Presidente austríaco adia aprovação de governo com Haider
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quarta-feira, 02 de fevereiro de 2000
Viena, 02 (AE-AP) - O presidente austríaco, Thomas Klestil, adiou de hoje (02) para amanhã sua decisão sobre a formação do novo governo, mas já indicou que aprovará a coalizão entre os conservadores de Wolfgang Schuessel e os ultradireitistas de Joerg Haider, apesar da intensa pressão externa contra essa aliança.
"Se eu empossar este governo, não farei isso por convicção pessoal, porque temo que a áustria vá sofrer internacionalmente", afirmou Klestil à revista News. Mas acrescentou: "Numa democracia, uma maioria parlamentar tem de ser respeitada. As preferências pessoais não contam."
Klestil exigiu, entretanto, que os líderes da coalizão assinem um documento comprometendo-se a respeitar a democracia. Segundo um porta-voz presidencial, Haider e Schuessel vão reunir-se amanhã com Klestil para assinar a chamada Declaração de Valores da Democracia Européia. Acredita-se que o novo governo vá ser aprovado oficialmente logo depois.
Nas eleições de outubro, o Partido da Liberdade, de Haider, e o Partido Popular, de Schuessel, ganharam, cada um, 52 das 183 cadeiras do Parlamento. Ambos fecharam terça-feira um acordo de coalizão para substituir o minoritário governo demissionário do chanceler social-democrata Viktor Klima.
Segundo a agência austríaca APA, pelo acordo, o novo governo seria chefiado por Schuessel, cuja agremiação ficaria também com as pastas Relações Exteriores, Interior, Economia, Agricultura e Educação. Já o Partido da Liberdade comandaria os Ministérios das Finanças, Defesa, Justiça e Infra-Estrutura. Cada partido teria também duas secretarias de Estado.
Haider e Schuessel já se reuniram hoje com Klestil - para apresentar-lhe seu programa de governo. Haider saiu otimista do encontro e assinalou que o presidente não pode negar-se a dar um mandato a dois partidos que controlam amplamente o Parlamento. "A reunião foi muito construtiva", afirmou, acrescentando que Klestil gostou do programa, embora tenha pedido que sejam feitos vários "ajustes aceitáveis".
Tanto na entrada como na saída da reunião, Haider e Schuessel foram alvo de irados protestos de centenas de pessoas. Para o líder do Partido da Liberdade, a multidão dirigiu gritos de "porco nazista" e "fascista". Já Schuessel foi chamado de "Judas". Mais tarde, mais de 10 mil pessoas saíram às de Viena em protesto contra a perspectiva de retorno da ultradireita ao poder no país em que nasceu Adolf Hitler. "Não a uma coalizão com racistas", dizia uma faixa levada pelos manifestantes. "Haider e Schuessel estão transformando a áustria num estado pária e queremos mostrar nosso desgosto com isso", disse um professor de segundo grau.
A União Européia e os EUA repetiram hoje as ameaças de isolar politicamente a áustria. Portugal, que preside a UE e tem sido a voz dos 14 parceiros de Viena na comunidade, advertiu que não importa qual seja o programa do futuro governo, pois só o fato de ele incluir o partido de Haider é o bastante para provocar a ira européia. "Se Haider e seu partido forem admitidos no governo austríaco, o país não pertencerá àquela família européia que se guia pela tolerância, pelos direitos humanos e pela luta contra a xenofobia", afirmou o primeiro-ministro português, Antonio Guterres.
A Bélgica instruiu hoje seus diplomatas a "adotar com rigor" as medidas acertadas pelos 14 colegas austríacos na UE caso seja formado um governo com o Partido da Liberdade. Entre essas medidas está o corte dos contatos oficiais bilaterais com a áustria. O chanceler francês, Hubert Védrine, ressaltou que Paris "terá de reduzir as relações bilaterais ao mais baixo nível". O primeiro- ministro alemão, Joschka Fischer, disse temer que Haider acabe, no futuro, assumindo o governo e insuflando uma perigosa onda de nacionalismo pela Europa: "A estratégia de Haider é clara", afirmou. "Ele quer ser chanceler."
O governo israelense reiterou hoje que retirará seu embaixador da áustria se o Partido da Liberdade integrar o futuro governo. "A inclusão de um partido de extrema direita no governo de um país europeu como a áustria deve ultrajar cada cidadão do mundo livre", afirmou o primeiro-ministro israelense, Ehud Barak.

