A opinião de quem convive com a realidade de cerca de 450 alunos em Londrina oriundos de famílias de baixa renda e que atravessaram o percurso escolar na rede pública de ensino é de que argumentos “simplistas” que buscam justificar a manutenção do Enem neste ano não dão conta de contornar o problema já gerado pela pandemia no desenvolvimento escolar. Para a professora de Língua Portuguesa do ensino médio e coordenadora geral do curso pré-vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Rita de Cássia Oliveira, cogitar uma redução na nota de corte do exame ou justificar que o adiamento provocaria um “efeito dominó” ainda mais grave, por exemplo, para o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), não seriam suficientes uma vez que a queda no rendimento escolar de uma parcela grande de estudantes agora também trará reflexos nos primeiros semestres da graduação.

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. | Foto: Anderson Coelho/Grupo Folha

“Nós já não temos universidades no País que os alunos possam ingressar pelo Sisu que estejam dando aulas, pelo menos não conheço. Então se você não tem as universidades funcionando, por que você vai acelerar esse processo? O ‘efeito dominó’ já está em curso”. Como vamos obrigar alunos a passarem por uma prova mesmo sem terem a formação adequada", questionou.

Professora da rede pública e servidora da UEL há duas décadas, Oliveira também avaliou que a metade dos estudantes do “cursinho” não está conseguindo acompanhar o conteúdo, tanto pela falta de recursos ou problemas de conexão com a internet, quanto por estar experimentando uma realidade ainda mais dura e que envolve a redução da renda familiar e o desemprego. “Com isso o jovem está aumentando a sua carga horária de trabalho e até procurando um novo emprego”, ressaltou.

Em busca de promover "equidade" e diminuir o abismo de aprendizagem registrado entre os estudantes de baixa renda em comparação com os que pertencem às classes A e B desde 1996 em Londrina, o curso preparatório da UEL passou a contar com estagiários de psicologia e pedagogia que acabam colaborando até no processo de inscrição do Enem e na busca pela isenção da taxa de inscrição. "Pensamos no princípio da equidade e não estamos conseguindo cumprir isso", lamentou.