Presidente Prudente - Uma ação inusitada do prefeito de Presidente Prudente, a 580 quilômetros de São Paulo, Agripino Lima (PTB), interrompeu uma marcha de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) em direção à cidade: o prefeito construiu uma barreira com pás-carregadeiras e motoniveladoras, além de uma barricada de pneus usados na altura do quilômetro 463 da Rodovia Assis Chateaubriand. O local fica a oito quilômetros de Prudente. Até o fim da tarde de hoje, cerca de mil famílias de sem-terra permaneciam acampadas no acostamento da estrada.
Os sem-terra eram comandados por José Rainha Júnior, uma das principais lideranças do movimento, e vinham em caravana iniciada anteontem em Presidente Bernardes, na região do Pontal do Paranapanema (SP). A caravana, chamada de Marcha Pela Paz, é um protesto contra a intensificação da violência na região, desde que Rainha foi ferido com um tiro nas costas, no dia 19 de janeiro.
Segundo o advogado do MST na região, Hamilton Belloto Henriques, o grupo pretendia ir ao prédio da Justiça Federal em Prudente para verificar o andamento de processos de desapropriação de terras no Pontal.
O comando da Polícia Militar tentou intermediar uma conversa entre Agripino e Rainha, mas não obteve sucesso. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, chegou a telefonar para Rainha. O líder do MST diz que quer entrar com a marcha, mesmo que tenha de esperar vários dias.
De sua parte, o prefeito Agripino diz que não vai desistir. Ele afirma que não aceita ‘‘baderna’’. ‘‘O MST não tem motivo nenhum para fazer manifesto em Prudente, a não ser político. A questão da reforma agrária é dos governos estadual e federal. Então, por que fazer manifesto em Prudente?’’.
Rainha se diz indignado com Agripino Lima: ‘‘Ele se acha acima das leis e do presidente da República ’’. Agripino Lima qualifica Rainha como ‘‘cangaceiro’’. Diz que o chefe sem-terra nunca trabalhou e que não quer trabalhar. ‘‘Se quisesse, estaria estimulando a produção nos assentamentos do Pontal’’.
Até o final da tarde estava estabelecido o impasse, sem qualquer conversação e nem medida judicial, como o habeas-corpus preventivo que pretendia o MST. O presidente do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), Jonas Villas-Boas chegou à tarde a Prudente. Ele ficou na sede do órgão na cidade por mais de três horas e no fim da tarde se dispôs a ir ao local de conflito, para tentar promover entendimentos entre as partes.