A rodovia PR-445, uma das principais da região de Londrina, tem sido palco de inúmeros acidentes com mortos e feridos. Somente nos primeiros meses de 2023, 26 ocorrências foram registradas na via, com 32 pessoas feridas e sete mortes. O dado consta no levantamento realizado pela 2ª Companhia do Batalhão de Polícia Rodoviária, solicitado pela FOLHA.

Um desses casos ocorreu na noite da última quinta-feira (9), quando um pedestre foi atropelado por dois veículos no Km 59,1. Os motoristas da Fiat/Strada e do Ford/Fiesta envolvidos no atropelamento não se feriram.

O levantamento aponta que em 2022 houve registro de 108 acidentes na rodovia, com 139 pessoas feridas e 16 mortas. A média de acidentes é semelhante à do ano de 2021, quando foram 111 ocorrências, 135 feridos e 15 óbitos. Em 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19, há registro de 99 acidentes, 126 feridos e 15 mortes.

O capitão Glauco Andrade de Oliveira, comandante da 2ª Cia, explica que a PR-445 é responsável pelo fluxo de veículos da Região Metropolitana de Londrina e de diversas cidades da região. Estatisticamente, a probabilidade de acidentes é maior no trecho.

“No último final de semana, tivemos vários acidentes, inclusive com incidência de colisão traseira decorrente de um primeiro acidente, bem como acidente classificado como complexo [quando envolve vários veículos]”, diz o comandante, pontuando que esses acidentes ocorrem por fatores como freadas bruscas do veículo da frente; desrespeito à distância de segurança; problemas mecânicos e falta de atenção no trânsito. “Vale ressaltar que, conforme estatística realizada, os principais acidentes do perímetro urbano de Londrina são colisão traseira e acidente complexo.”

Os casos citados por Glauco foram registrados no dia 4 de março, entre os quilômetros 76 e 77 da PR-445, próximo à UEL (Universidade Estadual de Londrina). Dois motociclistas faleceram.

O trabalho de fiscalização da PRE (Polícia Rodoviária Estadual) inclui a Operação Radar, a Operação Patrulhamento na Rodovia e a Operação PB, em que a viatura permanece em um ponto específico realizando abordagens, fiscalizando documentações, conservação de veículos e aplicando o etilômetro - o “teste do bafômetro”.

“Ao visualizar o trânsito lento, o motorista, mais do que nunca, deve aumentar a atenção no trânsito. Muitas vezes, observamos, inclusive autuamos, motoristas que aproveitam o trânsito lento para verificar mensagens ou falar ao celular, gerando, na maioria das vezes, colisões traseiras ou acidente complexo”, explica Glauco.

O levantamento da 2ª Cia aponta que, em 2020, foram 4.193 autuações na Operação Radar na PR-445. Em 2021, esse número subiu para 32.127; no ano passado, saltou para 43.182. Até o momento, em 2023, são 5.327 registros. “É fundamental que o motorista respeite a velocidade estipulada para a rodovia. Isso evita acidentes.”

A PRE realiza diversas ações voltadas ao trânsito seguro, evitando acidentes, feridos e vítimas fatais. A avaliação de Glauco é que esse trabalho é aprimorado constantemente e traz resultados positivos, “haja vista que a quantidade de veículos no trânsito aumenta consideravelmente e o número de acidentes não cresce na mesma proporção”.

O comandante ressalta que a 2ª Cia irá intensificar as ações de fiscalização no período noturno e propor alterações nas sinalizações da PR-445 para o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) para melhorar a prevenção nos pontos de maior índice de ocorrências. “Até porque quem faz e elabora projetos viários é apenas o DER.”

MOBILIZAÇÃO

Em Londrina, a Associação Mobilidade Ativa atua desde 2020 na divulgação da cultura da mobilidade ativa e da ciclomobilidade, buscando a preservação do meio ambiente, o incentivo a políticas públicas e o fomento ao cicloturismo. Hoje, a entidade tem cadeira no Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial de Londrina.

Na avaliação do engenheiro de transportes e membro da associação, Conrado Zagabria, a velocidade é a principal causa de acidentes de trânsito e o fator decisivo em fatalidades. “Em rodovias como a PR-445, onde redesenhar a via não é uma opção, a fiscalização ativa deve ser implementada para evitar colisões. Radares fixos em diferentes pontos, assim como câmeras de segurança devem ser implementados”, afirma Conrado, pontuando que a infraestrutura para pedestres é escassa e inexistente para ciclistas ao longo das rodovias.

“Deveriam ter mais passarelas e priorizar a segurança do pedestre nos acessos às passarelas, além de implantar ciclovias em todo o percurso das marginais”, acrescenta.

A arquiteta e urbanista Camila Oliveira, que também faz parte da Mobilidade Ativa, afirma que é necessário “escolher o pedestre como prioridade”. Hoje, para a profissional, isso ocorre com o carro, de modo que “as estruturas destinadas a modais não motorizados focam mais em garantir a livre circulação dos veículos do que a eficiência e conforto no trajeto de quem caminha ou pedala”.

“No caso das rodovias, por exemplo, o uso das passarelas está ligado a fatores que favoreçam o seu uso. É importante haver a opção de atravessar em diversos pontos ao longo da rodovia, e que elas estejam bem localizadas, próximas a pontos de ônibus, mercados, universidades, indústrias etc.”, destaca.

Nas rodovias PR-445 e BR-369, que passam por áreas urbanas de Londrina e Cambé, Camila aponta que são poucas as áreas de travessia, o que obriga pedestres e ciclistas a percorrerem longos trechos para alcançá-las. “A manutenção das passarelas também é fator importante para atrair pedestres e ciclistas. Devem estar bem conservadas, iluminadas, limpas”, afirma.

Apesar de isso parecer gerar um custo alto, continua Camila, os recursos usados em infraestrutura rodoviária “são infinitamente maiores e nunca questionados”. “Pelo contrário, são vistos como investimento. Pois, defendemos que também deve haver não apenas investimento, mas priorização de modais mais sustentáveis.”

SEGURANÇA NAS RUAS

De acordo com o coordenador da associação, Luiz Afonso Giglio, são três os pilares para a segurança viária: educação, fiscalização e engenharia. No seu ponto de vista, Londrina há muito tempo realiza apenas ações de conscientização, focando na educação de pedestres.

“As ações de fiscalização têm crescido com o aumento de radares na cidade, o que é muito positivo. A CMTU [Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina] relatou uma diminuição de quase 10% nas fatalidades de acidentes de trânsito após um aumento expressivo no número de multas distribuídas, confirmando sua efetividade”, afirma, destacando que o município ainda peca na questão da engenharia. “Nossas ruas e avenidas são largas, não existem obstáculos físicos para impedir os motoristas de acelerar além do permitido, ainda que o permitido já seja alto.”

Luiz diz que as ações de segurança viária focam no pedestre, como é o caso do Pé na Faixa, e que a implementação de travessias elevadas foi uma ação eficaz realizada em Londrina. “Se quisermos implementar ações concretas para um trânsito com zero mortes precisamos primeiramente diminuir a velocidade dos veículos motorizados, e a ação mais efetiva é através de um redesenho viário: estreitamento de vias, alongamento de esquinas, encurtamento de faixas de pedestre, são alguns exemplos”, opina Luiz.

O comandante da 2ª Cia ressalta que o DER e a PRE mantêm, há anos, o projeto Escola Prática de Educação no Trânsito, que traz a educação para uma direção mais segura. São feitas atividades com crianças, apresentando noções de como proceder em uma via - como atravessar na faixa de pedestre, atentar para o sinal vermelho, etc. “É comum empresas da região solicitarem palestras direcionadas aos seus funcionários, visando garantir a segurança desses para uma direção mais segura”, finaliza.

****

Receba nossas notícias direto no seu celular, envie, também, suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1