SANTOS, CARAGUATATUBA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Prefeitos do litoral de São Paulo tentam adotar medidas com o governo estadual, como barreiras nas entradas dos municípios, para conter uma possível invasão de turistas durante o megaferiado na cidade de São Paulo, que se iniciará nesta quarta-feira (20), com duração de seis dias. A decisão pelo feriado é uma estratégia da prefeitura e governo estadual para frear a disseminação do novo coronavírus.

Com altas temperaturas, a expectativa das prefeituras é de que a região tenha aumento de visitantes, mesmo com hotéis, pousadas e restaurantes fechados. Desde o início da pandemia, na prática a região já vem recebendo turistas e veranistas que vêm desrespeitando a quarentena decretada pelo governo do estado, especialmente quem possui residência na região.

Em reunião nesta terça-feira, prefeitos das nove cidades da Baixada Santista entraram em acordo com o governo estadual para promover bloqueios nos acessos às cidades. Os municípios pediram bloqueios nas estradas e pedágios, o que não foi aceito pelo governo estadual, de acordo com prefeituras ouvidas pela reportagem. A ajuda será baseada em demandas das prefeituras para bloqueios nas próprias entradas das cidades, com apoio da polícia militar baseado em orientação, segundo o estado.

"A polícia vai fazer a fiscalização regular que ela faz normalmente em momentos como esse, para ver documentação, alcoolemia, todas as questões regulares da polícia", disse o secretário de Logística e Transportes, João Octaviano Machado Neto, à reportagem. "A PM não vai fazer uma ação coercitiva e, sim, uma ação de conscientazação", acrescentou.

O secretário, assim como os prefeitos, reforça o pedido para que a população entenda o feriado como uma medida para conter a pandemia e não um período para viagens.

"Quarentena não é férias, as pessoas têm que ficar em casa. Entendemos que antecipar feriado iria estimular a vinda de turistas para região”, disse o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa (PSDB).

Barbosa é também presidente do Conselho de Desenvolvimento Metropolitano da Baixada Santista (Condesb) e teme o aumento de turistas no feriado que começa na quarta-feira (20) e termina na segunda (25).

“O estado está adotando medidas para antecipar feriados para esta semana, de seis dias consecutivos, e com isso as pessoas podem se locomover para cá. Essa é a nossa preocupação, que isso aumente a quantidade de pessoas e turistas aqui”, afirmou o prefeito.

O secretário de desenvolvimento regional do Estado, Marco Vinholi, afirmou que o governo oferecerá apoio que venha a ser solicitado pelos prefeitos para implantação das barreiras de acesso e conscientização dos turistas.

“Nós dialogamos com as prefeituras da Baixada Santista, litoral norte e litoral sul e o estado irá apoiar as restrições que essas prefeituras estabelecerem no seu território. Esse é o caso também das estâncias turísticas e dos municípios de interesse turístico do Estado de São Paulo, que também trabalharão com controle no acesso às cidades”, disse o secretário.

Até o fim de semana, a Baixada Santista tinha mais de 3.800 casos do novo coronavírus, com 244 óbitos. A cidade de Santos, maior da região, tinha cerca de 80% de ocupação dos leitos de UTI.

O estado de São Paulo chegou a 65.995 casos confirmados e 5.147 óbitos nessa terça-feira (19).

No litoral norte, a proposta era de fechamento dos acessos a pelo menos três cidades da região —São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba. Em Ilhabela, um decreto municipal já proíbe o acesso pela balsa de turistas e veranistas, permitindo apenas a entrada de moradores, com comprovação de residência no arquipélago.

O plano dos municípios seria que o governo estadual criasse barreiras sanitárias na rodovia Manoel Hyppolito do Rego, a SP-55, que corta as três cidades.

Já o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), anunciou que pedirá na Justiça o bloqueio das duas entradas da cidade. O pedido seria protocolado ainda nesta terça.

"Caso a solicitação seja negada, vamos liberar geral e autorizar que os cerca de 500 ambulantes possam trabalhar nas praias, já que estarão lotadas mesmo. E o governo do estado será responsabilizado por mandar esse monte de gente para cá. Ninguém vai ficar preso seis dias em casa, com esse sol, na janela, olhando o Parque do Ibirapuera. É uma sacanagem pois vai prejudicar toda a região", disse ele em uma transmissão ao vivo nas redes sociais.

Augusto disse ser uma irresponsabilidade do governador João Doria decretar o megaferiado prologando. A crítica foi feita na segunda-feira (18), quando Doria ainda encaminhava projeto de lei à Assembleia Legislativa para votação da proposta. Os feriados de quarta e quinta foram aprovados pela Câmara Municipal de São Paulo, válidos, portanto, somente para a capital. A antecipação do feriado de 9 de Julho para segunda-feira deve ser votada nesta quinta na Assembleia.

"São Paulo está só pensando nela. Esse feriado não será bom para nossa cidade, pois provocará uma fuga em massa. Não é justo que todo um trabalho de dois meses feito para tentar conter o coronavírus seja jogado fora em seis dias", criticou o prefeito de Caraguatatuba, Aguilar Júnior. "Também não é justo que os moradores cumpram a quarentena e no fim de semana cheguem turistas para visitar a cidade. O turista sempre será bem vindo, mas o momento é de isolamento."

No início da noite desta terça (19), moradores de Barra do Una, praia em São Sebastião, bloquearam um trecho da rodovia Rio-Santos, utilizando madeiras e restos de construção.

Segundo os manifestantes, o bloqueio ocorreu para evitar a chegada de turistas à cidade. Apesar da tentativa de impedir a entrada de turistas para, segundo eles, evitar a propagação do coronavírus, a maioria não usava máscaras e estava aglomerada no acostamento. A ação durou cerca de 40 minutos.

Em Juquehy, outra praia da mesma região de São Sebastião, moradores também bloquearam totalmente a Rio-Santos e atearam fogo na pista.

Na cidade de Ubatuba, serão colocadas barreiras sanitárias nas divisas com Caraguatatuba e Paraty (RJ). Segundo a prefeitura, a ação conjunta entre órgãos municipais, com o apoio da Polícia Rodoviária Estadual, vai monitorar, orientar e conscientizar os turistas, com recomendação de retorno a seus municípios de origem.

O acesso será permitido apenas para veículos de emergência e de locomoção para atendimento médico, de transporte de abastecimento de suprimentos e de prestação de serviços essenciais que comprovem atividade comercial na cidade. A barreira, porém, serve para orientação, sem poder de barrar a passagem dos carros.