Pensar em alternativas ao tradicional modelo de negócio do jornalismo sustentado pela propaganda é uma das principais preocupações em todo o mundo por empresas de mídia, governos e academia. Tendo em vista que o assunto é de interesse público, haja vista a relevância dele para a democracia, por exemplo, a busca por soluções requer um cuidado especial.

Imagem ilustrativa da imagem Por que o crowdfunding não decola no Brasil
| Foto: Reprodução

Já detalhei aqui nesta coluna a proposta da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) de taxar empresas de tecnologia como Google e Facebook. Hoje quero tratar de uma proposição que está dando resultado pelo mundo, mas ainda é incipiente no Brasil.

Trata-se do crowdfunding. Conhecido como “vaquinha virtual”, a técnica de monetização consiste em angariar recursos para determinado projeto/ideia por meio de uma plataforma na internet na qual pessoas realizam doações.

Seu uso vai muito além do jornalismo, que vislumbrou nessa técnica uma inovação no modelo de negócio (publiquei artigo sobre esse assunto). Malgrado esteja regulamentado desde 2017 e tenha ampla aplicabilidade, o crowdfunding continua muito atrelado a organizações sem fins lucrativos no Brasil, ao contrário do que ocorre em diversos países pelo mundo.

Em terras nacionais, o modelo de negócio baseado em doações é usado notadamente por entidades como Agência Pública. Algumas grandes empresas de mídia brasileiras aderiram a uma prática constante na Inglaterra e nos Estados Unidos nos quais grandes empresas do setor, como The Guardian e New York Times, pedem doações a seus leitores.

O sucesso dessa prática, contudo, é reduzido. Não só porque o brasileiro tem baixa propensão a pagar por notícias, como já demonstrado em relatórios da Reuters, como também porque há a visão de que crowdfunding é mais adequado para a mídia alternativa, isto é, que não está ligada a famílias de empresários e tampouco busca o lucro.

Além da questão cultural, outro fator que dificulta a inovação no modelo de negócio do jornalismo baseado em crowdfunding são aspectos legais. No caso do setor de radiodifusão, isto é, empresas de TV aberta e rádio, o arcabouço legal do setor impede formas de monetização diferentes da propaganda.

Certamente por serem concessões públicas, essas empresas enfrentam certas limitações. Todavia, nada as impede, por exemplo, de criarem spin off’s (novas empresas) para explorar novas fontes de receita.

Sobretudo para negócios de nicho, nos quais público e abrangência sejam restritos, o crowdfunding pode ser uma boa alternativa, notadamente iniciativas regionais, ligadas a certas regiões do país com seus interesses e peculiaridades.

Pense, por exemplo, numa cidade cuja vocação econômica seja a agroindústria. Por que não criar uma spin off para produzir conteúdos jornalísticos em formato multimídia sobre o agro por meio de doações? Também é de se questionar por que raríssimas startups com fins lucrativos dediquem-se ao crowdfunding no Brasil, mesmo a partir do exemplo bem sucedido de Huff Post, Buzzfedd e Vice nos Estados Unidos. Por aqui as poucas iniciativas direcionam o modelo de negócio para assinaturas e não obtêm sucesso como lá fora. Por quê? isso é assunto para novas colunas ;)

*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de “Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina