De acordo com estudo, trechos urbanos ou próximos às cidades são os pontos mais problemáticos
De acordo com estudo, trechos urbanos ou próximos às cidades são os pontos mais problemáticos | Foto: Gustavo Carneiro



O Paraná é o Estado brasileiro com maior número de pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais. Dos 2.487 pontos identificados no País, 299 estão em território paranaense. Os dados fazem parte do Mapear, estudo realizado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) em parceria com a Oscip Childhood Brasil, que foram divulgados nesta segunda-feira (14). O sétimo levantamento, que compreende o biênio de 2017/2018, aponta um aumento de 40% no número de pontos no Paraná na comparação com o estudo anterior, referente a 2013/2014. Há quatro anos, o Estado aparecia com 179 pontos, na terceira colocação nacional.
O Sul também está entre as três regiões do País onde foi registrado aumento no número de pontos de vulnerabilidade. A maior alta foi observada na Região Norte, que passou de 160 pontos em 2013/2014 para 404 pontos em 2017/2018, o que representa um acréscimo de 152%. Na sequência, vêm as regiões Nordeste (de 475 para 644) e Sul (de 448 para 575), com altas de 35% e 28%, respectivamente. O aumento se deu, principalmente, nos pontos classificados como de média e baixa criticidade. Na Região Sudeste houve uma estabilização no número de pontos e leve redução na Região Centro-Oeste.

A PRF no Paraná justifica o aumento com o argumento de que a alta aconteceu em razão de um maior comprometimento da superintendência regional. "O que ocorreu no Paraná ocorreu em outros 17 Estados e se deu pelo maior engajamento das superintendências regionais em mapear, de forma mais eficiente, os pontos informados no relatório", afirmou. A corporação destacou ainda que o aumento foi observado nos pontos avaliados como de média e baixa criticidade.

As rodovias federais que cortam o Paraná e nas quais estão os pontos de vulnerabilidade detectados não foram informadas pela PRF sob a alegação de que é necessário evitar um alerta aos infratores e também um "ranking discriminatório entre as regiões, possibilitando o direcionamento das ações para a união de esforços da rede de proteção".

Imagem ilustrativa da imagem PR lidera ranking de exploração sexual infantil em rodovias



BRASIL
No Brasil, 489 pontos foram classificados como críticos, 653 foram considerados de alto risco, 776 de médio risco e 569 de risco baixo, totalizando 2.487 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes. O número final representa alta de 20% na comparação com o biênio 2013/2014, mas segundo a PRF e a Childhood Brasil, houve queda significativa dos pontos críticos, onde é maior a possibilidade de ocorrência de exploração sexual de crianças e adolescentes. Do biênio anterior para este, foram computados 77 pontos a menos, uma redução de aproximadamente 14%. Na comparação com o biênio de 2009/2010, a redução é ainda maior, com queda de 435 pontos ou 47%.
No quesito "pontos críticos", o Ceará aparece em primeiro lugar. No biênio 2013/2014 o Estado tinha 14 pontos críticos e não figurava entre os dez primeiros. Agora, são 81 pontos. Nesse ranking, o Paraná aparece na quinta colocação, com 29 pontos críticos.

A redução na quantidade de pontos críticos, no entanto, não pode ser analisada como uma diminuição do problema da exploração sexual. As ações de prevenção e repressão adotadas pela PRF contribuíram para a queda, mas observou-se também uma migração dos pontos, fora da área de atuação dos policiais rodoviários federais e das ações coercitivas. "Notamos que com a maior identificação e atuação nos pontos vulneráveis, aliando a repressão com campanhas preventivas e educativas incentivando o uso do Disque 100, houve a 'interiorização' dos ambientes suscetíveis à exploração que agora estão se instalando em rodovias estaduais e isso traz uma urgência para a transferência da metodologia do Mapear às Polícias Rodoviárias dos Estados mais críticos", disse a gerente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil, Eva Dengler, por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa.

MULTIFATORIAL
O Mapear afirma que a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias é um fenômeno multifatorial e está relacionada ao consumo de drogas lícitas e ilícitas, à prostituição de adultos e à grande rotatividade nos pontos de parada. A publicação destaca que o conjunto dessas características favorece a ocorrência de diversas práticas ilícitas, entre elas a exploração sexual de crianças e adolescentes.
A publicação aponta também os fatores de influência na determinação de pontos de vulnerabilidade, que são a prostituição de adultos, a presença de caminhoneiros, o consumo de bebidas alcoólicas, a aglomeração ou estacionamento de veículos, a existência ou não de iluminação e a falta de vigilância. Segundo o levantamento, as áreas próximas a rodovias federais onde estão localizados postos de combustíveis, bares, casas de show, pontos de alimentação e de hospedagem são os locais mais vulneráveis.

Mapeamento é feito há 14 anos

O mapeamento dos pontos vulneráveis pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) começou em 2004, um ano depois de o governo federal definir como prioridade o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes. A partir de 2009, os pontos vulneráveis identificados passaram a ser classificados em quatro níveis: baixo risco, médio, alto e crítico.

De 2005 até hoje, a PRF retirou de locais de risco em rodovias e estradas federais um total de 4.766 crianças e adolescentes vulneráveis. As ações são planejadas e executadas de acordo com o grau de vulnerabilidade, que acaba determinando a forma e a urgência das respostas.
A parceria com a Childhood Brasil no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais começou em 2009, por meio do Programa Na Mão Certa. A Oscip, criada em 1999 pela rainha Silvia da Suécia, contribui com a PRF na articulação intersetorial (governo, empresas e sociedade civil), com a capacitação do efetivo policial e disponibilização de material didático e de comunicação para divulgação do trabalho de enfrentamento do problema.

Além da Childhood Brasil, o Mapear também conta com a parceria permanente da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério dos Direitos Humanos, Secretaria da Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Ministério Público do Trabalho.
O levantamento, ressalta a PRF, é um norteador de políticas públicas e privadas de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes. A corporação destaca ainda que qualquer cidadão que identificar uma situação suspeita pode denunciar pelo Disque 100 ou por meio do aplicativo Proteja Brasil.