbonização foi parcial. A maioria acabou sendo intoxicada pela fumaça", relatou.

A corporação retornou à unidade durante a manhã para limpar o lugar e resfriar paredes, retirando a fuligem. Durante o serviço, os presos foram mantidos no pátio, que precisou receber uma lona, por conta da chuva. Uma avaliação inicial apontou que a estrutura não foi comprometida, entretanto, uma nova vistoria deverá ser solicitada ao Paraná Edificações, órgão do Governo do Estado.

BRIGA

A Polícia Civil de Ibiporã irá abrir uma investigação para apurar as causas do fogo, mas o delegado Vitor Dutra afirmou que a possibilidade é de que uma briga entre gangues rivais tenha acontecido, com colchões sendo incendiados logo em seguida. “Se não tivéssemos atuado e chegado rápido, a situação seria muito mais grave. Abrimos uma das galerias para que outros presos não morressem intoxicados. Vamos instaurar um inquérito para tentar identificar os responsáveis. Acreditamos que o fogo começou em colchões e depois se alastrou", disse Dutra.

O delegado ainda garantiu que irá pedir a transferência de até 15 detentos. Já o Depen (Departamento Penitenciário do Estado do Paraná) apontou 25 deslocamentos para outros locais. “Vamos fazer a transferência para evitar uma situação pior. Só vamos colocar os presos de volta quando tivermos a segurança e a certeza de que vão ficar numa situação de menos superlotação.”

POLICIAMENTO

Durante a confusão, o SOE (Setor de Operação Especiais) foi chamado. Mais de 12 horas após as chamas terem sido controladas, viaturas da PM continuavam no entorno da cadeia. “Equipes da Polícia Militar de cidades da região ajudaram no isolamento. Durante esse período, permanecemos na área externa, mantendo os curiosos e familiares distantes", explicou o tenente Felipe Ciniciato, porta-voz do 5º Batalhão da Polícia Militar.

FAMÍLIAS

A notícia de que a carceragem estava sendo incendiada mobilizou parentes dos detentos. Com os ânimos exaltados, eles aguardavam por mais informações. A dona de casa Valéria dos Santos estava preocupada com o filho, de 20 anos, preso há um mês pelo crime de tráfico de drogas. “Fiquei desesperada, porque não falam para nós como estão os demais, não sei se meu filho está machucado. Essa situação não é de agora, faz 15 dias que está tendo problemas”, reclamou.

Familiares de detentos foram em busca de informações sobre o estado de saúde dos que sobreviveram
Familiares de detentos foram em busca de informações sobre o estado de saúde dos que sobreviveram | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

VIZINHOS

Quem vive no entorno convive com o medo e o receio do que pode ainda pode acontecer. A unidade fica próxima da região central do município. A comerciante Roseli Aparecida Ledo contou que policiais já chegaram a fazer buscas na sua casa depois de uma fuga, num episódio quando as duas filhas ainda eram pequenas, há cerca de 20 anos. Prova de que as dificuldades são antigas, transformando a cadeia de Ibiporã em uma “bomba relógio”.

“Cada vez que tem rebelião e outros problemas ficamos com medo e tristes, porque não queremos o mal de ninguém. Em pleno centro de Ibiporã uma situação dessa é difícil. Moro aqui há 26 anos e sempre teve essa situação e a cada ano que passa a cadeia vai enchendo mais. O Brasil gera tanto dinheiro, os governantes deveriam oferecer um lugar justo para essas pessoas se recuperarem”, desabafou. “Já teve história de vizinha estar tirando roupa do varal, bandido fugir e ela dar de cara com ele no quintal”, acrescentou.

HISTÓRICO

A tragédia aconteceu quase uma semana depois da Sesp (Secretaria Estadual de Segurança Pública) assinar um convênio com a prefeitura da cidade para transferir a sede administrativa da delegacia. Atualmente, a gestão da carceragem é compartilhada entre a Polícia Civil e o Depen. Apesar do anúncio, ainda não existe prazo para a alteração. O novo espaço que a delegacia irá ocupar fica na avenida dos Estudantes, perto do Hospital Cristo Rei. O Estado vai arcar com os outros custos, como internet, luz e água.

Há duas semanas, 16 detentos fugiram. Apenas três foram capturados. No dia 12 de agosto, o delegado Vitor Dutra chegou a pedir à juíza criminal de Ibiporã, Camila Covolo de Carvalho, por meio de ofício, a transferência de presos condenados e daqueles com direito ao benefício do regime aberto ou semiaberto.

“Se o Depen assumir vai facilitar o nosso trabalho, que é de investigar e atender a população vítima de crimes. Com a carceragem aqui, diminui muito nossa possibilidade de prestar um atendimento para as pessoas. Ficamos quase que exclusivamente cuidando dos problemas da carceragem”, reconheceu.

Atualizada às 12h40