O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que, ‘‘se for necessário’’, usará o Exército para reprimir ações violentas de grupos organizados, como a desocupação de prédios públicos e a liberação de estradas bloqueadas por caminhoneiros. A afirmação foi feita pouco depois de ele discursar no Palácio do Planalto e, em tom grave, afirmar que ‘‘não hesitará em usar todos os poderes constitucionais de que dispõe e que foram dados (a ele) pelo povo para manter a ordem democrática’’
Ainda no discurso, FHC fez referência à democracia e à necessidade de responsabilidades: ‘‘Exige portanto que a liberdade de uns não interfira na liberdade de terceiros. Faremos cumprir a determinação do povo, que está escrita na Constituição, com prudência e com moderação, mas com firmeza’’.
No Paraná, o governo do Paraná descartou ontem a hipótese de suspender, temporariamente, a cobrança de pedágio nas estradas do Anel de Integração. É que o Ministério dos Transportes cancelou a cobrança da tarifa nas rodovias federais até o próximo dia 11, quando começa a vigorar o vale-pedágio. A medida não se enquadra ao Paraná. Segundo o secretário dos Trasnportes Heinz Herwig, o Estado não tem a mínima condição de custear o pedágio durante esse período.
Já o presidente da Associação Paranaense do Movimento União Brasil Caminhoneiro, André Felisberto, desqualificou as ‘‘supostas lideranças’’ que reuiram-se anteontem com o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha. Segundo a coordenação estadual do movimento, entre 80% e 90% dos caminhoneiros estão participando da mobilização. Ontem os caminhoneiros fizeram uma nova carreata por um trecho de 20 quilômetros da BR-116. Assim como das outras vezes, o protesto foi acompanhado pela Polícia Rodoviária Federal e contou com a participação de aproximadamente 100 caminhões.
Em Ponta Grossa, os motoristas que sustentam os piquetes tentaram, ontem pela manhã, estacionar alguns caminhões no acostamento da BR-376. A iniciativa foi reprimida pela Polícia Rodoviária Estadual, que ameaçou multá-los.
Em Londrina, no bloqueio montado pelo movimento no trevo da BR-369 e PR-445, o motorista Luiz Carlos Sarturi, que veio de Umuarama para carregar o caminhão com hortifrutigranjeiros na Centrais de Abastecimento Paraná S.A. (Ceasa), foi retido pelos manifestantes, apesar de ter sido anunciado que caminhões com cargas perecíveis seriam liberados. ‘‘Eu apóio a greve. Ano passado, fiquei sete dias parado. Posso aguardar o tempo que for preciso, o problema são as verduras’’, disse.
À tarde, um grupo de grevistas parou à força um carreta carregada com gás de cozinha. Outra confusão começou por volta das 18 horas depois que o motorista de um ônibus de carga furou o bloqueio e tentou acertar um murro em um grevista, que subiu na lateral da cabine.
Em São Miguel do Iguaçu, cerca de 150 caminhões estavam parados ontem no Distrito Industrial de São Miguel do Iguaçu (45 km a nordeste de Foz do Iguaçu), no km 90 da BR-277. Não foi registrado conflito no local.
Participaram Betânia Rodrigues e Lino Ramos (Londrina), Giovani Ferreira (Curitiba) e Guilherme Gouveia (Foz do Iguaçu).