A concentração de carros na manhã de domingo chamou a atenção de moradores do Jardim Presidente. Com o objetivo de apelar para que o governo estadual não exija o fechamento do comércio de Londrina, profissionais de diferentes áreas de atuação se organizaram num ato pró-comércio. O ponto de encontro foi a avenida Castelo Branco, altura do número 180 - mas que ficou pequena para o número carros. Ruas como Dom Pedro II também foram ocupadas e o buzinaço fez cidadãos saírem às janelas em apoio ao movimento. O trajeto seguiu pela avenida Maringá, depois avenida Ayrton Senna, passou pela Madre Leonia Milito, movimentou toda a avenida Higienópolis e também trafegou pela rua Quintino Bocaiúva, avenida Rio Branco e chegou até a avenida Saul Elkind, na região Norte.
Imagem ilustrativa da imagem Manifestantes se reúnem em ato contra fechamento do comércio de Londrina
| Foto: Isaac Fontana/Framephoto/Folhapress
O comerciante Rodrigo Casagrande, 40 anos, atua no ramo de papelaria e afirma que a união é por todos. "Recebemos o decreto do governador como algo ilógico porque os números mostram que não existe real motivo para esse novo fechamento". Casagrande está integrado a um grupo de WhatsApp que inclui mais de mil participantes. "Londrina é uma cidade que vive da prestação de serviços e do comércio, a população está consciente, tomando os cuidados e sabemos que esse possível fechamento também afeta a arrecadação municipal", alerta.
O representante de móveis para escritório, Leonardo Roger Santana, 45 anos, trata o ato como um gesto de comoção. "De modo pacífico, queremos que o prefeito não ceda ao lockdown. Isso é descabido e há cidades em condições piores e que não foram ameaçadas", argumenta. O empresário Marcos Granado, 50 anos, também esteve presente ao ato. Sente na pele e no bolso os reflexos da pandemia e teme pelo fechamento que pode ser feito novamente. Granado é do ramo de hotelaria e motéis e confessa que tem sofrido muito. "Estamos aqui pela preservação dos empregos. A cidade está sem eventos, o turismo de negócios está estagnado, mas em contrapartida os boletos, a folha de pagamento e os encargos não param", expõe.
Pontos de vista, fatos e argumentos a favor do comércio
A empresária Patricia Tófano, 43 anos, reflete: "Analise os números de óbitos registrados em cartório e veja que em 2018 morreram mais pessoas que agora, sabendo que ainda muitos receberam a causa "covid" sem confirmação.Os números provam que é uma manipulação política. Chegamos ao ponto da irresponsabilidade de o governo, que sem levar em conta e avaliar com "sanidade" a consequência catastrófica para as famílias e empresas londrinenses de um novo fechamento do comércio, mais uma vez antecedendo a datas "comemorativas". Tófano relata que a construtora do marido tem 50 funcionários. "Devido aos fechamentos, os clientes pararam as obras, cancelaram outras e o saldo de tudo isso são 45 desempregados", enumera. De seu ponto de vista, quem mais sofre são pequenos e médios empresários que não sobreviverão a mais um fechamento. "Triste irresponsabilidade", desabafa.
Com duas carteiras de trabalho preenchidas no ramo da construção civil, o pedreiro e azulejista Aparecido Mariano Garcia, 61 anos, diz que há três teve que se reinventar e comercializa sucata. "Trabalhei para várias empreiteiras, ajudei a erguer muitos desses prédios da gleba, mas a idade avançada é um fator limitante. Agora carrego sucata para revender e vejo que algumas pessoas como servidores públicos - que possuem pagamento garantido todo mês, não pensam nos outros, e no que pode piorar.
Imagem ilustrativa da imagem Manifestantes se reúnem em ato contra fechamento do comércio de Londrina
| Foto: Walkiria Vieira
O autônomo Marcos Antônio Ferreira Delfino, 50 anos, atua como ambulante. É paraibano e vende tapetes, redes, casinhas de boneca e apoia o protesto na base da buzina. "Penso que vai prejudicar mais ainda. Eu pago aluguel e embora o governo liberou esse dinheirinho, já vai acabar. MInha esposa trabalha em uma faculdade como técnica de laboratório. Está há quatro meses em casa e sabe que muitos já foram dispensados. Fica em casa angustiada". conta.
O empresário Jairo Melo Costa, 40 anos, atua no ramo de confecções e se mostra preocupado. "Mais uma vez estamos passando esse dilema, essa dificuldade em relação à economia da nossa cidade. Sabemos que a pandemia está aí, presente ainda, mas conforme nossa prefeitura vem nos informando, Londrina está muito bem frente a muitas cidades do Brasil e não tem porquê a gente fechar novamente, né?". questiona.
Segundo o empresário, estudos recentes mostram que um comércio parado de 25 a 28 dias já pode ir à falência. "Já ficamos fechados 30 dias, a venda recomeçou muito abaixo e apesar dos horários reduzidos, fechamento aos sábados - que representa 30% das vendas, estávamos nos recuperando. Agora tomamos essa paulada de novo. Estamos na incerteza e estamos na expectativa da live do prefeito deste domingo. Se ele determinar pelo fechamento, vamos acatar. Com isso, pode ter certeza que haverá lojas fechando, comércios falindo. Eu caminho e observo o mercado. Vejo inúmeras lojas fechadas e pontos para locação. Com tudo isso, a carreata visa a importância da manutenção do comércio aberto. Nossa cidade depende do comércio e vai ao desastre total. Estamos na luta, com fé em Deus que tudo isso vai passar para que saúde das empresas também sejam restauradas. Precisamos desse fôlego, expõe.
Walkiria Vieira
E a saúde emocional como está?
A coach parental Juliana Flores é contra o fechamento do comércio. Mãe de Ana Clara, 10 anos e Isaac, de sete anos, ela compreende muito bem os riscos da Covid19. Isaac é portador de paralisia cerebral e encefalopatia necrotizante aguda (ANE). Trata-se de uma doença rara, são 200 casos em todo o mundo e no Brasil só há mais um caso além do Isaac. "Se ele tiver uma gripe, pode vir a óbito", esclarece. "Por outro lado, não entendo qual é a lógica de fechar, pois todos os pontos elencados no decreto não condizem com a realidade de Londrina. E vão deixar a Regional como Jacarezinho, Ivaiporã e Apucarana, que utilizam os leitos de Londrina em caso de lotação abertos. Maringá está com mais infectados do que Londrina, com uma velocidade de contágio mais alta e não vai fechar",questiona. Na opinião de Flores, a mesma medida não está sendo aplicada a todos os lugares.
E acrescenta: "No Paraná, maio fechou com 330 demissões, totalizando 1 milhão e 400 mil demissões no ano de 2020 desde o início do ano. Sei que esse vírus mata, tomamos todas as precauções e sabemos que as empresas que estão sendo fechadas agora e as pessoas que estão sendo demitidas, é um caso sem volta. Vai ter uma onda de fome, famílias passando necessidade, gente na miséria e já tem muita gente nessa condição. "Isso vai fazer com que aumente o número de doenças psicossomáticas, depressão, ansiedade, pânico, suicídio e até mesmo violência como assalto porque a população vai precisar de comida". Flores teme que entremos numa recessão nunca antes vista. "Nao vejo a necessidade do fechamento, mas vejo que existe muito mais política do que preocupação com a saúde da população. O prefeito Marcelo Belinati trouxe a estrutura certa para Londrina, levantou um aparato, nós nos equipamos e agora que estamos dentro dos parâmetros regidos, vem um decreto do governador", diverge. Flores também destaca a autonomia dos municípios. Isso não está certo", tem coisa errada, enfatiza.
Nutricionista Pamela Rodrigues: "Sem fontes de lazer externas, muitas pessoas estão errando ao encontrar prazer só na alimentação, mas de modo desequilibrado"
Nutricionista Pamela Rodrigues: "Sem fontes de lazer externas, muitas pessoas estão errando ao encontrar prazer só na alimentação, mas de modo desequilibrado" | Foto: Walkiria Vieira
A nutricionista Pamela Rodrigues, 37 anos, engrossou a carreata. Só tirou a máscara para a fotografia. "Não tem necessidade de fechamento, não tem lógica essa determinação", pensa. A nutricionista explica que precisou fechar o consultório para os atendimentos presenciais. "Mas passei a fazer à distância. Vejo que os pacientes estão ficando mais ansiosos, depressivos e recorrendo à alimentação como fonte de prazer", alerta. " Sem poder ir a um parque, a um shopping, as pessoas sentem que falta algo. Vejo que a decisão pelo fechamento é um tratamento pior que a própria doença", crê. "Contraditoriamente, embora as famílias estejam mais em casa, e com mais tempo, estão aderindo a comidas práticas, fast-foods e os pais estão cedendo também por conta de toda essa situação. Basta olhar os serviços de delivery e as filas em drive-thru", expõe a nutricionista.